Quase metade dos alunos que fazem rastreios à visão têm miopia

A Fundação Vision for Life Essilor voltou ao Agrupamento de Escolas do Cerco do Porto para uma segunda leva de rastreios à visão e identificou de novo casos de alunos com dificuldades visuais. A nível nacional, dos 847 estudantes que fizeram rastreio, 514 foram encaminhados para consulta e cerca de 300 receberam óculos.
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Os exames são feitos num consultório móvel, instalado numa carrinha, "construída" de base pela Fundação Vision for Life Essilor. Para além do investimento em equipamento, técnicos de oftalmologia e viagens, a fundação empregou milhares de euros para ajudar crianças carenciadas, numa ação que teve uma primeira fase em outubro de 2021 e terminou esta semana, no Agrupamento de Escolas do Cerco do Porto. "O balanço é francamente positivo. Conseguimos ver todos os alunos do Ensino Básico das escolas que fazem parte do agrupamento e são beneficiários de ação social. Trata-se de crianças e adolescentes de meios carenciados e estamos muito felizes por poder fazer a diferença nas suas vidas. Decidimos começar em escolas com elevado número de crianças oriundas de famílias desfavorecidas e o nosso objetivo, o de conseguir chegar a todas, foi cumprido", explicou ao DN, Margarida Barata, diretora de Marketing da Fundação VAN - Vision As Needed - Essilor (Europa).

Na primeira fase, há seis meses, foram vistas 200 crianças e, no decorrer desta semana, mais 175. Aquelas em que foram identificados problemas de visão fizeram consulta de oftalmologia. Os casos mais graves passaram a ter seguimento nos hospitais centrais da cidade do Porto. "Esta semana detetámos, para além das habituais miopias, dois casos de estrabismo. Para crianças com patologias mais graves, um diagnóstico e tratamento precoce é muito importante, pois a espera pode resultar em falta de solução", ressalva Margarida Barata, que acrescenta que "quase metade dos alunos rastreados apresentam miopia".

A nível nacional, dos 847 estudantes que fizeram rastreio, 514 foram encaminhados para consulta e cerca de 300 receberam óculos.

DestaquedestaqueUma em cada três crianças do ensino básico tem uma deficiência visual não detetada ou corrigida, o que pode provocar problemas de concentração e maior agitação em aula.esquerda

Apesar de a ação ter chegado ao fim, a responsável acalenta o "sonho" de poder voltar "daqui a dois anos". "Seria muito bom se pudéssemos reavaliar as crianças às quais foram identificados problemas de visão e ver a evolução das mesmas", diz. Neste processo de acompanhamento, Margarida Barata conta com o apoio dos professores, aos quais foi fornecida a lista de alunos que receberam óculos "para ver se os usam e não os deixam na mochila, de forma a corrigirem os problemas que têm".

Mafalda Pimenta, assistente social do Agrupamento de Escolas do Cerco do Porto, sublinha a importância da ação, numa realidade onde mais de metade dos alunos beneficia de apoio social. "Dos cerca de 700 alunos que temos de 1º ciclo no agrupamento, 380 têm apoio. Este despiste é muito importante para as famílias que não estão preparadas para fazer face às despesas com consultas e óculos. É bom para lembrar que os problemas de visão existem e oferece uma solução imediata para quem precisa", ressalva. Mafalda Pimenta sublinha ainda a importância da saúde visual e oral nas crianças, de forma a poder-se "detetar problemas precocemente".

Segundo a responsável, "os alunos que receberam óculos na primeira fase do rastreio demonstraram grande satisfação, uma maior concentração nas aulas e até uma maior segurança a nível relacional".

Ainda este ano letivo, a Fundação Vision for Life Essilor terá novas ações de rastreios em instituições e pretende voltar às escolas em 2022/2023. "O nosso maior sonho era conseguir eliminar a má visão nos grupos carenciados até 2050", conclui Margarida Barata.

Estas ações de prevenção, diagnóstico e correção de problemas de saúde visual, dedicada a jovens carenciados, resulta de uma parceria da SPO - Sociedade Portuguesa de Oftalmologia com a Fundação Vision for Life (apoiada pela Essilor) cuja missão é suportar e desenvolver projetos de intervenção social para minorar as carências de cobertura de consultas de saúde visual, em muito agravada ao longo da pandemia.

Considerando que 80 por cento da aprendizagem se faz através da visão, os responsáveis pelo projeto relembram que as crianças manifestam problemas de concentração e uma maior agitação em contexto de sala de aula quando não veem bem. Uma em cada três crianças do ensino básico tem uma deficiência visual não detetada ou corrigida (dados internacionais da Fundação). Os especialistas em educação têm defendido que o acesso à consulta especializada e a óculos graduados é um fator fundamental para o sucesso escolar de todas as crianças e que, pela negativa, a não correção da deficiência visual compromete o percurso escolar do aluno e, consequentemente, o seu futuro como adulto.

Em Portugal, estima-se que haja 16 mil crianças com anomalias visuais facilmente compensáveis, que por falta de recursos não têm e não usam óculos corretivos.

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