Primeira general está em funções.... mas ainda sem estrelas
Trinta anos após a entrada das primeiras mulheres na Força Aérea e nas Forças Armadas, a coronel médica Regina Mateus tornou-se nesta semana a primeira militar feminina a chegar ao generalato... embora desconhecendo quando poderá usar a estrela de brigadeiro-general na farda.
Regina Mateus terminou no verão passado o curso de promoção a oficial general, com um trabalho de investigação sobre "incapacidade e absentismo nas Forças Armadas". Desde segunda-feira - e durante pouco mais de um ano - exerce o cargo de diretora do Hospital das Forças Armadas (HFAR), instituição que celebrou há poucas semanas o seu quarto aniversário e continua sem resolver múltiplos e complexos problemas decorrentes da sua constituição.
Com 24 anos de vida militar e considerada pelos pares como uma profissional exigente e muito humana com os doentes, em especial os mais idosos, Regina Mateus tem estado mais ligada à área operacional e da medicina aeronáutica em particular. Mas sendo médica de cirurgia geral, os serviços de urgência no São Francisco Xavier têm-lhe permitido continuar ligada à área clínica.
"Se ficasse três ou quatro anos" à frente do HFAR, a futura brigadeiro-general Regina Mateus "deixaria obra", afirmou ao DN o neurocirurgião Rui de Carvalho, que em 2016 deixou o Exército após quase uma década como tenente-coronel e sabendo que talvez em 2019 fosse promovido a coronel - apesar de ser mais antigo do que a nova diretora do HFAR.
Enaltecendo o grau de exigência daquela militar feminina (MIF, na linguagem castrense), até porque trabalhou diretamente com ela na organização das equipas sanitárias enviadas há uns anos para o Afeganistão, Rui de Carvalho mostrou-se convicto de que a nova diretora do HFAR conseguirá aumentar a eficácia e a eficiência nas áreas do atendimento, do pessoal ou da informática - uma das que mais alertas suscitaram nos meses que antecederam o arranque do hospital único das Forças Armadas.
Segundo uma fonte do HFAR, apesar dos méritos que reconhecem à nova diretora, há a noção de que vem para fazer "metade do mandato" da Força Aérea (iniciado com o brigadeiro-general Lopes Tomé e que agora passou à reserva) - donde, nem ela tem a ambição de mudar muito nem as pessoas acham que ela vá fazer muitas mossas", previu a mesma fonte.
Regina Maria de Jesus Ramos Mateus nasceu em 1966 em Lourenço Marques (atual Maputo), frequentando a escola primária em Moçambique, na Rodésia e depois na Figueira da Foz. Em 1991 concluiu o curso de Medicina na Universidade de Coimbra (fazendo o internato geral nos dois anos seguintes). "É verdadeiramente uma médica militar, que exerceu funções ao nível do hospital como em áreas de conflito de elevada perigosidade" como o Afeganistão (três vezes), contou ao DN um oficial superior do ramo, sob anonimato por não estar autorizado a falar.
Sobre o perfil de Regina Mateus, a mesma fonte adiantou corresponder ao do "militar típico, que diz o que tem a dizer" e, aceitando outras opiniões, "exerce o poder quando tem de o exercer".
Conhecida por ser "toda ativa" ainda na vida civil, com uma das fontes a lembrar que Regina Mateus treinava natação "de uma forma competitiva", a militar concorreu em 1993 para a Força Aérea. "A principal razão foi a segurança no trabalho" após a confusão dos primeiros anos de democracia, disse há uns meses ao DN, que agora não conseguiu contactá-la.
Uma oficial no ativo que já trabalhou com Regina Mateus manifestou ao DN a sua admiração com a atitude e a disponibilidade que revela para com os doentes, em especial os mais fragilizados. Exemplo? Os idosos a quem era necessário tratar dos pés devido a unhas encravadas: "Podia descartar" e deixar para outros por ser "menos prestigiante ou porque cheira mal", mas a cirurgiã "pedia os instrumentos, sentava-se e cuidava... o que não era visível noutras pessoas", adiantou a fonte, de outro ramo.
Outra fonte do HFAR realçou o facto de Regina Mateus ser a mulher com mais missões internacionais, nomeadamente ao serviço da NATO - onde, além do Afeganistão, esteve na Lituânia, na Noruega, em São Tomé e Príncipe e na Líbia. "Estava sempre preocupada com a saúde operacional dos militares envolvidos", enfatizou por sua vez o sargento-mor José Jorge, enquanto um oficial superior no ativo acrescentava: "Não é uma mangas de alpaca, é uma operacional", do "tipo calmo" mas disciplinador.
Regina Mateus desenvolveu ainda o equipamento interno para as aeronaves de transporte C-295 terem capacidade de ir buscar doentes infetados com o vírus do ébola a África, caso fosse necessário.