Portugueses publicam fotos pouco ousadas no Tinder
Quando se trata de expor o corpo, eles publicam imagens em tronco nu, elas de biquíni. Mas são poucos os que o fazem. De acordo com um estudo do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL) do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), que analisou 200 perfis do Tinder, num total de 700 fotografias, "não se verificou uma sensualidade ou erotismo explícitos" nas imagens publicadas, "fatores que poderiam ser expectáveis numa aplicação como o Tinder, sobretudo depois de os entrevistados apontarem esse tipo de fotografias como o mais interessante".
Apenas 9,8% dos utilizadores que faziam parte da amostra partilham fotografias onde há uma exposição do corpo, sendo que em 2% dos casos essa exposição surge na primeira fotografia. "Sendo uma rede de online dating [que localiza pessoas que se encontram próximas], era previsível vermos fotos mais ousadas, mas não encontrámos muitas. A maioria eram fotos do Facebook, ditas normais", adianta ao DN Jorge Vieira, investigador do CIES-IUL, que acredita que a explicação estará no "colapso de contextos". "O Tinder já não é uma rede tão específica, mas uma plataforma onde pode estar o primo, o colega de trabalho, o amigo."
A mistura de pessoas do contexto de trabalho ou familiar na plataforma contribuirá "para que não haja uma apresentação tão explícita". "Há a perceção de que é cada vez mais um espaço público. Aparece na televisão, nas séries, nos anúncios. Qualquer pessoa de diferentes contextos pode estar lá. Isso leva a um maior recato, a uma maior preocupação com o que se diz e com a forma como a pessoa se apresenta", explica Jorge Vieira.
Será também essa consciência relativamente a quem poderá estar registado na rede que faz que alguns utilizadores não deem a cara, nomeadamente, lê-se nas conclusões, "quando quem o faz se apresenta como casado", sendo impossível apurar a sua identidade. "Numa rede que supostamente é para conhecer pessoas, será difícil fazê-lo sendo anónimo, mas encontramos uns quantos perfis assim", revela o investigador.
As fotografias de biquíni ou em tronco nu são no contexto que era expectável, ou seja, na praia. "Não encontrámos selfies no espelho da casa de banho, por exemplo. Dos estudos que lemos, há também a perceção de que as pessoas se retraem perante uma rapariga ou um rapaz muito ousados. Demasiada exposição ainda é mal vista", refere Jorge Vieira. Além disso, lê-se no estudo, " a criação do perfil no Tinder é realizada através do Facebook e esta rede social tem uma política assumidamente discriminatória, uma vez que o algoritmo não permite a publicação de fotografias de indivíduos do género feminino nas quais exista nudez explícita, como por exemplo o peito". Para editar o perfil, é necessário eliminar ou trocar essas imagens por outras.
Quatro fotos por perfil
De acordo com a equipa do CIES--IUL, cada utilizador tem, em média, quatro fotografias no perfil, maioritariamente de rosto e individuais (67,8%). Mas também há quem partilhe fotos em ambientes sociais como festas, concertos ou restaurantes (23,3%). Em alguns casos, só na segunda ou terceira imagem é possível saber de quem é o perfil em causa. De forma residual, surgem com os animais de estimação (0,9%).
A principal diferença entre os perfis do sexo masculino e feminino está na informação que é partilhada. "Os homens dão mais informação sobre si no tipo de fotos que publicam: a praticar desporto, no automóvel, a ver televisão, de relógios ou barcos. Além disso, escrevem mais nos textos, tanto a descrever-se como naquilo que estão à procura", afirma o professor do ISCTE-IUL. Há quem diga que procura "uma relação", uma "mulher simples" ou que está simplesmente "a experimentar" a plataforma. "Talvez haja alguma vergonha associada. Conhecer num bar ou no Tinder é a mesma coisa, mas parece existir algum preconceito."
Pontualmente, surgem imagens em que emerge a categoria profissional, mas "a informalidade é uma tónica comum nas fotografias partilhadas". Relativamente à língua, metade dos que publicam informação extra escrevem também em inglês, o que estará relacionado com o crescimento do turismo em Lisboa, cidade onde foi realizado o estudo.
Rita Sepúlveda, doutoranda em Ciências da Comunicação no ISCTE-IUL, vai continuar a investigação sobre o Tinder. "Queremos ver como os portugueses se apresentam, como se iniciam as conversas, quem dá o primeiro passo, quanto tempo entre a primeira mensagem e um encontro", adianta o orientador de mestrado.