Soldados do Exército vs. marinheiros. Em seis anos, os primeiros perdem 22 mil euros
Cerca de 70% dos jovens que entram no Exército como soldados acabam o contrato de seis anos no posto e, nesse período, perdem mais de 22 mil euros face aos que entram para a Marinha na mesma altura, disse ao DN o cabo-mor Luís Reis.
Presidente da Associação de Praças (AP), Luís Reis explicou nesta segunda-feira ao DN que esse diferencial rondava os 22 mil euros até 2018. O aumento do salário mínimo para os 635,07 euros explica a perda para "cerca de 22 300 euros" em relação às praças da Marinha.
A AP não fez a comparação relativamente às praças da Força Aérea porque a diferença remuneratória para as do Exército é menor, embora significativa. A explicação reside no facto de a Força Aérea só começar a pagar o suplemento da condição militar (SCM) após o curso de formação complementar.
A Marinha é o único ramo com um quadro permanente de praças - e, mesmo assim, "a segurança e a estabilidade" inerentes a essa situação já não é suficientemente aliciante, pois há cursos que ficam com vagas por preencher, observou o líder da AP.
Explicação? As praças já passam tanto tempo embarcadas nos anos iniciais de contrato que "não querem" continuar com esse regime após o curso de admissão aos quadros.
Em termos quantitativos, os 70% de praças do Exército que chegam ao fim dos seis anos de contrato no mesmo posto são cerca de 3700, enquanto na Força Aérea rondam os 200 militares (cerca de 10% do efetivo), adiantou Luís Reis.
A justificação para a perda salarial de quem entra como soldado para o Exército tem várias razões face aos outros ramos, admitiu Luís Reis: só começam a receber o SCM - 158,05 euros - depois de terminada a recruta e o curso da especialidade (sete a nove meses); ter um ano de serviço efetivo nas fileiras para poder concorrer ao curso de cabos; haver um limite máximo de alunos para o curso de cabos; os custos financeiros da distância para as unidades onde é ministrado o curso e que muitos soldados não conseguem pagar porque "ganham pouco".
Os soldados "têm de fazer opções" com o que ganham e muitos "preferem não ir ao curso" de promoção a cabo, enfatizou o presidente da AP, relembrando aqueles que acabam a perder dinheiro indo a casa todos os fins de semana.
Fica por saber se, dada a significativa falta de pessoal na categoria de praças que há muito afeta o Exército, haverá chefias de algumas unidades a fazer alguma triagem dos potenciais candidatos para garantir que os respetivos quartéis não ficam de repente sem soldados.
No caso da Marinha, ramo a que Luís Reis pertence, os candidatos são graduados como primeiros grumetes (segundo cabo no Exército e na Força Aérea) após as seis semanas de recruta e, no final do curso de especialidade, são desgraduados e promovidos de facto a esse posto.
Um ano depois ocorre a promoção automática ao posto de segundo marinheiro (primeiro cabo) e, após mais três anos, ocorre a promoção a primeiro-marinheiro (cabo adjunto).
O presidente da AP lamentou ainda o que disse ser "uma regressão" na Força Aérea: passou a admitir jovens com o 9.º ano de escolaridade nalgumas especialidades com grande falta de efetivos - mas, depois, exige-lhes o 11.º para tirarem o curso de cabos.
Mas, como essas duas centenas de soldados fazem "escalas sucessivas" devido à falta de pessoal, "não conseguem estudar. E, se não conseguem estudar, ficam soldados", acrescentou Luís Reis.
Quanto às praças que entram diretamente na Força Aérea com o 11.º ou o 12.º anos de escolaridade, começam a tirar o curso de cabos com a fase da instrução complementar (especialidade) e chegam ao fim do contrato de seis anos como cabos adjuntos.