Quem são os ismaelitas? Seguidores de um islão moderado liderados pelo Aga Khan

Ramos ultraminoritário do islão xiita, a comunidade ismaili tem mais de mil anos de história e 15 milhões de fiéis no mundo. Em Portugal serão cerca de dez mil e Lisboa foi escolhida para receber a sede mundial da comunidade.
Publicado a
Atualizado a

A comunidade muçulmana ismaili, ou simplesmente ismaelitas, pertence ao ramo xiita do islão. Comunidade culturalmente diversa, encontra-se hoje espalhada por 25 países. Ao longo dos séculos, saíram da Ásia e África e estabeleceram-se na Europa e América do Norte. O Médio Oriente foi o território onde estiveram mais tempo, depois de passagens pelo Norte de África. No século XIX, concentram-se no que é hoje Índia e Paquistão. Estes continuam a ser países com um grande número de ismaelitas. Mas não só. Uma vaga de emigrantes mudou-se para o continente africano no século XX. Hoje são cerca de 15 milhões de indivíduos que nos seus mais de mil anos de história têm sido liderados por um imã vivo e hereditário, que acreditam ser descendente diretor de Maomé através de Ali, primo e genro do profeta. Seguidores de um islão moderado e liberal, a comunidade ismaili tem oito mil a dez mil membros em Portugal, muitos vindos de Moçambique após a independência em 1975.

O príncipe Karim al Hussaini, sucedeu em 1957 ao avô - Muhammed Shah, homem importante na Índia colonial, que se mudou para o Reino Unido e presidiu à Liga das Nações - como Aga Khan. Nascido em Genebra em 1936, era filho de Ali Khan, um playboy que encheu páginas das revistas cor-de-rosa, incluindo com o seu casamento com a estrela de Hollywood Rita Hayworth e que foi embaixador do Paquistão nas Nações Unidas. A sua mãe era a princesa Tajuddawlah Ali Khan, nascida Joan Barbara Yarde-Buller, britânica que se converteu ao Islão para casar. O 49.º imã dos ismaelitas cresceu em Nairobi, no Quénia, mais tarde estudou na Suíça e formou-se em História Islâmica em Harvard. É o quarto Aga Khan, título atribuído pelo Xá da Pérsia nos 1830. Com fortuna avaliada pela Forbes em mais de 13 mil milhões de dólares, o Aga Khan tem nacionalidade britânica, francesa, suíça e portuguesa. Desde que assumiu a liderança da comunidade ismaelita, tem trabalhado para melhorar a qualidade de vida dos mais vulneráveis, com base numa ideia de islão como fé que prega a compaixão e tolerância e defende a dignidade humana. Para tal fundou a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento.

Conjunto de agências privadas, a Rede desenvolve o seu trabalho em áreas que vão desde a educação à saúde, passando pela arquitetura, o desenvolvimento rural e a promoção de empresas no sector privado. Atuando em mais de 30 países (onde dá emprego a quase cem mil pessoas), sobretudo em África e na Ásia, a Rede pretende ajudar a melhorar a qualidade de vida das populações mais desfavorecidos, independentemente da sua origem, género ou religião.

A Fundação Aga Khan é uma das agências da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento. Fundada em 1967, em Portugal a Fundação trabalha na investigação de áreas como o desenvolvimento da infância, educação, sociedade civil, inclusão económica e seniores, sempre em "parceria com organizações públicas, privadas e da sociedade civil que partilham os seus objetivos", lê-se no site da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento.

O Centro ismaili, em Lisboa, inaugurado em 1998 e onde decorreu o ataque de ontem, é o centro da comunidade ismaelita em Portugal. Uma comunidade cuja influência económica (são por exemplo donos da cadeia de hotéis SANA) ultrapassa em muito a sua reduzida dimensão. Em 2015 foi anunciada a vinda da sede mundial da comunidade ismaelita para Lisboa, tendo o Imamat Ismaili comprado o Palacete Leitão por um valor de 13,5 milhões de euros para receber alguns serviços. Em 2018, Aga Khan escolheu a capital portuguesa para acolher as celebrações do seu jubileu de diamante e, no ano seguinte, Portugal acolheu a primeira cerimónia dos prémios de música da Fundação Aga Khan.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt