Portugal entre os 12 mais livres

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Os Repórteres sem Fronteiras (RSF) divulgaram há dias o estado da liberdade de imprensa e, num contexto de degradação geral, Portugal surge nos 12 países que a organização considera terem ambiente favorável ao jornalismo. Nessa dúzia de excelência, nove são europeus, mais Nova Zelândia, Costa Rica e Jamaica.

Coincidiu a divulgação do relatório dos RSF a 20 de abril com uma participação minha no Congresso Mundial de Jornalismo (WJC) organizado anualmente pela Associação de Jornalistas da Coreia do Sul. Desta vez, consequência da pandemia, os trabalhos foram por Zoom, o que não impediu a troca de experiências entre profissionais de todo o mundo. O impacto da covid-19 e das alterações climáticas e o papel do jornalismo foram os temas das duas sessões e pelos relatos ouvidos nem sempre é fácil abordar livremente os acontecimentos relacionados. Os entraves podem vir dos governos, mas também de setores da sociedade. Por exemplo, e voltando ao relatório dos RSF, a descida da Alemanha da segunda posição em termos mundiais para 13.ª, já fora do grupo de excelência, resulta dos múltiplos ataques a jornalistas por extremistas e por adeptos das teorias da conspiração durante os protestos contra o confinamento decretado pelo governo da chanceler Merkel.

Ao intervir no congresso organizado pela Coreia do Sul, uma sólida democracia e apesar do 42.º lugar a nação asiática mais bem classificada no índex dos RSF, senti vir de um país, ou de uma região, a Europa Ocidental, privilegiada. Trabalhando num jornal com mais de século e meio, que teve de suportar durante as quatro décadas do Estado Novo a censura, tenho plena consciência de a democracia portuguesa dar lições de respeito pela imprensa a muitos dos 180 países estudados, e não me refiro a essa Coreia do Norte e a essa Eritreia que costumam alternar na última posição. O 9.º lugar de Portugal é verdadeiramente honroso, basta pensar que o trio na liderança são Noruega, Finlândia e Suécia.

Querendo acreditar que o caso recente de agressão a um jornalista da TVI será uma exceção e gerará a inevitável repulsa, em Portugal o desafio dos media continua a ser o da sustentabilidade. E deveria ser uma preocupação prioritária da sociedade civil, sobretudo quando a covid-19 mostrou como é importante a informação de qualidade, a informação que esclarece em vez de assustar, a informação que contribui para ultrapassar o problema. Neste pouco mais de um ano de pandemia, as audiências online dos jornais de qualidade aumentaram e muito, mas as receitas, pelo contrário, sofreram, consequência da contração da economia num país que teve de confinar para travar os contágios.

Noutras reuniões de jornalistas, até em edições anteriores do WJC coreano, vi várias vezes o futuro do jornalismo na era da internet ser discutido. Consoante as experiências nacionais ou pessoais, ouvi teses em favor da iniciativa pública, outras pela criação de fundações, outras entusiasmadas pela criação de comunidades de leitores, outras ainda defensoras da tradicional versão empresarial. O momento para debater a viabilização do jornalismo de qualidade em Portugal é este, agora.

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