"Portugal está a afirmar-se como o país do surf na Europa"

Surfista português, 36 anos, competiu sete épocas no circuito mundial. Em entrevista ao DN explica as mais valias do país para quem pratica a modalidade
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Acredita que esta onda do surf esteja para ficar ou teme que seja apenas um fenómeno passageiro?

O surf é um estilo de vida que já vem dos anos 1960/1970, que alimenta mercados no mundo inteiro há várias décadas. Há cada vez mais pessoas em Portugal que adotaram o surf como o seu desporto de eleição, pois proporciona um escape à vida urbana e permite, de facto, o contacto com a natureza. É excelente para quem procura qualidade de vida. Além disso, hoje há cada vez mais pais a iniciar os filhos na modalidade. Por isso não acredito que seja um fenómeno passageiro.

Como explica este rápido crescimento do surf em Portugal?

As escolas de surf, a visibilidade do Campeonato do Mundo e outros aspetos vieram fomentar o interesse de mais pessoas. Com mais gente interessada, cresceram as receitas, a atenção das empresas, das câmaras, etc. Está tudo interligado e fez que uma bola começasse a girar, desenvolvendo a modalidade, ao contrário do que acontece com outros desportos que permanecem estagnados. O surf não. Tem evoluído muito e vai continuar a evoluir nos próximos anos. Há investimento e estamos a afirmar-nos como o país do surf na Europa. A segurança que Portugal proporciona a quem nos visita também acaba por ser decisiva no momento em que o turista escolhe o destino para onde vai viajar.

A isto junta-se as próprias condições naturais do país.

Exatamente. Eu costumo dizer que já temos os estádios de futebol todos montados e não precisamos de investir nada. Só temos de os manter e tratar bem deles. A estas condições que fazem parte da nossa geografia junta-se ainda o clima, que é possivelmente o melhor do continente.

No circuito mundial, o Tiago competiu nos cinco continentes. Excluindo os fatores naturais, nas condições que Portugal oferece a quem faz surf estamos atrás de outros destinos?

Em alguns casos estamos mesmo à frente. Por exemplo, é muito menos burocrático entrar em Portugal do que em países como os Estados Unidos. Depois, somos um país muito desenvolvido tecnologicamente, com cobertura móvel a praticamente 100%, rede wi-fi por todo o lado. O tamanho do país também joga a nosso favor, pois podemos sair de Lisboa ou do Porto e em poucos minutos estar a surfar uma onda de qualidade. Isso não se encontra em todos os países. Por vezes, ainda pode existir alguma desorganização em Portugal, mas até isso é bom porque torna toda a experiência mais engraçada [risos]. O simples facto de podermos estar a beber uma cerveja na rua, a nossa gastronomia, a qualidade e o preço do alojamento... tudo isto são trunfos.

O seu plano passa por continuar ligado profissionalmente ao surf?

Sim, sem dúvida. Vão aparecendo convites para treinador, para ajudar a construir carreiras, mas neste momento ainda estou numa fase de desmame daquilo que foram 18 anos de carreira a viajar. Tenho também algumas empresas a funcionar, como uma escola de surf. Tenho coisas em mente, mas ainda não decidi bem qual será o meu papel no futuro, sendo certo que vou continuar ligado a este desporto, que é a grande paixão da minha vida.

Frederico Morais vai suceder-lhe no circuito mundial. O que se pode esperar dele neste campeonato de elite?

O primeiro ano é sempre mais complicado do que antevemos. A escolha dos surfistas que estão na primeira liga mundial é muito seleta, todos são bons e as coisas não são tão fáceis como no circuito de qualificação. Mas o Kikas é um atleta que tem provado não sucumbir em momentos de pressão, que é algo que atinge todos os surfistas no primeiro ano no circuito. Ele lida bem com esses momentos de stress e, apesar de ter apenas 24 anos [Tiago Pires chegou ao circuito com 27], já é um competidor muito experiente, que sabe lidar bem com este tipo de expectativas. Depois de chegarmos a essa elite evoluímos muito e nunca se sabe onde isso nos pode levar.

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