Quadro encontrado em sótão poderá valer 150 milhões de euros
Em 2014, o leiloeiro francês Marc Labarbe recebeu uma chamada de um amigo que tinha tropeçado num estranho achado: depois de uma inundação no sótão da sua casa em Toulose, o homem encontrou um quadro que lhe parecia "ter valor". Depois de limpo e analisado por Eric Turquin, um especialista em História de Arte, concluiu-se dois anos depois que a obra tem bem mais do que apenas algum valor: trata-se de "Judite e Holofernes", um quadro perdido de Caravaggio1(571-1610), o mestre do barroco milanês a quem se conhecem apenas 68 pinturas, e vai a leilão por 150 milhões de euros.
"Este foi o quadro mais incrível que eu já encontrei" comenta Turquin à CNN. A pintura retrata uma passagem do Livro de Judite, do Antigo Testamento. Judite era uma viúva da cidade de Betulia, sitiada pelo exército do general assírio, Holofernes. Para salvar a cidade, seduziu o general, levou-o para a sua tenda e decapitou-o. "É um quadro muito violento. É quase insuportável. Caravaggio é um artista que encorpa o texto e o torna vivo", afirma o especialista.
Cinco anos depois de ter sido encontrado e depois de restaurado, o quadro está exposto em Colnaghi, uma galeria em Londres, e no dia 27 de junho irá ser leiloado em Toulouse, com uma base de licitação de 150 milhões de euros. Questões sobre a autenticidade da obra foram levantadas mas Eric Turquin defende que esta é uma obra autêntica, devido à sua vivacidade. Segundo o especilaista, ma cópia é " seca e sem energia", enquanto esta obra apresenta alterações percetíveis na pintura, o que mostra que o pintor mudou de ideias enquanto a realizava, ao contrário de uma cópia que "reproduz exatamente o que está à sua frente".
O que aconteceu com a pintura depois de 1619 é difícil de perceber. De acordo com a galeria Colnaghi, esta foi exibida em Antuérpia em 1689, mas depois não existem registos sobre o que possa ter acontecido. Antes da descoberta em Toulouse, apenas se conhecia uma cópia meticulosa, pintada por Louis Finson.
O valor expectável para a obra não surpreendeu Turquin, devido "ao renascimento dos velhos mestres". Questionados sobre o destino da obra, tanto Turquin como Labarbe afirmam preferir que seja comprada por um museu do que por uma pessoa. "Não é uma pintura para uma sala de estar ou para uma sala de jantar" sugeriu o especialista.
Em 2016, o Museu do Louvre recusou a compra da obra, devido ao preço pedido e às dúvidas sobre a autenticidade do quadro. Turquin mostra-se compreensivo com a decisão. "Cem milhões de euros representam 15 anos do orçamento do Louvre de uma só vez, e o museu já tem três Caravaggios excecionais", justificou ao The Guardian.