Primeiro plenário de motoristas rejeita desconvocar greve
Terminou pelas 12h30 o plenário de motoristas de matérias perigosas realizado em Leiria e ficou uma garantia: a greve que começa na segunda-feira, por tempo indeterminado, é mesmo para avançar.
Anacleto Rodrigues, porta-voz do Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), disse que "ainda há margem" para a associação patronal do setor apresentar propostas que evitem a greve reafirmada este sábado pelos presentes no plenário.
O dirigente sindical garantiu que os motoristas, a confirmar-se a greve, vão querer dar uma "certa imagem de civismo" dos motoristas e cumprir os serviços mínimos.
Anacleto Rodrigues disse que os sindicalistas vão estar atentos à presença de eventuais "infiltrados nos piquetes de greve" com o intuito de atuar como agitadores, pelo que haverá "uma linha aberta" com o Comando-Geral da GNR para que as autoridades possam afastar esses elementos e "evitar tentativas de desestabilização".
O porta-voz do SIMM reafirmou o objetivo dos motoristas em "ser pagos pelas horas que trabalham" e insistiu que vai haver "uma greve civilizada".
No plenário de Leiria - que reuniu cerca de 50 associados do SIMM, todos eles da região centro - os motoristas aprovaram por unanimidade "a manutenção do protesto" e a distribuição dos piquetes de greve, "para que não haja conflitos, para que quem esteja a assegurar os serviços mínimos possa atravessar os piquetes sem qualquer constrangimento", disse Anacleto Rodrigues, sublinhando que "ainda falta algum tempo até às 00h00 de segunda-feira, pelo que ainda está tudo em aberto".
"O que está aqui em causa é tão só uma relação laboral mais justa. Os motoristas querem ser pagos pelas horas que trabalham e ter um ordenado minimamente digno".
Anacleto Rodrigues, motorista na Marinha Grande, disse ainda aos jornalistas que já na segunda-feira alertou o ministro "para o efeito que poderia vir a ter, em termos gerais, o decreto dos serviços mínimos. Nós já adivinhávamos que eram generosos mas nunca pensávamos que fossem tanto". O porta-voz do SIMM sublinha que, neste caso, "a indignação deu lugar à revolta", face às medidas entretanto previstas pelo Governo, como utilizar os militares para conduzir os veículos de matérias perigosas. E aqui, Anacleto reparte a indignação: "nós andámos cerca de 20 anos a perder poder de compra. E neste momento sentimos que há uma série de poderes que se alia e conjuga na tentativa de silenciar os trabalhadores, de lhes retirar voz e não deixar que venham para a praça pública reivindicar os seus direitos".
Durante a greve - por termo indeterminado - os motoristas vão estar visíveis, divididos em piquetes por todo o país, "de uma forma cordial", até para "mudar um pouco aquela imagem que existe do motorista", em termos pejorativos. "Os motoristas são pessoas responsáveis. Já o provaram durante 20 anos, em que não tiveram qualquer atualização salarial".
Fora de hipótese está a colocação de qualquer barreira ou obstáculo nas estradas. Mais: os motoristas admitem ter "algum receio de que haja infiltrados nos piquetes de greve, na tentativa de desestabilizar e passar uma imagem errada do que são os motoristas". Recorde-se que o movimentos dos Coletes Amarelos já fez saber se vai juntar-se ao protesto. Mas os coordenadores dos piquetes estão instruídos para gerir a situação, identificado elementos estranhos à causa. "Temos uma linha aberta com o comando operacional da GNR para dar conta desses casos", disse.
Por esta altura há outra preocupação entre os motoristas: "nós, para fazermos o transporte de matérias perigosas, em cisterna, temos que fazer uma formação base e uma especialização, que é superior a 100 horas. Ora, colocar pessoas que há muitos anos não conduzem camiões e com formação em meia dúzia de horas...tememos essa situação", disse Anacleto Rodrigues.
Entre os cerca de 50 motoristas presentes havia apenas uma mulher. Carla Nunes, de Oliveira do Hospital, trabalha em pé de igualdade com o marido, conduz o mesmo camião, mas na folha de vencimento constam menos 60 euros, sem contar com os valores complementares que também são menores. É motorista há seis anos, e sempre sentiu essa discriminação. "Eu hoje vim cá precisamente para dizer que, além de sermos poucas, muitas das mulheres motoristas têm muito medo das represálias das empresas. Eu já trabalhei em algumas em que a diferença atinge os 200 euros", disse ao DN, no final do plenário.
"Tenho que reconhecer que essa era uma questão que nos passava um pouco à margem, até que hoje tivemos aqui esta denúncia clara", afirmou o porta voz do SIMM. "É mais um caso de violação dos direitos dos trabalhadores, e neste caso ainda mais grave, dos direitos das mulheres".
O grupo de Leiria da região centro seguiu para Aveiras, onde às 16 horas decorre um plenário conjunto de sindicatos, com os motoristas de matérias perigosas. Nessa altura haverá uma posição final sobre a greve agendada para segunda-feira, 12 de agosto.