Questões climáticas dividem G7 em Itália

Ao contrário do que sucede desde 2005 há a probabilidade de não haver no comunicado final qualquer referência ao tema.
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O comunicado final da cimeira G7, que hoje termina em Taormina, na Sicília, será breve, não devendo ultrapassar as seis páginas, explicava ontem Paolo Gentiloni, o primeiro-ministro italiano, país que acolhe a reunião de 2017. A reduzida dimensão do documento contrasta com a extensão dos comunicados de anteriores cimeiras, na ordem das 30 a 40 páginas, e reflete a diferente natureza do encontro entre os responsáveis políticos das sete economias mundiais e da União Europeia (UE).

Se foi possível chegar a acordo na questão do terrorismo, com direito a declaração própria e que será divulgada em conjunto com o comunicado final, noutros pontos e, designadamente, nas questões climáticas persistia o impasse. "Só no sábado [hoje] será concluída a redação" do texto final, disse Gentiloni ao final da tarde.

Como antecipado, as reticências na questão do clima tiveram origem no presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que criticou o acordo de Paris, de 2015, sobre o assunto e duvidado da autenticidade das alterações climáticas. Desde 2005, os comunicados finais das cimeiras do G7 integram sempre referências "às mudanças climáticas como um sério desafio a longo prazo", como se lia no texto daquele ano.

Apesar das reticências de Trump, Gentiloni pensava que seria possível Trump mudar o sentido da sua posição, algo que o principal conselheiro económico da Casa Branca, Gary Cohn, admitiu ser possível numa conversa com os jornalistas no final dos trabalhos de ontem. "Ele [Trump] veio aqui para aprender (...). As suas opiniões estão a evoluir, que é exatamente o que deve suceder. A base para a sua decisão final será o que for melhor para os interesses dos EUA".

Menos otimista estava a chanceler alemã, Angela Merkel, que classificou como "controversa" a discussão sobre o tema. A governante alemã disse que "todos" insistiram para com Trump para que ele não retire os EUA do acordo de 2015. E deixou no ar a hipótese de não haver uma referência às questões climáticas no comunicado ou desta ser apenas genérica, sem o ênfase de anos mais recentes. "Os EUA indicaram ainda não terem tomado uma decisão e que essa decisão não será tomada aqui" durante a cimeira, disse Merkel.

Outra questão algo controversa era o tema das relações comerciais em que Trump insiste que os EUA têm sido prejudicados, encontrando-se numa situação défice com a maioria dos seus parceiros. "A troca de argumentos foi muito viva", admitiu o conselheiro económico da Casa Branca, Gary Cohn. E terá ficado marcada por palavras de Trump ditas na véspera sobre a dimensão do défice americano nas relações comerciais com a Alemanha e o seu comentário sobre os milhões de veículos deste país que circulam nas estradas americanas.

As palavras de Trump levaram ontem o porta-voz do governo de Berlim, Georg Streiter, a afirmar que os excedentes comerciais "não são nem bons nem maus", dependem "fatores que não podem, pelo menos diretamente, ser influenciados por medidas políticas financeiras na Alemanha, como por exemplo o preço do petróleo ou a taxa de câmbio do euro, mas também fatores estruturais como os desenvolvimentos demográficos".

As reuniões do G7 integram sete das maiores economias mundiais que são também democracias - Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido - a que, desde 1981, está presente a UE. A Rússia foi convidada como observador desde 1997 e participou formalmente desde o ano seguinte até 2014, quando foi expulsa pela anexação da Crimeia. Os membros do G7 produzem mais de 60% da riqueza global e representam cerca de 50% da economia mundial.

As cimeiras têm caráter informal e a declaração final não vincula os signatários a qualquer obrigação. A primeira cimeira realizou-se em 1975, com a presença dos dirigentes dos da Alemanha ocidental, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido. O Canadá foi convidado no ano seguinte.

Declaração sobre o terrorismo

Noutras matérias não houve qualquer contencioso; pelo contrário, o consenso foi total, caso da ameaça terrorista.

A cimeira aprovou aquela que ficará conhecida como a Declaração de Taormina em que os signatários se comprometem a "elevar o nível" do combate ao terrorismo. Este combate vai centrar-se numa maior vigilância na Internet, na vigilância reforçada aos movimentos dos suspeitos e de regressados dos teatros de conflito na Síria e Iraque, e no controlo mais apertado das transações financeiras suscetíveis de serem canalizadas para grupos terroristas.

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