PS em pré-arranque para as europeias com Costa a ser o homem que disse "não passará"
Foi a memória de João Vasconcelos (ex-secretário de estado da Indústria, falecido em março) que ancorou toda a intervenção política no jantar do PS, esta noite, em Leiria. "Foi ele o meu grande companheiro a percorrer este distrito, quando aqui fui candidato, em 2002", começou por dizer António Costa, que na qualidade de secretário-geral do PS foi ao distrito tradicionalmente laranja pedir votos para as europeias, mas com os olhos postos nas legislativas.
"As pessoas que tinham dúvidas há 3 anos podem agora ter certezas. Dissemos sempre que daríamos passos seguros, mas nunca um passo maior que a perna. E somos capazes de dizer "pára aí" quando tem que ser". Com esta linguagem popular, Costa falava aos milhares que vieram de todo o distrito de Leiria - de Pedrógão Grande ao Bombarral - por diversos meios: um parque automóvel robusto, com vários autocarros que trouxeram militantes dos 16 concelhos, a maioria deles ainda nas mãos do PSD.
Costa sabe bem disso, e (também) por isso concentrou a maior parte do discurso para português ver: "Quando não é o PS a decidir, é a tentativa de enganar os professores, ou de enganar os portugueses, ou os dois ao mesmo tempo". Estava dado o mote para parte central do discurso, no dia em que o Governo ganhou na votação do parlamento a crise que abalou a política nacional dos últimos dias, a propósito do tempo de serviço dos professores. E já mais à vontade, António Costa pôde então dar-se ao luxo de desferir a frase: "Até pode ser que percamos votos, mas não perdemos a dignidade".
Depois dedicou alguns minutos ao PSD e ao CDS. "Se é assim na fase de aquecimento, imagem só o que vamos ter pela frente nas legislativas". Porque, na verdade, é nessas eleições que o atual Primeiro-Ministro já está a pensar. "Não nos iludamos, é preciso dar força ao PS, primeiro nas europeias", disse, ele que apelou a que "não deixem de considerar estas eleições como essenciais, pois são tão importantes como todas as outras". E são estas que têm [nos partidos da direita que focou] "candidatos muito engraçadinhos para debates na televisão, mas que não são capazes de dar um único contributo para melhorar a vida dos portugueses e para fazer crescer qualquer empresa em Portugal".
A meio do discurso, Costa haveria de dedicar algum tempo ao cabeça de lista do PS nas europeias, Pedro Marques, enaltecendo as qualidades do seu antigo ministro, ex-secretário de Estado de Sócrates, e antes disso vereador na Câmara do Montijo. Mas concentrou esforços no PS, acima de tudo.
"Somos o partido que mais se bateu pela Europa, a lista que melhor a conhece e mais fez pelo país". Nessa "pescadinha de rabo na boca´ que sempre foi dar às legislativas, António Costa acabou por ser muito claro: "Não sejamos ingénuos. Nestas eleições não estamos só a votar pela Europa, é por Portugal". Puxou então dos galões para dizer que "pela primeira vez o país está a crescer acima da média europeia, desde que entrou para o Euro". Recordou também que "foi o PS que pediu a adesão" à Europa.
"Que bem que me sinto aqui em Leiria. Mas é estranha a sensação de não estar aqui o João [Vasconcelos]. Esta é também a luta dele. Vamos ganhar estas eleições também aqui no distrito, homenagear o empreendedorismo desta terra, na figura no João", disse Pedro Marques.
O candidato puxou, também ele, dos galões que considera do governo: 16 mil empregos (por conta de outrem) no distrito, 1200 milhões fundos comunitários neste distrito. "Lutámos muito em conjunto para voltar a dar força em Leiria", disse Pedro Marques, que afinal até nem se importa que lhe chamem "geringonça": "Porque fica a nosso crédito as contas em dia; fomos para a europa e dissemos não, não nos resignamos".
E também ele quis fazer uma cronologia dos últimos acontecimentos, concluindo que "o país levantou-se e disse não à irresponsabilidade orçamental. António Costa levantou-se e disse não. Não passará". Foi quando deu ele próprio o mote para um slogan que parecia mais de legislativas que de europeias, como se não fosse ele o cabeça de lista, mas sim António Costa: "Costa, avança, com toda a confiança".