Quem má cama fez, nela se deitará
Enquanto por cá se debate o que poderá o governo incluir no pacote de ajudas que apresentará hoje para aliviar um pouco a vida das famílias mais afetadas pela inflação, a Alemanha acaba de apresentar o seu terceiro plano de emergência. Depois de dois pacotes que representam 30 mil milhões de euros em medidas desenhadas para reduzir o impacto da brutal escalada de preços, Berlim reserva agora mais 65 mil milhões para distribuir por famílias e empresas. Tudo somado, são quase 100 mil milhões libertados para a economia, de forma a suster o embate e manter as coisas a funcionar perante uma conjuntura em que já se dá como certa uma nova recessão na Europa.
Em Lisboa, o governo português vai hoje fazer saber o que é possível dar aos portugueses. Qualquer coisa ali pela fasquia de um pouco mais de 2 mil milhões de euros, apesar de o governo ter arrecadado até julho 5 mil milhões a mais em impostos cobrados, quase o dobro do que esperava recolher a mais no ano todo. Mas dos cofres do Estado não se pode retirar muito, que a margem que Costa e Medina têm é curta e as contas não são assim tão certas. A dívida, sempre a dívida... pior agora, que o crescimento ficou estacionado no zero e o consumo vai caindo, com o fim do verão e as poupanças da covid desaparecidas. E a queda brutal no excedente orçamental, que de um mês para o outro emagreceu para menos de metade, não augura nada de bom.
As empresas vão mesmo ter de ficar para depois. Já se aguentam há tanto tempo sem apoios que contem, podem esperar mais 15 dias, porque é preciso contar com o que Bruxelas decidir - e rezar para que se esteja a cozinhar por lá uns pacotes financeiros estilo covid.
Os apoios vão chegar? Provavelmente não. A questão é que Portugal não é a Alemanha, onde todos os anos se produz 16 vezes mais riqueza do que aqui e o equilíbrio orçamental é uma realidade; onde se aposta nas empresas e se incentiva o investimento; onde se vê virtude nos lucros e se valoriza o trabalho e a remuneração; onde não se cria à toa empecilhos ao bom funcionamento da economia.
Com as reformas urgentes constantemente adiadas, com as medidas que se conseguiu implementar à custa de muito sofrimento, para trazer o país para os eixos, revertidas pela geringonça, com a dependência do Estado alargada a uma fatia cada vez maior da população, a crise que se avizinha a alta velocidade não deixa Portugal em bons lençóis.
A Alemanha não é Portugal. Mas Portugal podia tentar ser um bocadinho mais parecido com a Alemanha.
Subdiretora do Diário de Notícias