Primeira mulher presidente de Taiwan promete defender soberania da ilha

Líder da oposição, Tsai Ing-wen, de 59 anos, é a mulher mais poderosa do mundo em língua chinesa. Formada em Direito, entre Taiwan, Reino Unido e EUA, defende o casamento homossexual e é fã de gatos
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"O dia de hoje representa o primeiro quilómetro da nossa estrada rumo à reforma." Foi desta forma que Tsai Ing-wen descreveu a sua vitória nas eleições presidenciais de ontem em Taiwan, tornando-se a primeira mulher na presidência da ilha considerada rebelde pelo regime chinês. "Esta não é só uma vitória eleitoral, mas também um apelo para formar um governo mais em sintonia com o povo... e que proteja a soberania", prosseguiu a candidata do Partido Democrático Progressista (PDP), que tem na sua agenda a independência daquele território. Apesar de reafirmar os princípios que defende a formação política que lidera, Tsai Ing-wen adotou, por outro lado, um tom conciliador face a Pequim: "Quero também sublinhar que ambos os lados do Estreito têm a responsabilidade de encontrar meios mutuamente aceitáveis de interação que sejam baseados na dignidade e reciprocidade. Temos que garantir que não há provocações ou acidentes."

Quando falou aos seus apoiantes em Taipé, capital de Taiwan, Tsai Ing-wen contava com quase 60% de votos quando 75% dos sufrágios estavam contados. A líder da oposição taiwanesa conseguiu mais de seis milhões de votos, enquanto que o seu rival, o líder do Kuomintang, Eric Chu, obteve cerca de três milhões. "Desculpem-me... nós perdemos. O KMT sofreu uma derrota eleitoral. Não trabalhámos duro o suficiente e dececionamos os eleitores. (...) Queremos felicitar a vitória do PDP, este é o mandato do povo de Taiwan", declarou o candidato do partido pró-regime de Pequim. O maior vencedor, realçou ainda Eric Chu, "é o povo de Taiwan".

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Após oito anos na oposição, Tsai Ing-wen levou também o PDP à sua primeira maioria absoluta na Assembleia Legislativa, com 67 assentos de um total de 113 (de acordo com dados preliminares). Aquela havia sido sempre dominado pelo Kuomintang. O regresso do PDP ao poder - tendo estado na presidência entre 2000 e 2008 com Chen Shui-bian - é visto como um fator que pode perturbar o diálogo entre Taiwan e a China continental. Isto além de assinalar uma estreia absoluta uma vez que Tsai será a primeira mulher a presidir um país de língua chinesa. Numa reação ao resultado das eleições, o Ministério para os Assuntos de Taiwan chinês avisou, em comunicado citados pelas agências: "Em questões de princípio como a proteção da soberania do nosso país e a integridade territorial a nossa vontade é sólida como uma pedra". O Weibo, género de Twitter chinês, censurou ontem todas as referências à vitória do PDP e à eleição da nova presidente taiwanesa.

O apoio ao PDP de Tsai começou a crescer desde 2014, quando centenas de estudantes invadiram a Assembleia Legislativa para protestar contra um acordo de comércio e de serviços que o governo ia assinar com a China continental, naquela que foi a maior manifestação de descontentamento para com o regime chinês em muitos anos na ilha de Taiwan. Já o declínio do KMT deve-se a uma conjuntura económica menos favorável e também às relações com a China. Para parte da opinião pública o presidente e governo cessantes tornaram Taiwan excessivamente dependente da economia chinesa e das trocas comerciais com Pequim. Uma estratégia para tornar inevitável, a prazo, a integração na República Popular da China. Por outro lado, com o desaparecimento da geração que se refugiou na ilha no final dos anos 1940 do século passado, com o então presidente Chiang Kai-shek, derrotado pelos comunistas de Mao Tsé-Tung, não tem parado de se afirmar a consciência de uma identidade própria entre os cidadãos de Taiwan, cultural, política e social, não dependente de qualquer vínculo com a China continental.

Os Estados Unidos, onde Tsai Ing-wen, formada em Direito, chegou a estudar na universidade, congratularam-se ontem com a vitória da líder do PDP. "Felicitamos o povo de Taiwan por demonstrar uma vez mais a força do seu sistema democrático", disse o porta-voz do Departamento de Estado. Fã de gatos - tem dois - defensora de medidas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, Tsai Ing-wen toma posse a 20 de maio. E aí terá não só que gerir a difícil relação com Pequim como relançar a economia e conseguir restaurar a confiança da opinião pública.

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