Psicólogo compara violência de Seabra a cartéis mexicanos
Diretor de neuropsicologia na New York University, Barr foi hoje questionado no tribunal de Nova Iorque pela procuradora Maxine Rosenthal, rejeitando a tese da defesa de que Seabra deve ser ilibado do violento crime de 7 de janeiro de 2011 devido a problemas mentais que o impediram de ter consciência dos seus atos.
O neuropsicólogo indicou que os vários testes clínicos que ministrou a Seabra contrariam o diagnóstico de "psicose clássica" que lhe foi feito, em particular nos dois hospitais por onde passou depois do crime.
Num destes testes, não houve quaisquer "indícios residuais" de desordem bipolar que "seriam de esperar em alguém que teve um episódio maníaco um ano antes" e a única anomalia detetada é ao nível da "hostilidade, instintos manipuladores e raiva".
"Significa que esta questão está mais relacionada com controlo de impulsos, raiva e outras coisas. Vê-se muito em pessoas que cometeram crimes violentos, as cadeias estão cheias" de pessoas com estes sintomas, disse Barr.
No início de 2012, Barr diagnosticou a Seabra "distúrbios emocionais com traços psicóticos em remissão total ", após 6 horas de entrevista pessoal e de rever os registos dos diferentes médicos que o avaliaram, além de provas do crime.
Escudando-se em relatórios de médicos que avaliaram o jovem em três unidades psiquiátricas, a defesa afirma que, na altura do crime, o jovem "estava em pensamento delirante, num episódio maníaco e desordem bipolar com características psicóticas graves" e logo não deve ser considerado culpado.
A defesa aponta ainda para a natureza brutal das agressões, incluindo mutilações genitais da vítima alegadamente ordenadas por "vozes" na cabeça de Seabra, como prova de um estado maníaco, o que Barr rejeita.
"Na maioria dos casos de crime, cometidos por psicóticos ou não psicóticos, o problema é alguém desencadear raiva, hostilidade, perder controlo dos seus impulsos", disse o neuropsicólogo.
Estes atos, adiantou, são "uma maneira de humilhar a vítima", de "tirar a virilidade", frequente entre homens "zangados".
"Infelizmente não é raro. Vê-se nos homicídios de cartéis no México", em que as vítimas aparecem com mutilações genitais.
Barr disse mesmo que Seabra, na sucessão de entrevistas desde o momento do crime até à dada ao psicólogo Jeffrey Singer, contratado pela defesa, tem vindo a dar relatos cada vez mais bizarros, relacionados com a mutilação e com o facto de obedecer a "vozes" na sua cabeça, durante o crime.
"Torna-se tudo cada vez mais estranho à medida que avançamos", afirmou Barr, sublinhando que ir "acrescentando um ponto à história" é "próprio da natureza humana".
Os testes ministrados a Seabra não detetaram sinais de exagero de sintomas ou mesmo fingimento, mas o psicólogo ainda acredita nesta possibilidade.
"Também não posso excluir [fingimento], porque há elementos do historial e apresentação de sintomas e outras coisas que me levam a acreditar que há uma possível fabricação de sintomas nalguns casos", adiantou.
A tese da procuradora é que não há provas de loucura antes do crime e que aquilo que leva ao diagnóstico de psicótico ocorreu durante ou após o crime.
Esta semana, sugeriu ainda em tribunal que, durante os seus meses de internamento psiquiátrico, Renato Seabra, fingiu ter problemas mentais após encontros com o seu advogado.
William Barr será interrogado esta tarde pelos advogados de defesa.