As mulheres portuguesas adiaram a maternidade 3,8 anos desde o início do século. Em 2000, eram mães pela primeira vez, em média, aos 26,5 anos, enquanto no ano passado a idade média se situava nos 30,3 anos. Apostam na formação, na progressão na carreira, procuram estabilidade financeira. Mas o adiamento nem sempre é seguro. Por vezes, quando tentam engravidar, é tarde demais. Por isso, pode ser importante conhecerem a sua reserva ovárica, que permite prever o potencial reprodutivo da mulher..De acordo com um artigo publicado no El País, 70% das mulheres espanholas não sabem que existe um indicador para avaliar os óvulos disponíveis. Por cá, essa percentagem será ainda maior. "A maior parte das mulheres não faz a mínima ideia e alguns médicos - excluindo os ginecologistas - também não. É um assunto que merece ser divulgado para que as pessoas saibam e possam beneficiar de algum tipo de aconselhamento", diz Teresa Almeida Santos, diretora do Serviço de Reprodução Humana do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC)..Segundo a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, existem dois tipos de marcadores: o ecográfico, que consiste numa ecografia endovaginal para avaliar os folículos (que libertam ovócitos) existentes nos ovários; e um exame de sangue para avaliar os níveis da hormona antimülleriana (AMH), produzida pelos folículos, o que está relacionado com a reserva ovárica. Este último é "relativamente recente", razão pela qual não existe um grande conhecimento acerca destes indicadores.."Em primeira linha, são aconselhados às mulheres que pretendem fazer técnicas de procriação medicamente assistida (PMA), porque dão indicação do prognóstico da técnica e da dose de tratamento que precisamos de utilizar", adianta a especialista em ginecologia/obstetrícia, com subespecialidade em medicina da reprodução..Mas também servem para dar uma ideia da idade do ovário, que, por vezes, não corresponde à idade biológica da pessoa. "Podem dar a noção de que uma mulher jovem, com 28 anos, por exemplo, tem um ovário que corresponde a uma mulher mais velha. E não é raro isso acontecer", diz a médica do CHUC..As mulheres que pretendem adiar a gravidez podem, segundo Teresa Almeida Santos, beneficiar destes procedimentos. "Não lhe podemos dizer se tem mais 3, 6 ou dez anos pela frente, mas permite saber se tem uma redução da longevidade reprodutiva, se os seus ovários estão envelhecidos para a sua idade", sublinha a especialista. Isto pode fazer que antecipem o projeto da maternidade..A ecografia endovaginal fará parte dos exames de rotina, pelo que a análise AMH só costuma ser pedida se a ecografia revelar alguma anomalia. Fernanda Águas, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), diz que estes testes "não são feitos à população em geral". "O interesse em falar da reserva ovárica e dos fatores que podem condicionar a gravidez está relacionado com a idade da primeira gravidez. Há uma perda da reserva ovárica a partir dos 35 anos, dos folículos que originam os ovócitos", explica a ginecologista, destacando que estes exames "têm interesse em jovens com sinais clínicos de ter mau funcionamento dos ovários ou problemas relacionados com tumores, que levem a suspeitar de que a sua reserva ovárica possa estar diminuída"..Os testes que permitem conhecer a reserva ovárica da mulher só devem ser feitos com indicação médica. "O pedido deve ser feito em consulta e contextualizado. Podem levar a más ideias ou a interpretações erradas", alerta Fernanda Águas..Na Dinamarca, revela Teresa Almeida Santos, são feitos aconselhamentos individuais com base na história familiar, nos fatores de risco e nestes marcadores. "Em Portugal já se faz, mas de forma piloto", diz a especialista. Existem, no entanto, críticas a estas consultas: "Algumas mulheres podem precipitar-se numa criopreservação de ovócitos, que poderia não ser necessária. Ou seja, podem pecar por excesso.".Quando nasce, a mulher tem dois milhões de folículos. É um número finito, predeterminado, que começa a diminuir ainda antes do nascimento, já que, às 20 semanas de gestação, o feto tinha seis milhões. "Em média, chega à puberdade com 400 mil. E só vai precisar deles a partir daí", indica a especialista do CHUC. Não há como reverter a perda dos folículos, mas existem formas de diminuir o ritmo de desgaste, o que está relacionado com os fatores de risco: evitando o tabaco e a exposição a químicos..O preço do exame que avalia os níveis da hormona antimülleriana (AMH) pode variar entre os 30 e os cem euros, dependendo do local onde é feito.