Era a primeira visita pastoral do Papa viajante a Fátima. Nesse ano de 1982, João Paulo II já tinha estado no Gabão, no Benim, na Nigéria e na Guiné Equatorial, mas Fátima revestia-se de um significado especial: um ano antes, a 13 de maio de 1981, o turco Mehmet Ali Agca tinha tentado assassinar o Sumo Pontífice na Praça de São Pedro, em Roma. Karol Wojtyła sobreviveu e interpretou isso como uma intercessão de Nossa Senhora de Fátima (por isso a bala que lhe retiraram do corpo está incrustada na coroa da imagem que nunca sai do Santuário)..Era preciso ir à Cova da Iria agradecer à Virgem. E veio..O esquema de segurança - concertado entre o corpo de guarda-costas do Papa e as autoridades locais, como acontece em todas as visitas papais - era apertado e terá sido isso que evitou o pior. Isso e a pouca preparação do homem que naquela noite, durante a Procissão das Velas, retirou "da pasta que transportava um sabre-baioneta de 37 centímetros, com o qual procurou atingir o Sumo Pontífice, revelou, ontem à noite, a Polícia Judiciária", lia-se no DN do dia seguinte. "Abaixo o Papa. Abaixo o Vaticano II" terão sido os gritos que Juan Fernández Khron deu enquanto tentava furar pela multidão. Mas pelo caminho encontrou "o subchefe Moura, da Divisão de Segurança da PSP, que o agarrou por um braço enquanto esboçava a investida de aproximação ao Sumo Pontífice.".Aquela tinha sido a forma atabalhoada de Khron manifestar o repúdio pelo caminho que a Igreja estava a seguir. A notícia no DN não adiantava muito mais, além do nome do padre espanhol e da sua ligação à Fraternidade Sacerdotal de São Pio X, fundada pelo arcebispo francês Marcel Lefèbvre - que se opunha às reformas na Igreja e defendia o regresso à via tradicional mas que, entretanto, já tinha vindo repudiar o ataque..João Paulo II voltou a Portugal em 1983 (escala), 1991 e 2000, a propósito da beatificação dos três pastorinhos. Khron cumpriu metade da pena de seis anos a que foi condenado e expulso do país.