Pré-pandemia. Salários subiram mais no privado do que no público
Os salários dos trabalhadores do setor privado tiveram um maior reforço do que no público no arranque do ano, comparando com o mesmo período de 2019, de acordo com os dados divulgados ontem, quinta-feira, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
"No setor privado, a remuneração total registou uma variação homóloga superior à do setor das administrações públicas (3,3% vs. 3%), passando de 1064 euros em março de 2019 para 1100 euros em março de 2020", indica o gabinete de estatística.
E o mesmo se passou com a parte regular dos salários, ou seja, o que os trabalhadores ganham habitualmente antes de impostos e contribuições. "A componente regular também aumentou mais no setor privado (3,3% vs. 3,2%), passando de 937 euros para 968 euros". Já a remuneração base teve um comportamento diferente, aumentando "menos no setor privado (3,1% vs. 4,0%), passando de 881 euros para 908 euros".
O INE explica que "as diferenças remuneratórias observadas, em média, entre o setor das administrações públicas (AP) e o setor privado refletem diferenças, entre outras, no tipo de trabalho realizado e nas qualificações dos trabalhadores que os integram".
"Com efeito, verifica-se que os trabalhadores do setor das AP têm, em média, níveis de escolaridade mais elevados: no setor das AP 52,9% dos trabalhadores tinham completado o ensino superior em 2018 (20,1% no setor privado), 25,0% o ensino secundário ou pós-secundário (29,9% no setor privado) e 22,1% até ao 3º ciclo do ensino básico (50,0% no setor privado)", conclui.
De acordo com os dados do INE, no primeiro trimestre deste ano, os salários reais, ou seja, descontando o efeito da inflação, estavam a subir 2,8% face aos primeiros três meses de 2019. O incremento foi visível tanto no salário base médio bruto como na remuneração bruta que habitualmente o trabalhador aufere por mês.
Estes resultados dizem respeito a cerca 4,2 milhões de postos de trabalho, correspondentes a beneficiários da Segurança Social e a subscritores da Caixa Geral de Aposentações.
A remuneração bruta mensal média por trabalhador era de 1189 euros em março, tendo registado um aumento homólogo de 3,2%. Já o salário habitual médio por trabalhador, que exclui, entre outras componentes salariais, os subsídios de férias e de Natal, também registou um acréscimo homólogo de 3,2%, passando de 1036 euros em março de 2019 para 1069 euros em março de 2020.
Pela primeira vez, o salário base mensal bruto dos trabalhadores (inclui público e privado) ultrapassou a barreira dos 1000 euros em março. De acordo com o INE, registou-se um incremento de 3,2%, passando de 974 euros em março do ano passado, para 1005 euros este ano.
Os dados agora divulgados pelo INE ainda não refletem a crise pandémica no mercado de trabalho. O gabinete de estatística refere que a 22 de abril de existiam 6195 empresas com pedidos de lay-off aprovados pela Segurança Social, representando apenas 1,5% das empresas e empregavam 72,6 mil trabalhadores (1,7% do total). Ou seja, só em abril é que se registaram os pedidos massivos para suspensão do contrato ou redução do horário e respetivo salário.
Os dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística indicam ainda que os aumentos foram maiores nas empresas com menos trabalhadores, ou seja, micro e pequenas.
Em relação a março de 2019, "as maiores variações da remuneração total foram observadas nas empresas de 1 a 4 trabalhadores (4,7%), de 50 a 99 trabalhadores (3,7%) e de 5 a 9 trabalhadores (3,6%)", refere o INE, acrescentando que "as menores variações homólogas foram registadas nas empresas com 20 a 49 trabalhadores (2,4%) e com 500 e mais trabalhadores (2,8%)".
Desagregando por setores de atividade, as variações são muito díspares e vão de 0,6% a quase 12%. "A maior variação da remuneração total foi observada nas atividades de eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio (11,7%), seguida das atividades administrativas e dos serviços de apoio (4,7%), refere o INE.
No extremo oposto estão as atividades ligadas à cultura e ao desporto. "Por seu turno, a remuneração total nas atividades artísticas, de espetáculos, desportivas e recreativas aumentou 0,6%, e a das atividades dos organismos internacionais e outras instituições" fora do território nacional aumentou 1,2%.