Reencontro com The The e desencontro com Julian Casablancas no último dia de Super Bock Super Rock

Os pais substituíram os filhos no último dia do festival, no Parque das Nações. Uma noite com The The, Benjamin Clementine e Julian Casablancas
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O último dia de Super Bock Super Rock foi assim como uma espécie de reencontro de velhos amigos, de gente que se conheceu e cresceu a ouvir aquela canção e que tantos anos depois ali estava, novamente, cara a cara com os seus ídolos

Não há como o esconder, a despedida da edição deste ano do festival ficou a saber a pouco. Nunca, desde que o Super Bock Super Rock se mudou para o Parque das Nações, em 2015, o recinto esteve tão despido, apesar de quem lá esteve, ontem, não ter dado o seu tempo por desperdiçado, muito pelo contrário. Em comparação com o dia anterior, era como se os pais tivessem substituído os filhos, na plateia e nos palcos. A deixa é perfeita para falar de Baxter Dury, que apesar de nunca ter tido o pai nestas andanças superrockianas não deixa de ser filho de um tal de Ian Dury, dos Blockheads.

Não eram assim tantas as pessoas defronte do palco EDP, por baixo da pala do Pavilhão de Portugal, mas quem lá estava sabia ao que ia, trauteando as canções do belo Prince of Tears, o último álbum em nome próprio de Baxter e porventura o trabalho que em definitivo o afasta da sombra do progenitor, essa maldição tão recorrente em "filhos de grandes artistas".

A exemplo do disco, Baxter conseguiu recriar em palco o mesmo ambiente, feito de linhas de baixo poderosas e teclados pungentes, que funcionam como o fundo sonoro perfeito para a sua voz grave, mais declamada e não tanto cantada, função por sua vez entregue às duas teclistas, que tantos suspiros provocaram na parte masculina de uma plateia maioritariamente composta por trintões e quarentões.

Quanto aos mais novos, muitos deles sem nunca alguma vez ter ouvido falar de Ian Dury (quanto mais de Baxter), iam tentando estabelecer paralelos com o que conheciam, surgindo amiúde referências a Blur ou Gorillaz. A imagem, ainda que caricatural, resume bem este último dia de festival, no qual, desde início, ficou bem patente a falta de um cabeça-de-cartaz capaz de agregar toda a gente em frente a um palco. O mais próximo disso foi o concerto de Benjamin Clementine, cuja relação com o público português é daquelas que é um verdadeiro caso de estudo.

Benjamin Clementine com Ana Moura

A Altice Arena não esteve mais que meia, mas quando o músico inglês subiu ao palco parecia cheia, especialmente durante a interpretação de Nemesis, num crescendo construído a meias entre a erudita secção de cordas e uma acelerada guitarra elétrica com bateria. Depois veio Ana Moura, "a mais elegante, bonita e autêntica das vozes", como Benjamin Clementine a apresentou, para um dueto em I Won't Complain, que serviu de introdução a um final de concerto perfeito, concluído, olhos nos olhos com os fãs, ao som de um intenso Adios.

The The, quase cabeças de cartaz

Mais ou menos à mesma hora, subiam ao palco EDP os britânicos The The, cuja última presença por palcos portugueses datava já do ano 2000, em Paredes de Coura. Um festival também é isto, um reencontro de amigos: entre os que estão em palco e os que estão a ver, entre todos os que cresceram do som daquela música, a fazê-la ou a ouvi-la. Foi isso que ontem aconteceu com Matt Johnson e a sua trupe, que não mereciam a responsabilidade de um quase estatuto de cabeça-de-cartaz deste último dia, mesmo sabendo que quase toda aquela gente foi ali só para os ver - ali ou noutro sítio qualquer. Não ficará para a história do festival este último dia, mas decerto não sairá da memória de todos os que assistiram a este concerto.

A má noite de Casablancas

O mesmo já não se pode dizer do que aconteceu a seguir, no Altice Arena, durante a atuação de Julian Casablancas e dos Voidz. Se o nome do ex-líder dos Strokes já parecia uma escolha algo estranha para encerrar o palco principal neste último dia, poucos esperariam, no entanto, o que aconteceu a seguir, com Casablancas a protagonizar um momento quase de vergonha alheia. Com um som péssimo e demasiado elevado, que mal deixava perceber o que se passava em palco, foram muito poucos os que aguentaram até ao fim, quando se despediu de um pavilhão quase vazio.

Quanto ao Super Bock Super Rock, está de regresso no próximo ano, entre 18 a 20 de julho, naquela que será a 25ª edição do festival.

[Artigo corrigido às 15.15, com a data da última passagem dos The The por Portugal]

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