PT e PMDB deram início ao leilão de deputados no Brasil
Nada como ser membro de um pequeno ou médio partido com assento parlamentar e direito a voto a favor ou contra o impeachment para se sentir valorizado nos dias que correm no Brasil: os deputados do PR, PP, PSD e de outras nove forças políticas indecisas entre governo, oposição ou ficar com um pé de cada lado valem o seu peso em ouro para PT e PMDB que correm a apaparicá-los, como se fossem obras de arte preciosas em leilão, na véspera da rutura anunciada entre ambos e a mais ou menos uma semana de ser votada a destituição ou continuidade da presidente.
Dilma Rousseff e o seu ministro da Casa Civil suspenso Lula da Silva desdobram-se em reuniões com deputados e líderes partidários a prometer um dos 500 cargos deixados vagos pelo PMDB, que hoje deve romper oficialmente com o governo para precipitar o impeachment de Dilma e permitir a Michel Temer, vice-presidente do Brasil e líder do partido, assumir o governo. Enquanto Dilma e os colaboradores mais próximos vão recebendo deputados, negociando apoios em troca de posições no governo, uma prática que a presidente sempre disse abominar mas a que, por puro pragmatismo e instinto de sobrevivência, se submeteu, Lula trabalha em três frentes.
Orienta os seus deputados mais fiéis a efetuar discursos inflamados em plenário "contra o golpe em curso", a retórica oficial dos anti-impeachment, como Wadih Damous que chamou à Lava-Jato "a Guantánamo de Curitiba", aludindo à prisão de Cuba e à cidade onde opera Sérgio Moro. Colocou outro grupo de devotos lulistas a contar parlamentar a parlamentar os apoios garantidos neste momento no universo de 513. E pediu a especialistas do Planalto para prepararem a defesa de Dilma na Câmara, recolhendo argumentos para derrubar a tese das pedaladas fiscais, ou seja, manobras orçamentais, que sustenta o pedido de impeachment.
"O governo vai fazer uma ofensiva de última hora sobre partidos menores e deputados individualmente numa tática de operar no "varejo" e tentar os 171 votos necessários para barrar o impeachment", escreve a Folha de S. Paulo.
Do lado de Temer, Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, e outros líderes do PMDB o objetivo é o contrário - ou exatamente o mesmo. Convencer pelo menos 75% dos membros do partido e de cada pequena força da base aliada, as contas mínimas segundo seus cálculos, para obter os 342 votos necessários ao impeachment, a desertarem sob promessa de protagonismo num eventual governo Temer até 2018, ano de eleições. "Partidos oportunistas com PP e PR esperam apenas a dica peemedebista para deixar o PT a falar sozinho", escreve José Roberto de Toledo n"O Estado de S. Paulo.
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Os ministros
Outro elemento importante são os sete ministros do PMDB no atual governo. Se alguns não se preocupam em deixar o cargo à disposição apostando todas as fichas em Temer, outros não parecem dispostos a abandonar o governo e Dilma.
Ontem, a presidente reuniu-se com todos eles. A seguir, foi a vez de Temer encontrá-los. Pelo menos os titulares das Minas e Energia, Eduardo Braga, e da Agricultura, Kátia Abreu, já terão jurado fidelidade a Dilma. Aliás, no dia da posse de Lula, foi nomeado para o ministério da Aviação Civil um peemedebista, Mauro Lopes, para irritação de Temer, que não compareceu à cerimónia. Noutro sinal de que a guerra está aberta, o governo demitiu um protegido de Temer de um órgão público para oferecê-lo ao pequenino PTN, cujos 10 votos devem agora ser contra o impeachment.
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Em São Paulo