Renovação fará de Sérgio Conceição o técnico com mais anos na era Pinto da Costa
"Espero não ter outro treinador enquanto for presidente do FC Porto". O desabafo de Pinto da Costa foi feito em 2019 depois de um arrufo entre Sérgio Conceição e Danilo (hoje no Paris SG) como demonstração de confiança ao treinador que chegou ao Dragão em 2017 e que está em vias de renovar até 2023 e tornar-se o técnico com mais anos de ligação ao clube na era Pinto da Costa.
O noticiado almoço de Pinto da Costa e com Luciano D'Onofrio, empresário belga com ligações ao clube e ao técnico, serviu para unir os pontos soltos de um acordo que se dizia fácil, mas que anda há dias a enrolar na comunicação social. O clube quer renovar com o treinador até junho de 2023 e até propõe um aumento do ordenado, mas Sérgio prefere reforços para a equipa e para a estrutura.
Depois de este ano chegar às meias-finais da Liga dos Campeões, quer mais investimento na equipa para lutar em todas as frentes e alimentar o sonho da terceira Champions portista.
A renovação fará dele o treinador com mais anos de ligação ao clube desde que Pinto da Costa foi eleito presidente em 1982. Desde então só um dos 22 técnicos anteriores ficou tanto tempo no banco do FC Porto: Jesualdo Ferreira de 2006 a 2010 (ver tabela). O atual treinador é um dos seis que conquistaram mais de um título, sendo que apenas seis técnicos (Del Neri, José Couceiro, Lopetegui, José Peseiro e Nuno Espírito Santo) deixaram o Dragão sem qualquer troféu.
O primeiro treinador de Pinto da Costa foi José Maria Pedroto, que orientou o clube de 1982 a 1984. Apesar de não ter sido campeão sob a presidência de Pinto da Costa, as técnicas revolucionárias do técnico deixaram saudades e ainda uma Taça de Portugal e uma Supertaça Cândido Oliveira. Seguiu-se Artur Jorge. O treinador que deu ao clube a primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus (1987, em Viena) teve duas passagens pelo clube (1984-87 e 1989-91) e deixou sete troféus no Museu. Além da "orelhuda", conquistou três campeonatos, uma Taça de Portugal e três Supertaças, antes de sair e deixar a Taça Intercontinental (atual Mundial de clubes) para Tomislav Ivic conquistar.
O jugoslavo foi o único a repetir a passagem pelo banco portista (1987-88 e 1993-94), para além de Artur Jorge, numa presidência marcada também pela aposta em Bobby Robson (1994-96), que iria depois para o Barcelona, em António Oliveira (bicampeão) e no engenheiro do penta, Fernando Santos, que chegou ao Dragão em 1998 e ficou até 2001, ficando ligado à inédita conquista de cinco campeonatos seguidos.
O atual selecionador nacional saiu passados três anos e deixou a equipa entregue a Otávio Machado, que fez a passagem de testemunho para José Mourinho meia época depois. O special one guiou a equipa à conquista de uma Taça UEFA, uma Liga dos Campeões, dois títulos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça em dois anos e meio (2002 a 2004).
Depois disso só um técnico ficou mais de dois anos de dragão ao peito. Depois de apostas falhadas em Del Neri, Victor Fernández (venceu a Intercontinental herdada de Mourinho) e José Couceiro, o título voltou a ser azul e branco com Co Adriaanse, que só ficou uma época e abriu portas ao técnico com mais anos no banco do FC Porto nos últimos 39 anos: Jesualdo Ferreira (2006- 2010), o único com três campeonatos, além de Artur Jorge.
Os anos seguintes foram de apostas únicas e quase singulares por entre apostas certeiras e outras nem tanto. Em 2010, o discípulo de José Mourinho, André Villas Boas, quis caminhar sozinho e Pinto da Costa deu-lhe a cadeira de sonho, recebendo em troca uma Liga Europa, um campeonato, uma Taça de Portugal e uma Supertaça em apenas uma época (2010-11). Depois mudou-se para o Chelsea a troco de 15 milhões de euros e assim permitiu a ascensão do adjunto Vítor Pereira, que ficou dois anos e foi bicampeão.
Paulo Fonseca, Luís Castro, Julen Lopetegui e José Peseiro não deixaram saudades nos adeptos. Já Nuno Espírito Santo, apesar de não ter sido campeão, revelou capacidades e mudou-se para o Wolverhampton, menos de um ano depois, abrindo espaço à chegada de Sérgio Conceição, que dava que falar no modesto Nantes em França.
O presidente do FC Porto aceitou pagar quase três milhões de euros para o libertar do contrato com o emblema francês. A empatia foi imediata e o ex-jogador devolveu ao clube o título nacional, impedindo na altura o Benfica de chegar ao penta. Com dois títulos em quatro anos o balanço do reinado de Sérgio Conceição é positivo, mas a última época foi desgastante a nível pessoal e coletivo e gerou-se a ideia de estar saturado e a precisar de novos desafios. Falou-se no Nápoles, Lazio e Al Sadd, mas nenhum dos projetos avançou.
Se Sérgio ficar no Dragão significa que os chamados três grandes mantêm os treinadores, algo que não é habitual nos últimos 40 anos. Há sempre um deles (seja FC Porto, Benfica ou Sporting) que muda o comandante do barco de uma época para a outra.
Desta vez esse cenário pode mudar, uma vez que Rúben Amorim confessou que fica no Sporting "venha a proposta que vier" e Luís Filipe Vieira garantiu que Jorge Jesus manterá o lugar no Benfica, apesar da temporada sem qualquer troféu conquistado.
O técnico portista é a par de Pepa - assinou pelo Tondela, em 2017 e é o novo técnico do Vit. Guimarães para a próxima época - o que leva mais anos seguidos na I Liga e pode assim prolongar o seu legado no futebol português.
O pontapé de bicicleta de Mehdi Taremi que deu a vitória ao FC Porto frente ao Chelsea (1-0) - mas que não evitou a eliminação dos dragões -, na segunda mão dos quartos de final da Liga dos Campeões, é um dos 10 candidatos a melhor golo da edição 2020-21 da prova. Já Sérgio Oliveira (e Rúben Dias do City) fazem parte do grupo de 23 melhores jogadores da Champions para os observadores da UEFA.
isaura.almeida@dn.pt