Queda a Física e Química deixa em risco candidaturas a engenharias

A primeira fase trouxe boas notícias em quase todas as disciplinas. A grande exceção foi Física e Química, que caiu 1,2 valores
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Física e Química foi a única sombra no panorama positivo dos exames nacionais do secundário deste ano. A disciplina, nuclear no acesso a muitos cursos universitários na área das ciências, teve uma quebra de mais de um valor na média geral, ficando abaixo de 10 (9,9). Um resultado que pode deixar em maus lençóis os alunos que querem concorrer a engenharias, alertam os professores da área.

A primeira fase das provas trouxe boas notícias em quase todas as disciplinas, com médias a subir - embora nas mais importantes de forma ligeira - e percentagens de chumbos a descer. Português e Matemática, pela sua importância no acesso ao superior e pelo número de provas realizadas, são dois exemplos flagrantes: na língua materna, as notas passaram de 10, 8 valores (numa escala de 0 a 20) em 2016 para 11,1 neste ano. Quanto à Matemática, outra das disciplinas decisivas para a entrada no ensino superior na área das ciências e engenharias, a média passou de 11,2 no ano passado para 11,5 em 2017. A grande exceção pela negativa foi mesmo Física e Química.

Tal como alguns professores já tinham antecipado, esta disciplina teve uma queda em relação ao ano passado - passou de 11,1 para uma média abaixo de 10 (9,9). E, para piorar a situação, as notas mais frequentes situaram-se entre os 6 e os 8 valores (ver infografia ao lado). Uma queda com impacto nos chumbos, que subiram três pontos percentuais (de 11% em 20016 para 14% este ano).

"Os alunos médios, com notas que oscilam entre o 10 e o 13 e que tinham as engenharias no horizonte, podem ter essas expectativas defraudadas com estas notas, seja nos politécnicos ou nas universidades", avisa Maria Conceição Abreu e Silva, presidente da Sociedade Portuguesa de Física, que reconhece: "Uma nota de sete valores é francamente má" (ver entrevista). Tendo em conta este dado, Palmira Silva, vice -presidente do Instituto Superior Técnico para a comunicação e imagem, entende que "os alunos maus foram de facto os mais penalizados neste ano", o que pode ter algum impacto no acesso geral ao ensino superior, mas nunca no Técnico. "Quando muito, pode fazer baixa a nota do último colocado em algum curso. As nossas notas são sempre altas e os bons alunos não devem ter sido afetados."

O presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos mostra-se mais preocupado e enumera as áreas mais afetadas por quebras nas médias a Física e Química: as engenharias Eletrotécnica, Mecânica e Civil. Ainda assim, Nuno Mangas recorda que estes exames são feitos no 11.º ano e só vão afetar as candidaturas do próximo ano. "Os alunos têm um ano para tentar melhorar as notas. Mas é claro que estou preocupado, estes resultados não são positivos, é evidente. Seria importante para o país e para as empresas que a média fosse sempre mais positiva."

Uma estabilidade também pedida pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), mas pelo lado da elaboração dos exames, "para evitar grandes oscilações nos resultados". O presidente do CRUP e reitor da Universidade do Minho admite que "uma descida nunca é positiva" e lembra que "há três anos houve uma queda muito grande a Matemática e isso traduziu-se numa quebra de cinco mil candidatos nesta área". No entanto, António Cunha desdramatiza as variações deste ano, que considera não serem muito significativas, "embora importantes para milhares de alunos que tiveram notas abaixo do que esperavam".

Prova mais fácil justifica resultado

Entre as 22 disciplinas sujeitas a exame nacional a que registou um maior número de provas realizadas foi a de Português, com 76 643 provas, logo seguida de Matemática A, com 49 298 provas, Biologia e Geologia, com 47 215 provas, e Física e Química A, com 43 007 provas. Numa nota a acompanhar o documento com os dados das provas, o Júri Nacional de Exames (JNE) destacou o facto de todas as médias terem ficado acima dos 9,5 valores, o limiar da positiva.

Os professores de Matemática consideraram normal a subida na média da disciplina, já que "o grau de complexidade da prova deste ano foi inferior ao do ano anterior". A Sociedade Portuguesa de Matemática encara, no entanto, "com especial preocupação o próximo ano letivo, caso não sejam adotadas medidas para apoiar a implementação do programa".

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