Não havia memória de tal coisa. Com o mês de agosto timidamente a começar, os arrojamentos de caravelas-portuguesas (Physalia physalis), um organismo marinho gelatinoso, cujos tentáculos causam uma irritação grave ao contacto com a pele, já diminuíram bastante, embora continuem a acontecer a bom ritmo, um pouco por toda a costa do continente e Açores. Mas, no final de junho, há cerca de um mês, as caravelas-portuguesas, com os seus característicos balões translúcidos e coloridos à tona de água, ou espalhados pelos areais, chegaram a ser aos milhares na costa açoriana.."Pessoas da região, muito experientes e habituadas ao mar e àquelas praias, disseram-nos que nunca tinham visto nada assim ", conta a bióloga Antonina Santos, que dirige no IPMA o GelAvista, um projeto de ciência cidadã que pretende, justamente, fazer a monitorização dos organismos gelatinosos no litoral do país, com base nas observações que as pessoas voluntariamente reportam..À equipa do programa, que foi criado pela bióloga do IPMA no início de 2016, e que já tem neste momento uma rede de mais de 500 voluntários por todo o país, que regularmente enviam informação sobre os seus avistamentos, chegaram no final de junho "imagens e relatos impressionantes, de milhares de caravelas-portuguesas" arrojadas aos Açores. Por isso mesmo, Antonina Santos não tem dúvidas de que, neste ponto, a época balnear está a ser diferente.."As caravelas-portuguesas são organismos oceânicos sem grande capacidade de locomoção, que se movimentam ao sabor dos ventos e das correntes oceânicas superficiais", explica a especialista. "A nossa perceção é a de que o número anormalmente alto de arrojamentos às praias neste ano está ligado ao regime de ventos e às correntes superficiais que tem caracterizado a presente época balnear", afirma, sublinhando que o seu grupo "fará esse estudo detalhado no final do verão, para perceber exatamente o que tem estado a acontecer". Se o atual regime de ventos se mantiver, antevê a bióloga, "os arrojamentos vão continuar"..Mas é quase certo também que o número surpreendentemente alto de caravelas-portuguesas no litoral nacional não tenha que ver exclusivamente com os ventos e as correntes. A suspeita da coordenadora da equipa do GelAvista, que há de estudar também a questão, é que neste ano terá havido também nas águas oceânicas um bloom de caravelas-portuguesas, que os ventos depois empurraram - e continuam a empurrar - para cá. "As condições no oceano, talvez com temperaturas mais altas, poderão ter favorecido essa situação", admite Antonina Santos, que acredita que o pico de arrojamentos já ficou para trás..Na última semana, de acordo com os dados publicados pelo GelAvista na sua página de Facebook, foram avistadas caravelas-portuguesas em praias da região de Lisboa (Aguda e Azul), costa alentejana (São Torpes, Porto Covo, Morgavel, Vieirinha, Almograve, Furnas) e Algarve, nas praias de Amoreira e Murração. Nos Açores, continuam também a arrojar, em números mais substanciais, que nesta altura, nalguns pontos das ilhas do grupo central e em São Miguel, podem chegar a meia centena..Assim chamada pela semelhança com os navios dos descobrimentos portugueses, com as velas suas características, a caravela-portuguesa - em inglês toma o curioso nome de portuguese man-of-war e os franceses chamam-lhe sem grande surpresa galère portugaise, que em alemão se transforma em Portugiesische Galeere - não deve ser tocada. Os seus tentáculos produzem um veneno que causa uma irritação. Avistá-la na praia é motivo para avisar o banheiro. E quem quiser participar num projeto científico tem aí uma excelente oportunidade, só precisa de fazer uma fotografia e, juntamente com os dados básicos de dia, hora e local, enviá-la para o GelAvista. A ciência agradece.
Não havia memória de tal coisa. Com o mês de agosto timidamente a começar, os arrojamentos de caravelas-portuguesas (Physalia physalis), um organismo marinho gelatinoso, cujos tentáculos causam uma irritação grave ao contacto com a pele, já diminuíram bastante, embora continuem a acontecer a bom ritmo, um pouco por toda a costa do continente e Açores. Mas, no final de junho, há cerca de um mês, as caravelas-portuguesas, com os seus característicos balões translúcidos e coloridos à tona de água, ou espalhados pelos areais, chegaram a ser aos milhares na costa açoriana.."Pessoas da região, muito experientes e habituadas ao mar e àquelas praias, disseram-nos que nunca tinham visto nada assim ", conta a bióloga Antonina Santos, que dirige no IPMA o GelAvista, um projeto de ciência cidadã que pretende, justamente, fazer a monitorização dos organismos gelatinosos no litoral do país, com base nas observações que as pessoas voluntariamente reportam..À equipa do programa, que foi criado pela bióloga do IPMA no início de 2016, e que já tem neste momento uma rede de mais de 500 voluntários por todo o país, que regularmente enviam informação sobre os seus avistamentos, chegaram no final de junho "imagens e relatos impressionantes, de milhares de caravelas-portuguesas" arrojadas aos Açores. Por isso mesmo, Antonina Santos não tem dúvidas de que, neste ponto, a época balnear está a ser diferente.."As caravelas-portuguesas são organismos oceânicos sem grande capacidade de locomoção, que se movimentam ao sabor dos ventos e das correntes oceânicas superficiais", explica a especialista. "A nossa perceção é a de que o número anormalmente alto de arrojamentos às praias neste ano está ligado ao regime de ventos e às correntes superficiais que tem caracterizado a presente época balnear", afirma, sublinhando que o seu grupo "fará esse estudo detalhado no final do verão, para perceber exatamente o que tem estado a acontecer". Se o atual regime de ventos se mantiver, antevê a bióloga, "os arrojamentos vão continuar"..Mas é quase certo também que o número surpreendentemente alto de caravelas-portuguesas no litoral nacional não tenha que ver exclusivamente com os ventos e as correntes. A suspeita da coordenadora da equipa do GelAvista, que há de estudar também a questão, é que neste ano terá havido também nas águas oceânicas um bloom de caravelas-portuguesas, que os ventos depois empurraram - e continuam a empurrar - para cá. "As condições no oceano, talvez com temperaturas mais altas, poderão ter favorecido essa situação", admite Antonina Santos, que acredita que o pico de arrojamentos já ficou para trás..Na última semana, de acordo com os dados publicados pelo GelAvista na sua página de Facebook, foram avistadas caravelas-portuguesas em praias da região de Lisboa (Aguda e Azul), costa alentejana (São Torpes, Porto Covo, Morgavel, Vieirinha, Almograve, Furnas) e Algarve, nas praias de Amoreira e Murração. Nos Açores, continuam também a arrojar, em números mais substanciais, que nesta altura, nalguns pontos das ilhas do grupo central e em São Miguel, podem chegar a meia centena..Assim chamada pela semelhança com os navios dos descobrimentos portugueses, com as velas suas características, a caravela-portuguesa - em inglês toma o curioso nome de portuguese man-of-war e os franceses chamam-lhe sem grande surpresa galère portugaise, que em alemão se transforma em Portugiesische Galeere - não deve ser tocada. Os seus tentáculos produzem um veneno que causa uma irritação. Avistá-la na praia é motivo para avisar o banheiro. E quem quiser participar num projeto científico tem aí uma excelente oportunidade, só precisa de fazer uma fotografia e, juntamente com os dados básicos de dia, hora e local, enviá-la para o GelAvista. A ciência agradece.