Podemos desmente luta interna pelo poder entre Errejón e Iglesias

Demissão do n.º 3 do partido em Madrid, seguida de mais nove dirigentes regionais, levanta suspeitas de divisões na liderança nacional. PP volta a rejeitar pacto PSOE-Ciudadanos
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Uma sondagem Metroscopia, conhecida neste fim de semana, dizia que 50% dos eleitores do Podemos censuravam o voto negativo do partido à investidura de Pedro Sánchez. Mas parece que as divergências não se ficam pelas bases, chegando até à direção partidária. Ontem, a imprensa espanhola dava conta de uma luta interna pelo poder entre o líder, Pablo Iglesias, e o seu número dois e porta-voz do Congresso dos Deputados, Íñigo Errejón. Uma divisão destapada pela demissão do número três do Podemos em Madrid, Emilio Delgado, seguida de outros nove dirigentes regionais.

Delgado, que se demitiu na segunda-feira de secretário de Organização do Podemos Madrid, faz parte da corrente que apoia Errejón e ao deixar a direção regional criticou a "ausência" do responsável máximo, Luis Alegre, cofundador do partido e pessoa de máxima confiança de Iglesias. Ontem, outros nove dirigentes, ligados ao número dois do Podemos, seguiram os passos de Delgado, criticando a "deriva" da direção regional. Mas recusaram qualquer relação com "supostas divisões fictícias de dimensão estatal".

Essa leitura, ainda antes de serem conhecidas estas últimas demissões, tinha sido feita na imprensa: "Na disputa entre os diferentes setores de Podemos há uma pugna de poder, mas também uma discussão ideológica", escreveu o El País, mencionando divisões sobre a forma de o partido se relacionar com a "velha política" e com o PSOE. Iglesias votou contra a investidura de Sánchez, com os socialistas a acusarem-no de se colocar ao lado do PP de Mariano Rajoy. O Podemos defende que qualquer negociação deve acontecer só com a esquerda e não com o Ciudadanos, de Albert Rivera.

Iglesias e Errejón responderam no Twitter. O primeiro escreveu com ironia que ia mandar o número dois para a Sibéria, para "reeducar-se" por ser "dissidente", acrescentando depois: "Há algo que nunca nos perdoarão: não ser como eles. É uma honra ser secretário-geral contigo a meu lado, companheiro." Esta última mensagem em resposta a uma e Errejón: "Más notícias para os que procuram desculpas para a grande coligação da restauração: com Iglesias, ombro a ombro." Para o Podemos, o PSOE pactuar com o Ciudadanos é meio caminho andado para pactuar com o PP.

"Arrogância" de Iglesias

O El País publicou também ontem um artigo sobre a "deterioração" da imagem de Iglesias, citando um documento interno do Podemos de abril de 2015 - quando começava a cair nas sondagens para as legislativas de dezembro. O relatório criticava o "esgotamento do discurso" e a "arrogância" do líder, explicando "Pablo tem que voltar a ser Pablo Iglesias, o tipo da rua humilde, inteligente e ambicioso, razoável, pedagógico e transversal, que põe em palavras os pensamentos e sentimentos da maioria".

Além da alegada luta pelo poder, o partido enfrenta divisões entre as várias correntes internas. O setor ligado à antiga Esquerda Anticapitalista defendeu a rutura de relações com o PSOE já a pensar em novas eleições. "Só uma nova fase de mobilização pode alterar a atual dinâmica política", indicaram, considerando "politicamente estéril" continuar a apostar no PSOE para formar um "governo de mudança".

As negociações para eleger um primeiro-ministro continuam paradas, com Sánchez a recusar encontrar-se com Rajoy, dizendo que o diálogo deve decorrer entre as equipas de negociadores. O PSOE lembra ainda que o pacto com o Ciudadanos é a base de qualquer acordo. Mas o PP defende que este foi recusado nos debates de investidura e que "insistir num documento já invalidado não permitirá superar o bloqueio institucional".

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