Prédio Coutinho. "Estão a rebentar todas as paredes à volta do meu apartamento"
Começou a demolição do prédio Coutinho. Os trabalhos no interior do Edifício Jardim, em Viana do Castelo, iniciaram-se esta manhã de sexta-feira, por volta das 8:30 horas, com pelo menos nove moradores no interior, que se recusam a deixar a sua habitação.
"Estão a rebentar todas as paredes à volta do meu apartamento", contou Maria José da Ponte, uma das residentes que ainda não deixou o prédio com 105 frações, ao Jornal de Notícias. O objetivo é intimidar as pessoas, garante.
No local está uma uma ambulância do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), chamada depois de um dos moradores do quinto andar se ter sentido mal.
A água, o gás e a luz foram cortadas durante a tarde desta quinta-feira, anunciou a VianaPolis, a sociedade que gere o edifício, em comunicado. No mesmo documento, estava ainda referida a proibição da " entrada de qualquer pessoa não autorizada pela VianaPolis" no prédio. O que não impediu um familiar de um dos moradores de ter conseguido fazer chegar ao quinto andar, através de uma corda, um saco com lanternas e velas. É assim que estão também a ser transportados alimentos.
Na sequência da recusa dos nove moradores em deixar as suas casas, a VianaPolis formalizou, esta quinta-feira, junto do Ministério Público, uma queixa-crime contra estes por ilegal de seis frações, disse à Lusa o presidente da Câmara de Viana do Castelo.
Já o advogado dos últimos nove moradores do prédio Coutinho condenou a posição de força da VianaPolis por cortar o abastecimento de água e gás e impedir o acesso de familiares ao imóvel. "A atitude da VianaPolis não tem contribuído para que as pessoas estejam serenas, porque cortam a água, o gás, põem grades à porta, impedem o acesso dos familiares. Mesmo se estivessem interessados, se assim decidissem a sair, isto não é forma", afirmou Magalhães Sant'Ana.
"Aqui os abusados somos nós, os poderes públicos, porque [os moradores] há 19 anos que sabem que têm de sair de lá", afirmou esta sexta-feira o ministro do Ambiente, Matos Fernandes.
Para o governante, os moradores "não podem estar ali". "Estão a ocupar um espaço que não é deles", estão a "incumprir" uma decisão judicial e "correm o risco de estar a cometer um crime". A prova disto, segundo Matos Fernandes, é os moradores terem imposto um conjunto de ações em tribunal para tentarem impedir a demolição do edifício e "perderam-nas todas".
A demolição do prédio de 13 andares está prevista desde 2000 ao abrigo do programa Polis, mas a batalha judicial iniciada pelos moradores travou o projeto iniciado durante o mandato de António Guterres como primeiro-ministro e José Sócrates como ministro do Ambiente. Para o local, está prevista a construção do novo mercado municipal da cidade.
"Há 19 anos que estamos a faltar à palavra aos comerciantes do mercado municipal, que viram o seu mercado demolido e mandados para a periferia da cidade", referiu o ministro do Ambiente.