Pobreza e desigualdades são as marcas das mensagens de Marcelo
Falar lá para fora, mas a olhar para dentro. Foi assim a mensagem de Ano Novo do Presidente da República, que este ano não se quis dirigir aos portugueses por ser recandidato a mais um mandato em Belém.
Em mensagem gravada para a RTP África voltou, no entanto, ao tema em que mais batalhou nas suas mensagens, a do combate à pobreza e às desigualdades.
"É preciso ultrapassar rapidamente 2020, é preciso ultrapassar rapidamente a pandemia, é preciso ultrapassar rapidamente o que há de pior, de mais profundo, desigual e injusto na crise económica e social", disse nesta mensagem dirigida aos países africanos de expressão oficial portuguesa e que foi replicada nos meios de comunicação portugueses.
Marcelo Rebelo de Sousa classificou 2020 de "terrível" para todo o mundo porque "foi um ano difícil por causa da pandemia, da crise económica e social, das barreiras entre povos, do fechar de fronteiras, do aumento das desigualdades e das injustiças no mundo".
Num registo de mensagens curtas, com cerca de oito minutos, o Presidente procurou sempre despertar o país, e em particular Governo e partidos. Foi assim em todas as mensagens de Ano Novo, desde que foi eleito. Apontou sempre para problemas que gostaria de ver resolvidos.
Na sua primeira mensagem de Ano Novo, em 2017 - foi eleito a 24 de janeiro de 2016, e tomou posse em março - já com a geringonça, o governo minoritário do PS apoiado pelo PCP pelo Bloco de Esquerda, apelou a um maior crescimento económico, depois de um 2016 de "gestão do imediato", da estabilização política e da preocupação com o rigor financeiro. "2017 tem de ser o ano da gestão a prazo e da definição e execução de uma estratégia de crescimento económico sustentado. Aprendendo a lição de que, no essencial, tivemos sucesso quando nos unimos", disse.
Assinalou a indesmentível "estabilidade social e política", salientando o acordo sobre o salário mínimo ou ainda a aceitação de dois Orçamentos do Estado pela União Europeia e a compensação a alguns dos mais atingidos pela crise. "Quer isto dizer que demos passos - pequenos que sejam - para corrigir injustiças e criámos um clima menos tenso, menos dividido, menos negativo cá dentro e uma imagem mais confiável lá fora, afastando o espetro da crise política iminente, de fracasso financeiro, de instabilidade social que, para muitos, era inevitável. Tudo isto foi obra nossa - nossa, de todos os portugueses. No entanto, ficou muito por fazer", sublinhou.
Nesta altura ainda estava longe de saber o que iria marcar para sempre este ano de 2017 e as consequências políticas que daí iriam advir.
Foram precisamente os grandes incêndios de 2017, os de Pedrógão e os de outubro, dos quais resultaram mais de 100 mortos, que inspiraram as primeiras palavras de Marcelo em 2018. "O passado bem recente serve para apelar a que, no que falhou em 2017, se demonstre o mesmo empenho revelado no que nele conheceu êxito. Exigindo a coragem de reinventarmos o futuro". Palavras ditas depois de, meses antes, ter "obrigado", pelas criticas públicas que fez, António Costa a deixar cair a então ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.
Mas há três anos - numa mensagem gravada na sua casa de Cascais, onde convalescia de uma operação a uma hérnia umbilical - também não se esqueceu de elogiar os indicadores da economia e das finanças, que começavam a ser mais positivos, insistindo na tecla da necessidade de colocar fasquias mais altas no combate à pobreza e às desigualdades.
Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que as mudanças na economia começaram no "ciclo político anterior", do Governo PSD/CDS , de Passos e Portas, e foram confirmadas com a solução política atual que "tão grandes apreensões e desconfianças havia suscitado". "Cá dentro e lá fora", disse.
Num ano eleitoral, em que se realizavam as europeias e as legislativas, Marcelo começou o ano a apelar à ida às urnas e pedia aos partidos para terem bom senso nas campanhas e não entraram no caminho do radicalismo e promessas impossíveis de cumprir.
Pôs ainda fasquias para o desenvolvimento económico: "Podemos e devemos ter a ambição de assegurar que a nossa economia não só se prepare para enfrentar qualquer crise que nos chegue, como queira aproximar-se das mais dinâmicas da Europa, prosseguindo um caminho de convergência agora retomado. Podemos e devemos ter a ambição de ultrapassar a condenação de um de cada cinco portugueses à pobreza e a fatalidade de termos portugais a ritmos diferentes, com horizontes muito desiguais", lamentou.
A partir da ilha do Corvo, nos Açores, onde passou a passagem do ano com os habitantes daquela ilha açoriana, Marcelo dirigiu-se ao país manifestando o desejo de que "em Portugal, esperança quer dizer governo forte, concretizador e dialogante", e lembrou que é necessária uma "capacidade de entendimento entre partidos".
Apelo feito depois do PS ter conseguido em outubro de 2019 uma maioria relativas nas eleições legislativas e sem que tenha sido renovado o acordo com os partidos à esquerda.
Há um ano, o Presidente abordava também as alterações climáticas e as prioridades que definiu para a política nacional foram a saúde, segurança, coesão e inclusão, conhecimento e investimento. Marcelo estava muito longe de imaginar que uma pandemia iria afetar de maneira tão grave o país e o mundo.