Rankings, Marketing, melhor ensino

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Mais de sessenta mil jovens estão candidatos ao Ensino Superior. Depois da candidatura feita, a maioria está agora de férias a aguardar a tão ansiada colocação. Muitos conseguirão ficar na primeira opção, mas muitos outros ficarão numa escolha alternativa, muitas vezes longe do que desejariam.

O Ensino Superior português, motor de desenvolvimento do país, com destaque para o território que não fica nas duas grandes metrópoles de Lisboa e do Porto, ainda não consegue oferecer a todos o curso que desejam. A tão propalada liberdade de ensinar e de aprender não é plena. Provavelmente não o poderá ser, sob pena de todos quererem ser engenheiros aeroespaciais, ou médicos e de quase todos quererem estudar nas metrópoles... mas que pode ser um pouco mais próxima da realidade da geração atual, não temos dúvida.

O Ensino Superior precisa de reformas desempoeiradas, feitas por gente capaz de sentir e de perceber os tempos atuais e não de ficar agarrada ao "meu tempo", ao "tempo em que era bom" ou ao "tem de ser assim". A dicotomia linguística sobre as diferenças entre Universidades e Politécnicos é só uma das mudanças que há para fazer. A forma de ensinar adaptada à geração do Smartphone, os conteúdos centrados no futuro e não no passado, a aprendizagem mais centrada no mundo profissional e instituições mais abertas e comunicativas são outras mudanças imperiosas.

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Todas estas mudanças devem gerar instituições centradas nos alunos, onde os professores são professores. Quer isto dizer, que importa também mexer na forma como damos importância aos rankings, como classificamos as instituições e como avaliamos os professores. Hoje, ensinar pedagogicamente da forma certa, ter professores motivados e alunos com sucesso, não tem quase impacto nos inúmeros processos de avaliação, ou nos rankings, nem tão pouco na carreira dos professores. Hoje o que conta é investigar e publicar muito e ser citado muitas vezes. Todos os dias se publicam artigos de jornal a darem-nos conta de quantas instituições estão no Top-500, ou no Top-1000, ou no Top-10 nacional, etc.. Não sabemos quantos alunos nestas instituições terminam o curso em tempo normal, quantas têm instalações magníficas e laboratórios de ponta, ou quantas resolvem problemas às pessoas e empresas à sua volta. As instituições no mundo inteiro vão-se transformando em centros de investigação, desenvolvimento e inovação, onde também se ensina. Os professores são considerados tanto melhores, quanto mais investigarem e publicarem, independentemente da opinião que os seus alunos têm de si, ou do sucesso que estes alcancem.

Todas as reformas que estão por fazer precisam de vontade nas instituições, das pessoas que as integram e obviamente da tutela politica. E precisam de muito mais financiamento. É preciso criar espaço para pensar e esse só acontece se houver tempo. Mais tempo significa menor carga docente e menor pressão para a investigação científica e para a inovação. Mais tempo significa mais financiamento. Um setor mais pensado, torna-se com o tempo mais eficiente, mais competente e menos dispendioso. É esta bola de neve que importa desfazer, aumentando a eficiência... ou dito de outra forma, cada estudante precisa de terminar o curso em menos tempo.

Presidente do Instituto Politécnico de Coimbra

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