Redescobrir Frankenstein em versão "feminina"

As memórias da produtora britânica Hammer Film regressam à Cinemateca com um clássico do cinema de terror:<em> Frankenstein Criou uma Mulher</em> tem assinatura de Terence Fisher, um mestre do género.
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Num tempo cinematográfico saturado de filmes de terror que são sequelas de sequelas de sequelas... até já não serem mais do que uma rotina mercantil, vale a pena redescobrir uma das matrizes clássicas do género tal como existiu na Europa. Mais exatamente: Frankenstein Criou uma Mulher (1966), de Terence Fisher, título exemplar do universo criativo da produtora britânica Hammer Film.

O filme passa hoje na Cinemateca (15.00) numa sessão única, já que a segunda, prevista para sábado à tarde, teve de ser adiada devido ao confinamento de fim de semana. A sua inclusão no ciclo "Só o cinema" é particularmente, surgindo a par de obras muito diferentes assinadas por autores como Robert Bresson, Howard Hawks ou Ingmar Bergman.

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Que está em jogo na proposta da Cinemateca? Pois bem, a redescoberta daquilo que faz do cinema uma arte singular com linguagens próprias. Nesta perspetiva, importa sublinhar que Fisher foi arauto de um cinema que vive menos da ostentação de efeitos (ditos) especiais, explorando antes as convulsões de um registo fantástico que nasce de uma inquietação interior, desafiando os limites da identidade humana.

Foi ele, afinal, que no interior da Hammer criou as matrizes de duas personagens clássicas do terror que continuaram a gerar inumeráveis "cópias": primeiro com A Máscara de Frankenstein (1957), depois O Horror de Drácula (1958). Fiel ao mais depurado imaginário gótico, o fantástico de Fisher nasce do desafio aos limites carnais do próprio corpo, numa vertigem que o cinema acolhe, não apenas através da exuberância visual, mas também da sua perturbação muito íntima.

Como o título de imediato sugere, Frankenstein Criou uma Mulher é tanto mais original quanto inverte a lógica tradicional das experiências do Barão Victor Frankenstein. A história trágica da mulher que ele "cria" exponencia as potencialidades deste registo fantástico, já que o projeto envolve o renascimento de um corpo, não apenas através de outro corpo, mas tentando consumar uma "transferência" de almas.

Mais de meio século depois, a herança da Hammer envolve também um singularíssimo "star system": os seus filmes foram capazes de gerar uma peculiar galeria de estrelas, a começar pelo austero e sempre impecável Peter Cushing, refazendo aqui o Frankenstein que já filmara sob a direção de Fisher. Sem esquecer, claro, que outra figura emblemática dessa galeria é, obviamente, Christopher Lee, várias vezes intérprete do Conde Drácula.

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