Adalberto Campos Fernandes passou três anos no Governo naquele que considera um período muito importante, e muito relevante do ponto de vista social e político, porque se seguiu a alguns anos de grandes dificuldades e de restrição por via da intervenção externa. "Um período em que as expectativas da população e do setor eram muito elevadas, e em que havia uma grande ansiedade para recuperar aquilo que as pessoas sentiam como tendo sido o tempo perdido, mas também o valor perdido nas suas vidas", salienta o ex-ministro da Saúde, que acredita que se estabeleceu alguma dinâmica social e profissional no período pós-Troika, precisamente porque existia essa expectativa de melhorar e de recuperar. "Houve oportunidade para dar continuidade a algumas políticas que vinham do governo anterior e de outros governos, que nos ajudaram a projetar o nosso programa", assume..De entre os pontos positivos que avalia durante a sua fase de governação, Adalberto Campos Fernandes aponta o lançamento da hospitalização domiciliária, que considera uma verdadeira reforma estrutural. "Este programa está hoje a ser um sucesso e, seguramente, marcará nos próximos anos uma diferença muito grande do funcionamento dos hospitais e do sistema de saúde português"..Do Governo, em 2018, saiu com a sensação de dever cumprido e de ter honrado políticas que vinham de governos anteriores e de outros tempos políticos, sejam doseu partido ou de outros partidos diferentes. Acredita que é fundamental criar condições para que quem sucede possa, não só, melhorar aquilo que estava a ser feito, como fazer muito mais do que estava a ser feito. "Esse sentido é de compromisso e de responsabilidade, muito centrado nesta ideia de que o que fazemos hoje - e em saúde isso é muito sensível -, projeta-se com consequências positivas ou negativas a cinco ou dez anos", assume..No entanto, admite que em Portugal continua a faltar capacidade de avaliação contínua. "Temos uma fraca aptidão para a avaliação de políticas. Fazemos muita coisa em cada um dos nossos tempos, mas avaliamos pouco". E isto, conclui, diminui muito a qualidade das políticas futuras e dos resultados futuros.