Portugueses continuam a trabalhar as mesmas horas que os seus pais
Os portugueses trabalham hoje praticamente o mesmo número de horas que os pais, há 25 anos. O horário médio semanal de trabalho efetivo foi em 2019 de 40,8 horas, pouco abaixo das 41,1 horas de 1995, indicam os dados publicados ontem pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE).
Os números contrariam assim uma conceção generalizada de que, com o desenvolvimento tecnológico e a mecanização, os horários de trabalho acabariam por diminuir ao longo dos anos. "A ideia de que o aumento da produtividade, impulsionado pelo progresso tecnológico, iria de mãos dadas com a diminuição do horário de trabalho" já não é nova, lembra a OCDE: "gerações após gerações, as pessoas trabalhavam menos do que os seus pais." Já em 1930, o economista John Maynard Keynes antecipava que, no horizonte de algumas gerações, a inovação tecnológica e o aumento da produtividade tornariam possível a semana de trabalho de 15 horas. Tal parece ainda longe.
No entanto, "analisando a mediana das horas efetivamente trabalhadas para empregos a tempo completo nos últimos 25 anos, esta visão não é suportada nos dados", sublinha a organização sediada em Paris.
A OCDE regista pequenas variações ao longo do quarto de século analisado e isolando as duas primeiras décadas deste século, houve casos em que até aumentaram. "Em média, as horas dos trabalhadores a tempo inteiro aumentaram ligeiramente, na Bélgica, Finlândia, Itália, Grécia e Portugal, estagnando nos Estados Unidos, e diminuindo ligeiramente noutros países", indica a instituição.
Em termos de horas efetivamente trabalhadas, Portugal é o sexto país com horários de trabalho mais extensos, entre os 18 Estados-membros incluídos nesta avaliação. Israel (45,3), Nova Zelândia (42,6), Estados Unidos (42,1), Reino Unido (42) e Áustria (41,1) surgem no topo da lista divulgada no relatório sobre o emprego - Employment Outlook 2021.
A OCDE avalia ainda o impacto da pandemia no mercado de trabalho e prevê que as ondas de choque ainda se prolonguem por algum tempo. Em termos de desemprego, a organização indica que Portugal foi dos países onde a taxa menos subiu, mas a explicação pode estar no aumento do número de inativos. Outro efeito foi a redução do número de horas trabalhadas, tanto pelo efeito da destruição de empregos como pela redução das horas efetivamente trabalhadas.
Este fenómeno foi mais marcado nas profissões menos qualificadas e de salários mais baixos. Em termos de horas trabalhadas verificou-se uma redução média de 28%, uma diferença superior a 18 pontos percentuais face às profissões altamente qualificadas. Portugal surge como um dos países em que essa quebra de horas trabalhadas foi mais cavada, com uma redução de 49,6%.
A pandemia dizimou cerca de 22 milhões de empregos na OCDE, em comparação com 2019, estima a organização, apontando para que em todo o mundo 114 milhões de empregos tenham desaparecido. E assume que "no final de 2020, os países membros estavam apenas a meio caminho de uma recuperação total do emprego", que apenas "será alcançada no final de 2022", de acordo com as projeções.