"Perdemos 250 colmeias no incêndio de 15 de outubro, mas isso nem foi o pior, porque tínhamos seguro. O prejuízo maior é na produção, porque não haverá vegetação para produzir mel nos próximos três anos." É Fernando Ventura, apicultor há 37 anos na zona da Lousã, quem fala. Estima perdas na ordem das 12 toneladas de mel na sequência do fogo de 15 de outubro do ano passado. "Para contornar a situação, procurámos zonas que não tenham ardido. Precisamos de sementes e zonas verdes.".Fernando Ventura é sócio da Apimel, uma das empresas afetadas pelos incêndios no ano passado, que terão destruído milhares de colmeias e uma importante área de produção de mel. Tal como aconteceu recentemente em Monchique, no Algarve. E foi a pensar nos apicultores afetados que nasceu a campanha Adote Uma Colmeia, um projeto de responsabilidade civil desenvolvido por um conjunto de instituições ligadas ao setor apícola..Com as contribuições, o consórcio vai criar um apiário didático no concelho de Pedrógão Grande, no qual prevê a instalação de 30 a 80 colmeias. Mas quer ir mais além. "Procuramos criar um fundo para financiar alimentação artificial para as abelhas e sementes para que os apicultores possam voltar a ter flores melíferas nas terras. Por outro lado, queremos sensibilizar a sociedade civil para este setor, que vive diretamente da floresta", explica ao DN Joel Oliveira, sócio da APiS Technology, startup de Aveiro que lançou a campanha..Dos cinco aos mil euros.A campanha começou no dia 9 deste mês e prolonga-se até 9 de setembro no siteadoteumacolmeia.pt, onde podem ser feitos donativos dos cinco aos mil euros. Na contribuição mais baixa, quem adota torna-se um dos donos da colmeia, podendo acompanhar o seu desenvolvimento através da Plataforma Apis Technology. Já com a mais elevada, tem direito a uma colmeia em seu nome e recebe uma formação em apicultura, uma T-shirt e um frasco de mel após a cresta do ano seguinte..Mesmo quando não destroem as colmeias, os incêndios eliminam o pasto necessário para alimentar os enxames, o que obriga os apicultores a alimentar artificialmente as abelhas. Daí que, após a aquisição de colmeias, enxames e outro material necessário para a construção do apiário, o consórcio tenha decidido direcionar 65% da verba conseguida para alimentação artificial e 35% para sementes. Restam 5%, que servirão para financiar a campanha..Objetivo para este ano é conseguir 50 mil euros."O nosso objetivo para este ano é conseguir cerca de 50 mil euros", adianta Joel Oliveira, ressalvando que, embora o apiário seja instalado em Pedrógão Grande, uma das zonas mais afetadas pelos incêndios do ano passado, os fundos serão distribuídos por apicultores de todo o país que tenham tido prejuízos. Para isso, estes devem preencher um formulário que ficará disponível em breve na página da campanha, sendo depois selecionados com o apoio da Federação Nacional dos Apicultores Portugueses (FNAP)..Da lista de parceiros da APiS Technology fazem parte a Câmara Municipal de Pedrógão Grande, a Lousamel, a FNAP, a HiFarmax, a Germisem, a TimberBee, a Apimel e a BeeRural..Joel Oliveira, de 30 anos, e Miguel Bento, de 28, são os responsáveis pela criação da startup, que nasceu oficialmente em 2015, na Universidade de Aveiro, com vista ao desenvolvimento de soluções de software e hardware para monitorização na apicultura. "Este é um projeto de responsabilidade social. Está dentro das nossas competências e é relativamente simples para nós fazer este trabalho", conclui Joel.