Qatar contratou ex-agentes da CIA para sabotar rivais do Mundial 2022
O Sunday Times revela o novo escândalo que acrescenta mais uma mancha na controversa candidatura do Qatar ao Mundial 2022.
Uma pessoa (sob anonimato, por razões de segurança) que trabalhou na candidatura do país do Golfo Pérsico denunciou os métodos usados para dar má publicidade às campanhas concorrentes, em especial as dos Estados Unidos e Austrália.
Também revelou pormenores ao deputado britânico Damian Collins, que preside ao comité parlamentar de desporto.
Segundo a fonte do jornal, a ideia para a existência de duas campanhas paralelas teve origem na candidatura fracassada de concorrer aos Jogos Olimpícos de 2016.
"Houve duas campanhas executadas pelos qatarianos para a candidatura de 2022. A campanha secreta usou ex-agentes secretos - pessoal da CIA - para executar campanhas destrutivas no Reino Unido, nos Estados Unidos e na Austrália", disse o denunciante.
"Estavam muito bem organizados e foram muito bem financiados pelos qatarianos. Eram o que eu descreveria como tradicionais operações de informações destinadas a minar o apoio público nos Estados Unidos e na Austrália, em primeiro lugar, e no Reino Unido".
O Reino Unido era à data um dos favoritos à organização do Mundial 2018, que acabou por se realizar na Rússia.
Os agentes estavam ao serviço da empresa de relações públicas contratada pelo país do xeque Tamim bin Hamad al-Thani, Brown Lloyd James.
Michael Holtzman, o presidente da empresa que recebe 80 mil dólares mensais do Qatar, discutiu muitos dos planos com dirigentes do Qatar num hotel em Londres.
As táticas criadas foram descritas num e-mail escrito por Holtzman e enviado para um conselheiro da candidatura do Qatar, Ahmad Nimeh.
Curiosamente, Nimeh é casado com a filha de um ex-embaixador dos EUA no Qatar.
Segundo o e-mail, a campanha negativa assentava em dezenas de artigos nos media internacionais para causarem embaraços ou minarem as candidaturas rivais.
A empresa de relações públicas recrutava jornalistas, autores de blogues e figuras conhecidas em vários países para "promover aspectos negativos das respectivas candidaturas nos media", diz o e-mail.
O documento dá um exemplo nos Estados Unidos e outro na Austrália de como a campanha negativa tomava forma.
"Recrutámos um grupo de professores de educação física norte-americanos para pedir ao seu congressista para que apresente legislação contra o campeonato do mundo nos EUA, alegando que o dinheiro gasto no torneio de futebol pode ser melhor usado no financiamento do desporto no ensino secundário, que sofreu durante a recessão."
Mais à frente lê-se: "Organizar protestos e outras ações de oposição popular às candidaturas. Temos um grupo de estudantes pró-râguebi em Melbourne, na Austrália, que começará a aparecer em jogos de râguebi cartazes: "Larguem o nosso râguebi! Não ao mundial de futebol."
Na altura saíram notícias de que davam conta da possibilidade de os jogos daquela modalidade terem de terminar oito semanas antes do que é costume.
A comprovar-se, a denúncia põe em xeque a candidatura do Qatar, que em dezembro de 2010 surpreendeu o mundo quando venceu a corrida ao campeonato de 2022.
O Qatar comprometeu-se junto da FIFA em manter os "mais altos padrões de comportamento ético" e que se absteria de fazer qualquer comentário sobre as outras candidaturas.
A organização do campeonato do mundo de 2022 está envolvida em controvérsia desde o início. Das alegações de corrupção às condições dos trabalhadores, do clima adverso à prática desportiva aos direitos dos fãs que forem visitar o pequeno país, não falta assunto para debater a escolha da FIFA.
Sobre as denúncias trazidas a público pelo Sunday Times, os dirigentes do Qatar afirmaram "rejeitar todas as alegações".