Quarentena de luxo da presidente da Comunidade de Madrid debaixo de fogo

Isabel Díaz Ayuso hospedou-se num apartamento quando testou positivo para o coronavírus em meados de março e é desde lá que tem trabalhado, mas confusão com os contratos com a empresa Room Mate gerou polémica.
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A presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, está alojada num apartamento de luxo no centro da capital espanhola desde que testou positivo para o coronavírus, a 16 de março. A ideia era poder fazer ali a quarentena, sem pôr em risco o companheiro, enquanto continuava a trabalhar. Mas, quase dois meses depois de declarado o estado de alarme, o apartamento tornou-se numa dor de cabeça para a política do Partido Popular.

O apartamento, divulgou esta semana a revista Vanity Fair, situa-se no Plaza España Skyline BeMate, que pertence à empresa hoteleira Room Mate, propriedade do empresário Kike Sarasola. Não é claro se o apartamento é um duplex ou se Ayuso terá alugado dois espaços, já que a própria disse numa entrevista ao El Confidencial de 30 de março que "durmo em baixo, trabalho em cima e não chateio ninguém".

O aluguer custa 80 euros por noite (será a tarifa referente a uma estadia longa), com propriedades semelhantes a poderem chegar aos 200 euros por noite em circunstâncias de aluguer curto normal. Inicialmente foi dito que o aluguer não iria representar um encargo para o erário público, já que teria sido o próprio Sarasola a pô-lo à disposição de Ayuso. Num segundo momento, indicou-se contudo que a própria presidente pagará do seu bolso o custo do aluguer, que já chega aos 4800 euros.

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Mas essa não é a única dúvida que surge da presença de Ayuso. A presidente disse que o apartamento era para passar a quarentena mas, mesmo já tendo alta a 10 de abril, continua lá alojada. Além do mais, está lá alojada desde 16 de março, quando testou positivo para o coronavírus, mas o contrato terá sido assinado ainda antes de ser declarado o estado de alarme, a 14 de março.

De acordo com um comunicado da Room Mate, citado pelo El País, o contrato foi assinado "por que [a presidente] precisava de um lugar ótimo para a gestão da crise durante a situação excecional". A Comunidade de Madrid não terá explicado a diferença de datas nem de propósito do apartamento: era para a quarentena ou para trabalhar?

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Para piorar a situação, esta terça-feira a Comunidade de Madrid revelou no seu portal de contratos um de 565 mil euros com a Room Mate, cujos hotéis estarão a servir para alojar idosos que estavam em lares onde foram detetados casos de covid-19.

Quando Madrid anunciou a intenção de fazer estes contratos, num comunicado de imprensa de 6 de maio, o valor apresentado era de 806 193.15 euros. Mas, na adjudicação do contrato divulgado na terça-feira, o valor que surge é de apenas 565 749.62 euros.

Além disso, rapidamente o texto foi alterado e, em vez da Room Mate, quem aparece no contrato é a associação Coordenadora do Terceiro Setor da Comunidade de Madrid, e o valor é de apenas 240 443.57 euros. A soma dos dois valores chega aos 806 193.19 euros, uma diferença de apenas quatro cêntimos em relação ao anunciado no comunicado de imprensa, o que faz questionar sobre se existiam ou não dois contratos.

Tanto a Comunidade de Madrid como a Room Mate falam de um erro, reiterando que não há qualquer ligação contratual entre ambas.

De facto, a empresa de Sarasola pôs à disposição das autoridades madrilenas (como também às catalãs, às do País Basco, mas também Nova Iorque, Paris, Florença ou Milão) dois hotéis para acolher os idosos, mas não irá receber nada em troca.

O contrato com a Coordenadora do Terceiro Setor é para a contratação de pessoal para prestar auxílio aos idosos, assim como pessoal de limpeza, sendo inferior ao esperado porque só um hotel estará a funcionar.

Mas, os responsáveis pela Coordenadora, negam o valor apresentado. "Nunca cobrámos nem vamos cobrar esses 240 mil euros do contrato que diz a Comunidade que é para nós", disse um responsável, Rafael Escudero, ao eldiario.es, explicando que o seu contrato é de pagamento de 77 mil euros por mês e a ideia é deixar o hotel a 31 de maio, logo cobrará no máximo dois meses

A aliança Unidas Podemos e o partido Más Madrid exigiram explicações de Ayuso sobre o apartamento, considerando que pode existir um "alegado crime de suborno". Por seu lado os socialistas, através da secretária de Organização do PSOE de Madrid, Carmen Barahona, pediram à presidente da Comunidade que abandone a sua "toca de luxo" para explicar o que aconteceu.

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Ayuso lamentou estar a ser alvo de todas as críticas da esquerda que "tentam todos os dias, por todos os meios, desacreditar" o trabalho que tem feito em Madrid durante a pandemia. Também o líder do PP, Pablo Casado, denunciou uma "campanha de desprestígio" da esquerda contra Ayuso.

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