A "coligação ad hoc", como lhe chama o politólogo André Freire, formou-se entre PSD, CDS e os partidos que apoiam o governo no Parlamento, BE e PCP, para obrigar o governo a sentar-se à mesa das negociações com os professores e a negociar a progressão nas suas carreiras. Uma coligação que o executivo liderado por António Costa não estava à espera e que já fez o líder da Fenprof, Mário Nogueira, ensaiar o canto da vitória..Mas será esta também a grande vitória do PSD e CDS, de Rui Rio e de Assunção Cristas, no debate do Orçamento do Estado para 2019, que termina na quinta-feira?.A deputada centrista Cecília Meireles diz que "sem dúvida" foi uma vitória e "era o mínimo que se podia esperar, depois de o governo ter criado falsas expectativas nos professores". O mínimo porque o máximo queriam o BE e o PCP, que viram chumbadas as suas propostas para o faseamento, com prazos de cinco a sete anos para a contagem integral do tempo de serviço, congelado durante os anos da troika..Cecília Meireles diz, no entanto, que as propostas aprovadas do PSD e CDS "são um sinal dado pelo Parlamento" de que é preciso chegar a um entendimento com aquela classe profissional..Os dois partidos à esquerda do PS aliaram-se, assim, ao de centro-direita para que o governo volte à mesa de negociações com os professores, sem prazos definidos para um entendimento. Fontes do PSD ouvidas pelo DN frisam que "além de ser justo obrigar o executivo a negociar com os professores a quem alimentou expectativas durante muito tempo, mostrará até que ponto António Costa é intransigente em ano eleitoral"..Isto porque, mesmo voltando a negociar com os sindicatos dos professores, nada garante que o governo venha a chegar a um entendimento sobre a reposição do tempo congelado. Nesse caso, a contestação social sairá à rua, com Mário Nogueira a ameaçar que manter o confronto terá consequências nas urnas..A questão é a de saber se a "vitória" do PSD e CDS poderá beneficiar os dois partidos caso António Costa e o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, não chegarem a um entendimento com os professores. E neste ponto as opiniões dividem-se..O politólogo António Costa Pinto tem dúvidas se será um "ganho" para os dois partidos. E explica: "A cedência aos professores não é popular entre o eleitorado de centro-direita, não é um tema a que sejam sensíveis." Ao contrário, diz, o PS e o governo aparecem por contraponto, depois de as acusações se ter apresentado um "orçamento eleitoralista", como "moderados e responsáveis". É por isso que os dirigentes socialistas começaram a explorar a ideia de que a oposição e também o PCP e o BE eram os "despesistas"..O facto de haver um maior potencial de conflitualidade no próximo ano, que é de eleições europeias e legislativas, fomentada pelos sindicatos dos professores, também não colhe louros para os partidos de centro-direita, na opinião de António Costa Pinto. Isto porque "É uma reivindicação muito setorial e a cultura política de centro-direita em Portugal não é muito sensível a este tipo de reivindicações sindicais tão específicas"..André Freire, também politólogo, frisa que não se pode falar de "coligação negativa" neste entendimento dos partidos no Parlamento sobre os professores porque não teve "intenção de derrubar o governo". Foi antes uma "coligação ad hoc" para que haja abertura do governo para negociar a reposição dos anos de carreira congelados dos professores.."Quem ganha com isto?" - questiona André Freire e não tem resposta definitiva. "Mas inclino-me a pensar que o PSD e o CDS fizeram bem ao propor que o governo volte às negociações." Porque, diz, não poderá ser só mero taticismo eleitoral. Vê posição de abertura do partido de Rui Rio e de Assunção Cristas uma "sinalização de que se fossem eles a governar seriam mais generosos com os professores". E lembra que o PSD já se tinha posicionado mais ao centro e, portanto, mais próximo das reivindicações sociais dos professores.