Recursos "não são para ser gastos em projetos fúteis"
No final de um fórum onde avançou com 60 mil milhões de dólares em crédito para África, o presidente chinês prometeu articular a iniciativa Um Cinturão, Uma Rota com os objetivos de desenvolvimento da União Africana e das Nações Unidas.
"Os dois lados vão reforçar as sinergias entre estratégias e promover a cooperação no âmbito da iniciativa", afirmou.
A terceira edição do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) reuniu, em Pequim, dezenas de chefes de Estado e de governo do continente africano.
Lançada em 2013 por Xi, Um Cinturão, Uma Rota inclui uma malha ferroviária intercontinental, novos portos, aeroportos ou centrais elétricas, visando conectar Europa, Ásia Central, África e Sudeste Asiático.
O líder chinês apontou como prioridades do investimento chinês em África a promoção industrial, conectividade de infraestruturas, facilitação do comércio e manutenção da paz e segurança.
"Os recursos para a nossa cooperação não são para ser gastos em projetos fúteis, mas nos sítios em que mais são necessários", disse.
Críticos apontam que Pequim está a pilhar os recursos naturais de África e a conduzir o continente para a armadilha do endividamento, ao conceder crédito a países financeiramente débeis. Observadores estimam que, desde 2000, Pequim concedeu 136 mil milhões de dólares em assistência e empréstimos para países africanos.
No caso de Angola, o maior beneficiário de crédito chinês em África, os empréstimos são pagos com petróleo, deixando o país com relativamente pouco crude para vender nos mercados internacionais - um dos motivos para a crise de liquidez que Luanda enfrenta.
Segundo estimativas do China Africa Research Initiative, da Universidade Johns Hopkins, desde 2000, Angola recebeu um total de 42 mil milhões de dólares em crédito chinês. Nesta semana, o presidente angolano, João Lourenço, deverá culminar, em Pequim, as negociações para uma nova linha de crédito superior a 11 mil milhões de dólares.
"Penso que é ainda muito cedo para afirmar que a China está a armadilhar os países com endividamento", afirma Eric Olander, jornalista especializado nas relações entre China e África, radicado em Xangai.
"No caso de Angola, será interessante observar se Pequim vai agir como um parceiro ou um proprietário", diz o fundador do portal The China Africa Project. "Veremos se a China facilitará um pouco nos seus contratos e permite a Angola vender mais petróleo, que permita gerar liquidez e combater a inflação."
Xi Jinping prometeu um perdão de dívidas para alguns dos países do continente, mas sem especificar.
"Para os países menos desenvolvidos ou altamente endividados, sem costa marítima ou pequenas nações insulares, que têm relações [diplomáticas] com a China, a dívida contraída junto do governo chinês isenta de taxas de juro, que venceria no final de 2018, será perdoada", afirmou Xi.
O também secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC) garantiu ainda que o investimento da China não tem "condições políticas", enquanto a imprensa estatal do país negou repetidamente as acusações de neocolonialismo no continente através da dívida.
"O ocidente revela dor de cotovelo, ao invés de refletir porque é que a sua colaboração com África ficou para trás", escreveu, em editorial, o Global Times, jornal em inglês do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC.
O "problema fundamental" é que o Ocidente menospreza África e "trata o continente como se fosse o seu quintal", acrescentou.