Principais economias do euro dão sinais de abrandamento. Como fica Portugal?
Que a economia europeia está a abrandar ninguém duvida. Basta ter em conta a evolução negativa do indicador de sentimento económico da zona euro neste arranque de ano e as primeiras estimativas para o PIB do 1.º trimestre de países como França, Reino Unido ou Espanha, que apontam para crescimentos menos expressivos em relação ao ano passado. Também a Alemanha, o motor económico da Europa, pode ter desacelerado nos primeiros três meses, por causa de uma quebra da produção industrial, antecipou na semana passada o Bundesbank, o banco central daquele país.
Para os economistas, a situação não é uma surpresa, mas não deixa de constituir um sinal de alerta. "De inesperado não tem nada, mas preocupante é de certeza", diz José Reis, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. João Duque concorda, mas espera para ver. "Dizem-me que, quando o crescimento é fraco em determinado semestre, é compensado no período homólogo do ano seguinte", refere, o que, a ser verdade, significará melhores indicadores na segunda metade do ano. O PIB cresceu 3% no 2.º trimestre de 2017, desacelerando para 2,5% no terceiro e para 2,4% no quarto.
"Não há nenhuma razão para se pensar que as economias europeias estejam a atravessar um momento de prosperidade ou de consolidação do seu crescimento", defende José Reis, professor catedrático em Economia, que argumenta: "Vivemos quadros de estagnação prolongada, com pequenas evoluções de curto prazo, que logo podem ser anuladas por tendências de sinal oposto." José Reis reconhece a importância comercial destes países para Portugal, mas lembra que a economia não é feita só de comércio. "Tanto do ponto de vista comercial como sobretudo do ponto vista financeiro e produtivo, a Europa tem hoje seríssimos problemas na relação entre as suas economias e a situação não é tranquilizadora", defende.
Augusto Mateus não concorda. O ex-ministro da Economia reconhece que a abertura da economia portuguesa é um dos aspetos mais positivos do caminho percorrido após a crise, mas nem por isso se mostra preocupado com a menor animação dos nossos principais parceiros comerciais. Mesmo com a Espanha a ser o destino de um quarto das exportações nacionais e origem de um terço dos turistas. "Como o abrandamento é ligeiro, até pode ser visto como uma boa notícia, porque a necessidade aguça o engenho e a mudança até pode obrigar-nos a ser mais inventivos", diz.
Até porque o crescimento, argumenta, é apenas uma das variáveis a ter em conta. "Eu entusiasmo-me mais com a qualidade da reestruturação, que se produza melhor, que se consuma melhor e se poupe melhor", porque é isso que vai, ou não, determinar um ciclo de prosperidade, diz, lembrando que Portugal "está ainda longe" de ter feito a sua reestruturação.
"Pessimista por natureza", João Duque assume que "é preocupante" o aparente abrandar das principais economias europeias e que é natural que se reflita em Portugal. Até porque, diz, "começamos outra vez a convergir e a aumentar mais a nossa exposição ao mercado europeu", com os consequentes efeitos "em termos de ciclo [económico] e de concentração". Razão por que vê com bons olhos as precauções do ministro das Finanças relativamente a gastos futuros. "Esta teimosia de o ministro insistir que vamos é ganhar juízo fez-me pensar. Acho que ele começou por ficar deslumbrado, mas o facto de o crescimento do terceiro e quarto trimestres de 2017 não ter sido nada de excecional arrefeceu os ânimos e levou-o a perceber que tem de ter cautelas antecipadas, porque sabe que está assente em cima de impostos que são variáveis e em função de um ciclo que é, também, variável", diz.