Vasco, de quatro meses, herda muita coisa dos irmãos mais velhos, mas, em matéria de puericultura, há sempre novidades. Quando o Tiago e o Diogo nasceram, há 5 e 4 anos, respetivamente, ainda não se ouvia falar numa cadeira que se movimenta para cima e para baixo e balança para um lado e para o outro, imitando os movimentos que os pais fazem quando embalam os bebés - um famoso equipamento que custa perto de 300 euros. "Era algo que não íamos comprar, porque não sabíamos se o Vasco ia gostar. A possibilidade de alugar equipamentos permite experimentar para ver se ele se adapta. Além disso, a oferta está sempre atualizada em relação ao que existe no mercado", diz a mãe, Sandra Ferreira, médica, de 42 anos..Sandra e o marido já alugaram vários equipamentos para os filhos, desde berços a aquecedores de biberões. "Geralmente, alugamos coisas que queremos experimentar para ver se gostam ou que vamos usar durante pouco tempo", explica Miguel Caridade, engenheiro, de 50 anos. O berço, por exemplo, custa quase 200 euros na loja, mas pagaram menos de 50 euros para o ter em casa durante quatro meses. "Íamos fazer um investimento grande para uma utilização de tão curta duração?", questiona Sandra, destacando que o conceito "é espetacular". E as vantagens não são só financeiras. "Poupamos espaço. Com três filhos, a casa torna-se pequena para arrumar tanta coisa"..Quando pretendem alugar algum equipamento, Sandra e Miguel vão à GUGUrent, uma loja em Coimbra que oferece este serviço. Ao DN, Paula Soares, proprietária, conta que a ideia surgiu depois de ter sido mãe, em 2012. Teve a sorte de receber muito material dos vizinhos, mas pensava "nas pessoas que têm de comprar tudo". Formada em belas artes e a trabalhar na área do eco-design, criou um negócio de aluguer de equipamentos de bebé: berços, carrinhos, marsúpios, camas de viagem, cadeiras para o carro, espreguiçadeiras, balanças, esterilizadores, bombas de extração de leite. "Só não aluga fraldas", graceja Sandra Ferreira..Os equipamentos para bebé são geralmente dispendiosos e úteis apenas por um curto período de tempo. "Com esta modalidade, a poupança pode ser acima dos 50%. Em alguns casos, pode mesmo chegar aos 70%. Os carrinhos, por exemplo, são absurdamente caros". Entre as principais vantagens, Paula destaca também a "gestão de espaço". "Há uma fase da vida em que os filhos invadem as divisões todas da casa. E passa pouco tempo até deixarmos de precisar de uma grande parte das coisas", sublinha. Outra mais-valia é a possibilidade de as famílias poderem experimentar os equipamentos. "O período mínimo de aluguer é geralmente um mês. Só é mais elevado se não tiver o produto em stock"..Ao alugar os equipamentos, os pais estão também a ser amigos do ambiente, já que uma grande parte das peças são feitas de plástico e estão associadas a um grande consumo de recursos. "Há um desperdício enorme. Vê-se muito material de bebé em caixotes do lixo. Isso choca-me imenso", assume Paula. Além disso, têm acesso a equipamentos de qualidade de marcas conhecidas. "Sou muito picuinhas e, por isso, todo o material que alugo tem de estar imaculado". Há um grande cuidado ao nível da higienização e da segurança. Quando o equipamento fica danificado, deixa de ser alugado..Embora não seja um conceito novo, não está tão banalizado como noutros países, nomeadamente França e EUA. "Mas as pessoas começam finalmente a conhecê-lo e a passar a palavra". Apesar de estar sediada em Coimbra, Paula diz que quase 90% dos clientes são de outras cidades: "40% de Lisboa, 25% do Porto e os restantes de Coimbra e outra zonas". São casais que têm, em média, 35 anos, "mentes mais abertas" e "estão habituados a fazer compras pela internet", uma vez que é este o principal canal de comunicação com a empresa. Há entregas na loja e envios feitos diretamente através dos fornecedores, e os alugueres podem ser de curta ou longa duração.."Somos induzidos a comprar muita coisa".Maria Ferrão, empresária, de 42 anos, estava grávida do primeiro filho quando descobriu a GUGUrent. "Achei a ideia fantástica. Sou uma pessoa muito prática. Muitas vezes somos induzidos a comprar imensa coisa, mas fazia-me confusão a parafernália de coisas que é preciso comprar", diz ao DN. Quando o Pedro nasceu, alugou um berço por seis meses, mas acabou por prolongar o aluguer por mais seis. "Quando deixou de dormir lá, sabia o que fazer com ele. Não ocupa espaço em casa, não fica num canto da garagem, não tenho que o vender". Mas depois nasceu a filha mais nova: a Joana. "Porque não hei de dar ao meu segundo filho uma coisa mais moderna? Depois voltei a alugar um berço por seis meses"..Desta forma, as famílias conseguem dar os filhos "coisas que não conseguiriam dar se tivessem que as comprar". "E temos sempre os últimos modelos, o que nos permite estar atualizados". Além do berço, Maria alugou a espreguiçadeira, a cadeira da papa, a bomba para extrair leite, um aquecedor de biberões, um parque, um ovo com rodas, a cadeira para o carro. E o saltitão - uma espécie de baloiço para bebés. "A Joana adora saltitar", mas já percebeu que, quando a sentam ali, é porque a mãe vai fazer alguma coisa. "Ou seja, já não o vai usar durante muito mais tempo. Se o tivesse comprado, ficava encostado"..O aluguer do material está sujeito ao pagamento de uma caução, mas é muito raro haver problemas. "As coisas ficam sob a nossa responsabilidade. Tentamos preservar ao máximo, até porque o equipamento vai para outros bebés. Temos preocupações de higiene e para não se estragar", diz Carla Albuquerque, enfermeira, de 36 anos, que alugou dois berços (um para casa de férias) e uma balança. Neste momento já não tem nada em casa, mas garante que voltará a recorrer ao mesmo método se tiver mais algum filho. "Identifico-me muito com este conceito. É muito satisfatório em termos de qualidade e ao nível económico"..Mais lojas no país.Existem outras empresas em Portugal que se dedicam ao mesmo negócio, embora ainda em número reduzido. Uma delas é a UPAbaby, que abriu em 2011, pelas mãos de Eduardo Moreira. Pai de gémeas, ao fim de um ano começou a aperceber-se que tinha imenso equipamento que já não usava. "Havia muitas empresas do género lá fora, mas em Portugal não existia quase nada", recorda..A grande maioria dos clientes da empresa são estrangeiros que se encontram em Portugal de férias. Desta forma, "não vêm carregados com o material", o que muitas vezes implica custos adicionais, e recebem os equipamentos logo no aeroporto. "70 a 80% são estrangeiros, que fazem alugueres por uma ou duas semanas". Começam a aparecer alguns portugueses interessados, "mas geralmente têm mais relutância em alugar e colocam mais questões". Eduardo acredita que não será uma questão de preconceito, mas "não há esse hábito na nossa sociedade". Quando recorrem a esta modalidade, procuram geralmente berços ou balanças. "Mas não deixa de ser um mercado em crescimento". Presente em Lisboa e no Porto, a UPAbaby faz entregas em todo o país.