Pólvora no salão de baile entre EUA e China

Chefes da diplomacia de Estados Unidos e China trocaram acusações num glacial frente-a-frente em três atos que decorreu no Alasca.
Publicado a
Atualizado a

Tudo foi incomum no que respeita ao encontro em três rondas na quinta e sexta-feira entre os chefes da diplomacia dos Estados Unidos e da China, desde logo no local escolhido: o salão de baile do Hotel Captain Cook, em Anchorage, Alasca.

Antes de o mesmo acontecer, Pequim alardeou a importância do encontro, enquanto Washington se mostrava-se sem expectativas; o secretário de Estado Antony Blinken regressava da primeira visita oficial fora de portas, ao Japão e Coreia do Sul, onde reafirmou as alianças e repetiu críticas a Pequim, enquanto entravam em vigor sanções contra 24 naturais de Hong Kong e China. O acidentado início do frente-a-frente expôs as divergências entre as duas superpotências, o que levou o mais alto diplomata chinês, Yang Jiechi, a dizer que as declarações iniciais do homólogo "não eram normais", embora reconhecesse que a sua resposta de 15 minutos "também não era".

Blinken, de quem na sexta-feira Joe Biden se mostrou "orgulhoso", escolheu um sítio frio e distante, sem pompa nem banquetes, para dizer olhos nos olhos o que mencionara em Tóquio e em Seul: as ações da China "ameaçam a ordem baseada em regras que mantêm a estabilidade global", a propósito da repressão em Xinjiang e Hong Kong ou das ameaças a Taiwan, dos ciberataques aos EUA e a coação económica a aliados norte-americanos. "É por isso que não são assuntos meramente internos, e por isso sentimos a obrigação de levantar estas questões."

À sua esquerda, o conselheiro de Segurança, Jake Sullivan, subiu o tom ao afirmar que a China empreendeu um "assalto aos valores básicos", embora negasse que os EUA queiram um conflito, antes a "concorrência feroz". Em resposta, Yang criticou a "condescendência" dos anfitriões e pediu para pararem de promover a sua versão de democracia, tendo em conta o descontentamento interno, tendo citado o movimento Black Lives Matter. "Muitas pessoas nos Estados Unidos têm de facto pouca confiança na democracia dos Estados Unidos."

No dia seguinte, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros reconheceu em Pequim o início conturbado: "Foi o lado americano que provocou a discussão em primeiro lugar, pelo que os dois lados cheiraram a pólvora e drama desde o início", disse Zhao Lijian. Segundo diplomatas ouvidos pelas agências de notícias, as negociações, já à porta fechada, correram de forma "substancial, séria e franca".

Para Pequim é prioritário discutir o fim das tarifas às importações chinesas e as sanções que limitam a exportação de tecnologia norte-americana para China, medidas aplicadas por Donald Trump.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt