Quem dá 400 mil euros por um quadro feito por um computador?
Quase 400 mil euros. Cerca de 45 vezes o valor inicialmente estimado pela leiloeira Christie's. Foi por este valor que foi vendido o quadro Retrato de Edmond Belamy, criada pelo coletivo francês Obvious e que é a a primeira obra de arte completamente gerada por um computador.
O quadro foi criado através de um algoritmo, juntando informações de 15 mil retratos produzidos entre os séculos XIV e XX, e depois impresso numa tela. O resultado é este retrato de Edmond Belamy, uma personagem ficcional, que poderia muito bem ser um retrato exposto no Louvre representando um nobre europeu. Foram criados 11 retratos da família Belamy.
Poderia ser só uma experiência do atelier de Paris, gerido por três jovens investigadores de 25 anos - Hugo Caselles-Dupré, Pierre Fautrel e Gauthier Vernier.
Mas o facto de o quadro ser vendido numa leiloeira importante e de atingir um valor tão elevado conduziu o debate para outras questões: o que é a arte?
Richard Lloyd, diretor internacional do departamento de serigrafia da Christie's acredita que existe um mercado para a arte produzida pela Inteligência Artificial - como se comprova pelo valor gasto pelo comprador deste Retrato, que permanece anónimo. "Apesar de tudo, é um retrato", diz. "Pode não ter sido pintado por um homem mas é exatamente o mesmo tipo de obra de arte que nós vendemos há 250 anos."
Ahmed Elgammal, diretor do Laboratório de Arte e Inteligência Artificial da Rutgers University, acredita que a arte criada pela AI deve ser encarada como uma verdadeira obra de arte. "Se olhar para a forma e ignorar as coisas de que trata a arte, então o algoritmo está apenas gerando formas visuais e seguindo princípios estéticos extraídos da arte existente", disse à Christie's. "Mas se considerar todo o processo, então o que se tem é algo que é mais como arte conceptual do que a pintura tradicional. Há um humano no circuito, fazendo perguntas, e a máquina dá respostas. Tudo isso é a arte, não apenas a imagem que resulta no final. Pode-se dizer que é uma colaboração entre dois artistas - um humano, uma máquina. E isso leva-me a pensar que no futuro a AI se tornará um novo meio de criar arte."