"Proxémia" e liberdade

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A violência sobre mulheres ocorrida em Colónia e noutras cidades europeias - protagonizada, em parte, por candidatos a asilo chegados à Europa - exige inteligência na compreensão e firmeza na ação. Atribuir tudo à bestialidade do in vino veritas, que ocorre em épocas "festivas", como o São Silvestre e o Carnaval, seria prestar um mau serviço à verdade. A entrada maciça de refugiados na Europa (em especial na Alemanha e na Suécia), num brevíssimo período de tempo, coloca problemas gigantescos, e não apenas de ordem logística. Edward T. Hall (1914-2009), um notável antropólogo norte-americano, cunhou o conceito de "proxémia" (proxemics) para explicar que as diferenças culturais se manifestam até nesta coisa aparentemente simples que é o espaço físico que deixamos entre nós e os outros quando caminhamos. Escreveu ele: "Indivíduos que pertencem a culturas diferentes não só falam línguas diferentes mas, o que por certo é mais importante ainda, habitam mundos sensoriais diferentes." (Hall, A Dimensão Oculta, 1966, p. 13). Muitos dos vândalos embriagados que ofenderam mulheres fizeram-no porque no seu "mundo sensorial" as mulheres são consideradas criaturas inferiores, indignas de frequentar o espaço público. O sucesso histórico do Ocidente ficou também a dever-se ao facto de que o respeito pelos direitos e pelo potencial criativo das mulheres, por si duramente conquistado, foi reconhecido consensualmente na esfera da cidadania. Esse é um valor absoluto que quem queira beneficiar da hospitalidade europeia não poderá quebrar sem sofrer as consequências. Isso implica uma resposta firme e rápida, também da polícia e dos tribunais. A hesitação e a pusilanimidade deixarão a rua entregue ao medo, e aos extremistas da ultradireita que dele se aproveitam para, em nome da segurança, destruírem as liberdades públicas.

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