Por que é que a compra do BPI é boa para os artistas portugueses?

Prémios da Fundação La Caixa para a criação artística e para curadores vão incluir portugueses
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A compra do BPI pelo espanhol CaixaBank resultou, para já, numa medida: "Temos desde o início do ano uma diretiva para trabalhar em Portugal e Espanha da mesma maneira". As palavras são do responsável pela coleção contemporânea do banco, Oscar Pina, e o resultado é que os artistas e curadores portugueses ou a residir em Portugal podem candidatar-se aos programas de apoio à criação e ao comissariado que a instituição acaba de lançar.

Se o programa dedicado a curadores já vai na sua terceira edição, o programa para a criação é uma novidade de 2018. "É o primeiro projeto para a Península Ibérica ao mesmo tempo", explica Oscar Pina. Destina-se a artistas que já tenham concebido um projeto com um terceiro e que já saibam o que querem fazer. "Pode ser para uma revista, uma exposição, uma página web...", diz Oscar Pina. "Somos os produtores".

A convocatória, bienal, é para os artistas em geral. Todos os maiores de 18 anos podem candidatar-se, mas a primazia é dada aos menores de 30, explica Oscar Pina, sublinhando que, por ser a primeira vez, não querem fechar demasiado o concurso.

Os valores a atribuir a cada artista variam. Variam segundo o projeto. "Recebemos os projetos, têm de ter um orçamento e decisão sobre quando fazem". Tanto podem ser, portanto, obras de 10 mil euros, ou pode ser uma dotação alta para um projeto ambicioso". Para já, ainda antes de conhecerem as propostas - o concurso abre hoje - calculam que orçamento destinado a este programa dará para 8 ou 9 obras. "Mas dependerá, tentaremos ter um equilíbrio", promete. O valor total deste programa de apoio fica por revelar. "Para não influenciar quem se apresenta", garante. Queremos que qualquer pessoa se possa apresentar, que o prémio seja o mais democrático e plural possível"-

As obras não são adquiridas pela Fundação de imediato. O último passo, depois de exposta, é passar pelo comité de compras, "independente", diz Oscar Pina. E se na coleção catalã há várias obras de portugueses, de José Pedro Croft e Ângela Ferreira, outros não foram selecionados para aquisição pelo conselho consultivo. É o caso de Joana Vasconcelos. A artista concebeu uma peça para o hall da fundação.

Sete mil euros para cada um dos três curadores

No caso dos curadores, o concurso está aberto até aos 40 anos. O prémio é de 7 mil euros "e a possibilidade fazer uma exposição, trabalhar com arquitetos e designers e fazer um livro", afirma. "É o que permite termos gerações novas a trabalhar a coleção", reflete o coordenador da coleção La Caixa.

E chamar curadores portugueses pode, explica, "trazer uma nova forma de ler a coleção". "Os artistas internacionais se calhar são entendidos da mesma maneira, mas os espanhóis e catalães não", diz. Isto porque os candidatos são convidados a trabalhar as mais de mil obra da coleção contemporânea do banco La Caixa, que inclui nomes como Joseph Beuys, Antoni Tàpies, Gerhard Richter, Bruce Nauman ou Juan Muñoz, e a do MACBA (Museu de Arte Contemporânea de Barcelona). "No futuro tentaremos colaborar com coleções portuguesas", refere. Fala da Gulbenkian, de Serralves, do Museu Berardo.

O prémio para comissariado prevê a realização de três exposições no Caixa Fórum Barcelona, isto é, três vencedores. "Escolhemos seis projetos, eles recebem uma quantia de dinheiro para vir defender as suas ideias diante de um júri". Que este ano terá um membro português, revela Oscar Pina.

"A defesa é muito importante", defende o responsável. "Pela mediação de públicos, porque é muito importante que o grande público tenha a possibilidade de entender.

Quando o banco tem benefícios numa zona, o objetivo é investir mais nessa zona", explica Oscar Pina, sobre a obra social ligada ao banco, retomando os porquês de alargar o prémio da Fundação La Caixa aos portugueses. Dez milhões de euros é o valor que a instituição prevê investir em Portugal no desenvolvimento de iniciativas sociais, científicas e culturais.

O prazo para a apresentação das candidaturas termina a 17 de setembro para os curadores, a 25 para os artistas. Os vencedores são anunciados em dezembro.

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