Programa Brincar de Rua premiado pela UEFA
O programa "Brincar de Rua" acaba de valer à Associação Ludotempo, de Leiria, o prémio Fundação das Crianças UEFA 2020, no valor de 50 mil euros. "O prémio vem reconhecer a importância de mais de três anos de ação do programa Brincar de Rua e chega em circunstâncias extraordinárias, em que nunca como agora, dado o período de confinamento das crianças e o ensino à distância, foi tão importante cuidarmos da sua saúde física, mental e social", sublinha Francisco Lontro, coordenar do programa e mentor desta ideia. "É preciso sermos solidários com as crianças e mobilizarmo-nos para, em segurança, lhes darmos a oportunidade de vir à rua, todos os dias: serem mais ativas, brincar ao ar livre, contactar com a natureza, respirar... Por essa mesma razão, criámos as Tribos do Brincar", acrescenta.
Quando o DN contou a história desta associação e do "Brincar de Rua", nem por brincadeira se imaginava a vida como agora a conhecemos, em tempos de pandemia. Foi por isso que a Ludotempo ajustou a metodologia com um novo programa de capacitação: as Tribos do Brincar. "Com as crianças em confinamento desde 16 março, longe dos amigos e da família alargada, com 80% do seu tempo ocupado com atividades sedentárias, as Tribos do Brincar vêm dar resposta à necessidade de mudança para que as crianças possam ver-lhes devolvida a rua e o tempo de exploração e socialização ao ar livre, com espaço para serem ativas e brincarem livremente, de forma não estruturada", sustenta Francisco Lontro.
As Tribos do Brincar são constituídas por, no máximo, oito crianças, e por dois Guardiões do Brincar (adultos voluntários) que durante pelo menos uma hora por semana se reúnem sempre no mesmo local e horário. "A ideia é que as Tribos reúnam pessoas que fazem parte do meu núcleo de confiança: os meus filhos, o vizinho do prédio/rua, os filhos de familiares ou amigos mais chegados da escola dos meus filhos", afirma.
O prémio que agora distinguiu esta iniciativa envolveu 55 associações-membro da UEFA, entre as quais a Federação Portuguesa de Futebol, na designação de instituições de caridade candidatas que têm como objetivo apoiar crianças vulneráveis, desfavorecidas ou marginalizadas. A Ludotempo (APB), com o programa Brincar de Rua, foi uma das 20 escolhidas pelo Conselho da Fundação das Crianças para receber o prémio.
Numa nota à imprensa, a associação recorda que continua à procura de Guardiões do Brincar: "para se ser guardião é necessário ser bem-disposto, responsável e estar disponível para crianças", apenas. As candidaturas a Guardiã(o) do Brincar são em equipa (2 adultos) em que, pelo menos um seja pai/mãe ou tutor de uma criança. É necessário que os voluntários passem por uma entrevista, entreguem o registo criminal e concretizem uma breve formação. Entretanto, a Associação de Leiria deixa uma dica: as Tribos do Brincar podem ser criadas em todo o país e as atividades são totalmente gratuitas.
O Brincar de Rua arrancou oficialmente em 2016. "Divulgámos o programa, procurámos voluntários, que pudessem ser vigilantes - mostrar aos miúdos que estão ali em segurança e dar-lhes esse tempo para que possam usufruir do espaço e utilizá-lo como entenderem na relação entre pares, miúdos com diferentes culturas de brincar e de lidar com a frustração. E com a rua." Os voluntários (que recebem formação e a quem é pedido um registo criminal) são na maioria pais. Paralelamente, a Ludotempo foi batendo a várias portas, à procura de apoios. Primeiro juntaram-se parceiros locais, como a Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria, a PSP, a junta de freguesia ou o IPJ. Depois veio a candidatura a um programa da Fundação Gulbenkian, que não lhes deu o prémio mas permitiu-lhes o acesso a um curso intensivo de formação. E em 2017 a associação candidatou-se a uma bolsa da UEFA Foundation for Children, que se dedica à promoção de programas de atividade física para crianças, e acreditou no Brincar de Rua. Dessa vez ficaram entre os 12 premiados em todo o mundo. Três anos depois, a história de ambas voltaria a cruzar-se, não numa candidatura mas nos prémios.
Francisco Lontro contou ao DN que, nesta altura, há já 24 cidades portuguesas que aderiram ao programa. "Seriam muito mais, já, se não fosse a pandemia. Estávamos num processo de expansão importante".
De resto, a génese mantém-se: "Se em Freixo de Espada à Cinta houver um grupo de pelo menos duas pessoas, que são válidas, que têm um local onde pode acontecer, basta um mínimo de cinco crianças para ter um grupo", destaca Francisco Lontro. É só sair à rua e brincar com os amigos do bairro, no dia e na hora marcados, como dantes. E agora com normas da Direção Geral de Saúde.