Que visões propõe a direita para França?
Liberal na economia mas socialmente conservador
Em 2007, o então primeiro-ministro de Nicolas Sarkozy disse que estava "à frente de um Estado em situação de falência". Passados quase dez anos, o favorito à vitória nas primárias da direita (venceu a primeira volta há uma semana) parece manter essa leitura pessimista. O seu programa é o que prevê mais austeridade, apostando num choque liberal na economia. Já no que diz respeito às políticas sociais, François Fillon, de 62 anos, casado e pai de cinco filhos, é "conservador".
Com o objetivo de cortar cem mil milhões na despesa pública em cinco anos, Fillon defende a contratação de apenas um em cada dois funcionários públicos que se reformem - para um corte total de 500 mil postos de trabalho - e o aumento da idade da reforma para os 65 anos. A semana de trabalho passará das 35 para as 39 horas no setor público, enquanto no privado (que terá liberdade para negociar) pode chegar ao máximo de 48 horas previstas pela lei europeia. Ao nível dos impostos, apesar de um aumento do plafond a partir do qual as famílias francesas pagam mais taxas - de 1500 para 3000 euros -, Fillon defende aumentar o IVA em dois pontos percentuais, para 22%. Os mais ricos serão beneficiados com o fim do imposto sobre a fortuna, com as empresas a pagar também menos impostos.
Nos temas sociais, o deputado por Paris defende uma visão "familiar" da sociedade. Fillon não quer revogar a lei Taubira, que legalizou o casamento de pessoas do mesmo sexo, mas quer reescrevê-la para proibir a adoção plena por casais homossexuais, autorizando a adoção simples (o adotado mantém ligação à família biológica) caso um juiz diga que é "no interesse da criança".
O candidato quer também que a procriação medicamente assistida esteja reservada a casais heterossexuais inférteis. E é a favor de uma lei antiburquíni (veste que só deixa o rosto e as mãos a descoberto e é usada pelas mulheres muçulmanas nas praias). Na questão da educação, Fillon pretende reescrever os manuais de História (para desagrado dos historiadores), de forma a transformá-los num relato nacional e voltar a dar às crianças "confiança na nossa pátria".
Na política externa, a França assistiria a uma aproximação à Rússia - Fillon é amigo do presidente Vladimir Putin desde os tempos em que ambos eram primeiros-ministros. Por outro lado, defende o levantamento das sanções europeias, uma coligação com Moscovo para combater o Estado Islâmico e até mesmo reatar ligações com o sírio Bashar al-Assad, para encontrar uma solução para a guerra. Apoiando uma "Europa de Nações", quer criar um "Schengen da justiça", para expulsar os criminosos condenados em qualquer país da região (também é a favor de expulsar os jihadistas suspeitos). Ainda a nível da segurança, Fillon quer armar a polícia municipal.
Caso vença, a França terá de se preparar para cinco referendos, entre eles um sobre a redução do número de deputados e senadores e outro sobre quotas de imigração.
Moderado para devolver "esperança" aos franceses
O presidente da Câmara de Bordéus foi o favorito durante toda a corrida para as primárias, mas acabou por ser surpreendido na primeira volta por François Fillon e parte agora em desvantagem para a segunda volta. Com um discurso mais moderado destinado a atrair mais eleitorado do que o de direita (já a pensar no eventual duelo com Marine Le Pen, da Frente Nacional), Alain Juppé não abdica contudo de um programa liberal ao nível da economia, apostando também num reforço da segurança. O objetivo é devolver a "esperança" aos franceses. "Pela França", é o lema do ex-primeiro-ministro de Jacques Chirac (1995--1997).
Caso vença as presidenciais, os franceses poderão contar com políticas de austeridade, destinadas a cortar entre 85 e cem mil milhões na despesa pública. No mínimo, Juppé defende a supressão de 200 mil postos na função pública no espaço de cinco anos, aumentar de 35 para 39 horas a semana de trabalho e alargar a idade da reforma até aos 65 anos. O candidato quer também diminuir o custo do trabalho pouco qualificado, acabando com as contribuições patronais ao nível do salário mínimo. Num golpe contra os sindicalistas, quer limitar-lhes os mandatos (dois no máximo) e exigir que passem 50% do tempo no trabalho.
Ao nível dos impostos, a ideia é subir o IVA de 20% para 21% e aumentar para os três mil euros o plafond a partir do qual as famílias pagam mais impostos (atualmente são 1500 euros). Os mais ricos deixarão de pagar imposto sobre fortunas.
Casado e pai de três filhos, Juppé não prevê grandes alterações ao nível das políticas sociais, querendo manter a atual lei sobre casamentos homossexuais e adoções por casais do mesmo sexo. Contudo, quer a procriação medicamente assistida reservada só para casais heterossexuais estéreis e é contra as barrigas de aluguer. Opondo-se a uma lei antiburquíni, quer contudo aprovar um "código de laicidade" que reafirme ideias básicas como a igualdade entre homens e mulheres. Na área da educação, a ideia é lutar contra o abandono escolar, apostando numa avaliação contínua e na melhoria da formação dos professores (assim como dos seus salários).
Na área da segurança, Juppé propõe várias medidas: dez mil novos polícias nas ruas (parte através da contratação de civis para fazer trabalho de escritório e libertar agentes) e dez mil novos lugares nas prisões. Em relação ao terrorismo, quer pôr em prisão preventiva os suspeitos considerados perigosos e declarar crime a presença em zonas do exterior onde atuam terroristas. Juppé quer ainda expulsar os imãs salafistas e fechar as mesquitas radicais.
Na política externa, defende um diálogo com a Rússia, mas continua a criticar o papel de Moscovo nos bombardeamentos de Aleppo, opondo-se a uma operação no terreno na Síria. Pró-europeu, é a favor de uma reforma da União Europeia, para a tornar menos burocrática, e de um programa de defesa comum. Mas é contra novos alargamentos.