Putin acredita no fim de guerra na Síria, Erdogan ameaça curdos do Iraque

Líderes russo e turco insistem na integridade territorial iraquiana e síria. Ambos concordaram em reforçar a cooperação.
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A guerra civil na Síria e a criação de uma área na província de Idlib livre de combates, a ser implantada no quadro de um acordo trilateral assinado entre Turquia, Rússia e Irão, os resultados do referendo no Curdistão iraquiano, com a vitória esmagadora ao sim à independência, além de questões bilaterais político-económicas, estiveram no centro de um encontro entre os presidentes turco, Recep Tayyip Erdogan, e russo, Vladimir Putin, ontem em Ancara.

Sobre a guerra na Síria, que dura desde 2011, Putin considerou "estarem de facto reunidas condições para o fim do conflito", com a criação de zonas livres de combate, de que Idlib será a primeira. Está decidido que tropas turcas e russas irão garantir a segurança desta.

O dirigente russo, que falava numa conferência de imprensa com o seu homólogo turco, deslocou-se a Ancara para uma visita de horas, a realçar a readquirida importância das relações bilaterais após o período de tensão que se seguiu ao abate de um avião de combate russo Su-24 que teria entrado no espaço aéreo turco a 24 de novembro de 2015. Além da dimensão económica, as relações Ancara-Moscovo ganharam nova dimensão no setor da Defesa com a recente aquisição do sistema antimíssil russo S-400, o que originou vários franzir de sobrancelhas na Aliança Atlântica. Significativamente, o tema não foi referido na conferência de imprensa.

Detalhe a simbolizar a reencontrada importância da relação bilateral, foi o facto de Erdogan se deslocar até ao veículo em que seguia Putin para o receber, encaminhando-se em seguida os dois dirigentes para o interior do complexo presidencial em Ancara, onde decorreu o encontro.

Além da cooperação técnico-militar, os investimentos bilaterais, "as relações culturais e os megaprojetos", como referira anteriormente o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, entre os quais o gasoduto TurkStream (que permitirá a Rússia encaminhar o seu gás natural para a Turquia e Europa sob o Mar Negro) e a construção da primeira central nuclear turca, a situação criada com o referendo no Curdistão iraquiano, foi também comentada. Ancara contesta o resultado, definindo-o como "ameaça à segurança nacional". Na conferência de imprensa que se seguiu a uma reunião de cerca de três horas, Erdogan apelou às autoridades de Erbil para "não cometerem novos erros" e insistiu no caráter "nulo" da votação de segunda-feira, considerando que esta tornara "mais frágil" e instável a "nossa região". Numa intervenção anterior ao encontro com Putin, o presidente turco ameaçara com medidas da retaliação, caso Erbil avance na independência. E deixou no ar um cenário de sanções, entre as quais o encerramento do oleoduto que permite a exportação do petróleo do Curdistão para o porto turco de Ceyhan. Para Erdogan, não é só a integridade territorial do Iraque a estar em causa, é também a da Síria, dizendo que ele e Putin concordam que "ambas" devem ser preservadas.

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