PSD decide futuro: Rio austero e ganhador vs. Montenegro conciliador e jogador

Conselho Nacional extraordinário do PSD vota hoje moção de confiança ao líder eleito há um ano, depois de este ter sido desafiado pelo antigo presidente da bancada parlamentar. Mas o que une e separa Rui Rio e Luís Montenegro
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São ambos do norte, um do Porto o outro de Aveiro. Um formado em economia o outro em Direito. Rui Rio tem 61 anos e é líder do partido, eleito em eleições diretas, às quais Luís Montenegro, de 45, não quis ir a jogo. Passado um ano, o segundo desafia o primeiro a deitar a toalha ao chão e a entrar numa nova corrida à direção do partido. Rio não lhe fez o gosto e joga hoje tudo numa moção de confiança no Conselho Nacional extraordinário, que está a começar no Porto. Um deles sairá vencedor deste duelo. Mas o que os une e o que os separa?

Rui Rio bate aos pontos Montenegro no que diz respeito ao currículo político. É óbvio que teve mais tempo para pedalar na político, e não é só por ter mais 16 anos e pertencer a outra geração de políticos que faz a diferença. O atual líder social-democrata já se sujeitou ao veredito das urnas, quando foi eleito para três mandatos na câmara do Porto, o desafiante ainda nunca teve essa oportunidade. E é atrás dela que está agora ao colocar em causa a linha política de Rui Rio, que considera "desastrosa" na oposição.

Rio austero e ganhador

Na verdade sabe-se muito mais de Rui Rio, precisamente por já ter sido escrutinado várias vezes, do que Luís Montenegro. O líder do PSD nasceu no Porto, a 6 de agosto de 1957, e ele próprio assume que o facto de ter estudado no Colégio Alemão moldou a sua personalidade mais exigente e austera, o que se reflete no modo como faz política. A licenciatura em Economia na Universidade do Porto terá determinado mais o início da sua carreira profissional.

Em Rio, o interesse pela política começou cedo, logo em 1974, ano em que aderiu à Juventude Social Democrata (JSD), por onde Montenegro também começou a sua filiação partidária bastantes anos mais tarde. Assume que entrou mais por se tratar do "partido de Sá Carneiro", pelo qual tem uma grande admiração, do que pela linha política do partido. Seja como for, na década de 1990 entra pela porta grande da política nacional, ao ser eleito deputado em 1991, na segunda maioria absoluta de Cavaco Silva . Lá se manteve durante 10 anos.

Neste período, foi vice-presidente do grupo parlamentar e destacou-se como porta-voz dos assuntos económicos do grupo parlamentar. Rio era visto pelos jornalistas parlamentares como a voz segura do PSD em todas as negociações do Orçamento de Estado.

É este rigor que terá levado Marcelo Rebelo de Sousa a escolhê-lo para seu secretário-geral quando assumiu a liderança do PSD, entre 1996 e 1997. Rui Rio entrou a matar e abriu uma guerra sem quartel com as bases, ao ter imposto um processo de refiliação de militantes que iria deitar borda fora muitos dos que orbitavam no partido. Os anticorpos que criou no aparelho, do qual nunca gostou nem gosta, ainda hoje se sentem em muitos que não o apoiam. É desta altura que também ficou enquistada a relação com o atual Presidente da República que também não morre de amores por ele. O facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter recebido recentemente Luís Montenegro, ainda sem ser candidato à liderança do PSD, foi visto por muitos como mais uma farpa de Belém ao antigo colaborador.

As autárquicas de 2001 ditaram um novo rumo na vida política de Rui Rio. Contra todas as sondagens, que davam a vitória ao socialista Fernando Gomes, a Câmara do Porto caiu no colo do social-democrata. Que repetiu a façanha mais dois mandatos, entre guerras com o poderoso Futebol Clube do Porto, os jornalistas e o setor da cultura da Cidade Invicta.

Foi ainda vice-presidente do PSD em dois momentos: a primeira, entre 2002 e 2005, quando partido era liderado por Durão Barroso e depois por Pedro Santana Lopes; e a segunda entre 2008 e 2011, durante o consolado de Manuela Ferreira Leite, que o apoia agora nesta contenta com Luís Montenegro.

Foi falado mais do que uma vez como hipótese para uma candidatura à liderança do PSD e até à presidência da República, era uma dos homens mais desejados do partido antes de Pedro Passos Coelho ter entrado em cena. Mas resistiu até que o antecessor atirou a toalha ao chão após as eleições autárquicas de 2017. Só então Rui Rio decidiu dar o passo em frente.

Montenegro conciliador e jogador

Para muitos Luís Montenegro é o rosto da política de Pedro Passos Coelho, nos austeros anos da troika, no Parlamento. É nesta altura que se projetou politicamente para o país. Mas a sua entrada para o Parlamento, aos 29 anos, dá-se em 2002, quando Durão Barroso era presidente do PSD e primeiro-ministro.

Licenciado em Direito pela Universidade Católica, a carreira política começou na JSD, tal como Rio, onde foi presidente da estrutura de juventude em Espinho entre 1994 e 1996. Mas não conseguiu ter o mesmo sucesso autárquico do opositor quando, nas autárquicas de 2005, foi vencido para a presidência da Câmara de Espinho pelo socialista José Mota.

Deputado durante 16 anos consecutivos, assume a vice-presidência da bancada em 2010, na direção de Miguel Macedo. E é com Passos Coelho, que só apoiou nas diretas de 2010, que chega à presidência do grupo parlamentar. Pelos seus pares é tido como um conciliador e negociador, muito longe do perfil mais frontal de Rio.

O antigo presidente da Assembleia da República, Mota Amaral, que agora é um dos mais fervorosos críticos do desafio lançado pelo ex-líder parlamentar do PSD, em 2012 elegia-o como o político a seguir em 2012, precisamente pela sua "capacidade de negociação".

O facto de ter sido desafiado por muitos no partido para avançar nas últimas diretas, ainda sem a certeza se Rio iria a jogo, e não o ter feito deixou alguns setores do PSD desiludidos. No congresso de consagração de Rio, posicionou-se para o futuro, o que lhe garantia um lugar na pole position dos putativos candidatos pós Rio, o que muitos associam também a um perfil de jogador. É nesta caracterização que enquadram o desafio agora feito à liderança, depois de algumas estruturas do partido, nomeadamente distritais críticas de Rio, o terem novamente pressionado avançar.

Profissão e estratégia

Também a nível profissional os percursos são muito diferentes. Rio iniciou a sua atividade na indústria têxtil, foi quadro do Banco Comercial Português e diretor e vogal do Conselho Fiscal da Caixa Geral de Depósitos. Antes de se candidatar à liderança do partido, estava no setor privado, na Boyden - Executive Search e na Neves de Almeida HR Consulting, empresas de recursos humanos.

Depois de ter saído do Parlamento, Luís Montenegro, que não terá direito a falar no Conselho Nacional, voltou a sociedade de advogados Sousa Pinheiro e Montenegro. Assegurou também vários espaços de opinião em órgãos de comunicação social, que lhe foram permitindo fazer críticas à condução política de Rui Rio, mas sempre dizendo que não colocaria em causa a direção do partido até às legislativas de outubro. O que aconteceu há poucos dias.

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