Portugal informou a União Europeia que pretende manter a mudança de hora

Na madrugada de domingo os relógios atrasam uma hora. E o Executivo de António Costa já fez saber à UE que quer manter o atual regime bi-horário, ter uma hora de verão e uma hora de inverno. Uma posição que vai contra a proposta da Comissão Europeia em acabar com as mudanças de hora sazonais em 2019
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O Governo português já informou a União Europeia que quer manter a mudança de hora. O executivo de António Costa "manifestou discordância" com a proposta da Comissão Europeia, confirmou o Ministério do Planeamento, esta quinta-feira, ao jornal Público.

Em agosto, a Comissão anunciou que iria propor formalmente o fim das mudanças de hora sazonais em toda a União Europeia, já em 2019, depois de um inquérito feito a nível comunitário, no qual 84% dos cidadãos europeus manifestou a vontade de manter sempre os mesmo horário.

Caso a proposta seja aprovada pelo Parlamento Europeu e o Conselho Europeu, os Estados-Membros têm até abril para notificar a Comissão Europeia sobre a intenção de aplicar permanentemente a hora de verão ou a hora de inverno.

Segundo um comunicado do Executivo comunitário, "a última mudança obrigatória para a hora de verão ocorreria no domingo, 31 de março de 2019. Em seguida, os Estados-Membros que desejassem mudar permanentemente para a hora de inverno poderiam fazer uma última mudança de horas sazonal no domingo, 27 de outubro de 2019. Após essa data, as mudanças de hora sazonais deixariam de ser possíveis."

"O bom critério e único é o critério da ciência", diz o primeiro-ministro

No início de outubro, o primeiro-ministro António Costa defendeu que Portugal deve manter o atual regime bi-horário, ou seja, ter uma hora de verão e uma hora de inverno. Uma posição do Governo português que tem como base um estudo elaborado pelo diretor do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), Rui Agostinho.

"O que foi expresso até ao momento é o entendimento de que em Portugal devemos manter este regime bi-horário, com hora de verão e hora de inverno. Não vejo razão para que se contrarie a ciência e se faça algo de forma discricionária", afirmou o chefe do Governo em entrevista à TVI. "O bom critério e único é o critério da ciência", afirmou.

"O regime da hora de verão tem vantagens para a altura do verão, mas tem desvantagens para a altura do inverno, e vice-versa", defende Rui Agostinho, ao DN. "Nenhum dos regimes têm sempre aspetos positivos ao longo de 12 meses", afirma.

E, recordando a última vez que Portugal mexeu nos horários, entre 1992 e 1996, Rui Agostinho avisa: "O país já experimentou isto e as pessoas acharam que não era bom. Portanto, voltarmos a forçar isso é voltar a ter queixas das pessoas daqui a dois, três anos, a dizer que isto não está bem".

Desvantagens

De acordo com o diretor do OAL, se não mudarmos a hora na próxima madrugada de domingo, 28 de outubro, no final de novembro, em dezembro, o nascer do sol vai acontecer perto das 09:00. "Quer dizer que as as crianças entram na escola às 08:00 e está escuro. O corpo ainda não despertou, não há luz solar e o trabalho não rende. E vai ter-se este problema em novembro, dezembro, janeiro e fevereiro", exemplifica Rui Agostinho sobre as desvantagens de se manter a hora de verão o ano inteiro.

E se optarmos pelo regime de hora de inverno nos 12 meses? "A desvantagem vai ser no verão. O sol a nascer às 05:00. E quem é que aproveita o sol nessas horas? Pouca gente, a maior parte das pessoas está na cama a dormir", começa por explicar. "Depois o pôr-do-sol em vez de ser às 08:30, perto das 09:00, às vezes, vai acontecer uma hora antes daquilo a que as pessoas estão habituadas". Uma mudança que poderá alterar hábitos. "Quando é que as pessoas se irão queixar? Ao final da tarde. Vão dizer: 'já não vou ter tantas horas de sol a que estava habituado. Saía do emprego e ainda ia fazer algum desporto, corrida ou caminhada, e agora não tenho tanto tempo para fazer isso'".

A atividade ao final da tarde, "que tem vindo a aumentar muito nas últimas décadas", vai ser afetada se a hora de inverno se mantiver no verão. "É uma parte importante na vida das pessoas. E isso vai ser cortado em uma hora, que é muito tempo. As pessoas vão sentir que tem menos uma hora por dia com sol".

O ideal, diz o diretor do Observatório Astronómico de Lisboa, é manter o atual regime bi-horário "para tirar o máximo partido do sol e favorecendo a parte da manhã bem como o final da tarde".

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