Policiamento reforçado em todas as zonas turísticas
Zonas turísticas e os dias comemorativos dos países (como 14 de julho francês ou o 10 de junho português) passaram a estar no centro das preocupações das autoridades europeias e também em Portugal. O Algarve tem previsto para este ano o maior afluxo de sempre de turistas - muitos a fugir de destinos que foram alvo de atentados, como a Turquia e a Tunísia - e tanto a PSP como a GNR já tinham tido em conta, no planeamento das operações, a ameaça terrorista. A segurança está reforçada e ambas as polícias vão ter mais elementos no terreno. Depois de Nice, "a proteção de zonas como a algarvia será sem dúvida uma preocupação acrescida", confirmou ao DN fonte policial.
O atentado em França desta quinta-feira trouxe vários dados novos, que estão a ser alvo se análise e partilha de conhecimentos entre peritos, polícias e serviços de informações europeus. Um deles é a data e o significado que ela tem para França, a tomada da Bastilha, o dia nacional, como o nosso 10 de junho. "Não foi certamente coincidência", assinala um analista policial, "o que se pretende é que este dia, que era de celebração, passe a ser lembrado pelo terror e isso pode ser utilizado noutros países ocidentais".
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Apesar de não terem sido ainda identificadas ligações do autor do atentado - um francês de origem tunisina de nome Mohamed Lahouaiej Bouhlel, 30 anos - a grupos terroristas, peritos não duvidam de que "teve claramente inspiração" dos movimentos terroristas islâmicos, como o Isis e a Al-Qaeda.
Michael Barak, um investigador sénior do Instituto de Contraterrorismo israelita (ICT), lembra que líderes destas organizações "difundem frequentemente nas redes sociais e nos seus meios de propaganda apelos a ataques, sugerindo aos "irmãos" que estão em países europeus que utilizem todos os meios ao seu dispor para causar o maior número possível de vítimas". Lembra o exemplo do porta-voz do ISIS, Abu Mohamad al-Adnani, que lançou um apelo, em 2014, contra "todos os países que fazem parte da coligação" que tem atacado as zonas do auto-proclamado estado islâmico, na Síria e Iraque. "Esmaguem as suas cabeças com pedras, esfaqueiem-nos ou atropelem-nos com carros", lançou.
Barak reconhece ser "muito difícil prevenir" ataques como o de Nice, quando o autor nem estava referenciado por ligações ao terrorismo. Os "lobos solitários" sublinha "vão ser cada vez mais, a par com grupos organizados, autores de atentados nos países ocidentais".
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Para escapar aos controlos das autoridades, por exemplo com armas e explosivos, os terroristas "vão ser mais criativos nos meios a utilizar e isso vai exigir uma grande colaboração entre as polícias que estão no terreno e a própria sociedade civil". É o caso do modus operandi de Nice: um camião. E este é outro dado novo e um desafio para as autoridades. Barak aconselha a Portugal que, apesar de não ter sido nunca alvo de atentados, que "reforce a monitorização junto às comunidades muçulmanas, envolva os seus líderes no combate ao radicalismo e, sempre que estão previstas grandes aglomerações de pessoas, reforcem em número e qualidade os perímetros de segurança". Ao que o DN apurou, as autoridades nacionais "já têm estas premissas em linha de conta", embora, sublinha um oficial envolvido neste processo, "em relação à comunidade muçulmana, nos próximos dias, haverá também preocupação de a proteger contra ataques de vingança".
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O atentado de Nice não levou a um aumento do nível de alerta em Portugal, que se manteve "moderado", de acordo com a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna. No entanto, diz este gabinete, as polícias "continuam a manter o reforço de vigilância e segurança em áreas de maior concentração de pessoas.