"Pinto da Costa é dos presidentes com quem é mais fácil negociar"

Paulo Barbosa, 60 anos, foi dos primeiros empresários de jogadores de futebol (prefere o termo gestor de carreiras) em Portugal. Negociou durante muito anos com os três grandes de Portugal, mas atualmente trabalha essencialmente no mercado estrangeiro.
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Entrou para esta área depois de ter trabalhado no Benfica, convidado numa primeira fase para ser professor de português de Yuran e Kulkov. O primeiro negócio que intermediou foi a transferência de Mostovoi, em 1992. Para trás ficou uma carreira de docente académico, com um curso tirado em Moscovo na área das Ciências Sociais, História e Literatura. Nesta entrevista recorda histórias do passado, a convivência com Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa, a relação com os jogadores, as transferências realizadas e algumas que ficaram por fazer. E do presente, desde os valores do mercado atual de transferências ao novo paradigma de comunicação dos clubes de futebol, passando pela situação do Sporting, em que conta que aconselhou alguns jogadores a não rescindir. Entre várias revelações, uma surpreendente: nunca se deslocou a um estádio para observar um jogador que quisesse representar.

Como é que um professor de História e Literatura vira empresário de jogadores?

Durante bastante tempo trabalhei na área académica, na universidade, ali pelos finais dos anos 1980, inícios de 1990. Dei aulas em Londres, Moscovo, onde estudei, e em Lisboa. Depois, a determinada altura, quando estava a trabalhar na tese de doutoramento na Universidade de Coimbra, surgiu um convite do Benfica e puseram-se duas questões. Tinha um convite para um projeto de cinco anos em Pequim, para estudar a presença dos jesuítas no continente asiático, e fui obrigado a tomar uma decisão. Ou estar mais não sei quantos anos fora do país ou aceitar o convite do Benfica. Decidi fazer uma pausa na parte académica e ir para o Benfica ensinar português a dois jovens russos que iam chegar.

Está a falar do Yuran e do Kulkov?
Sim.

Mas então não foi o agente que os trouxe...

Não, houve sempre aí alguma confusão. Eu faço mais tarde a transferência do Mostovoi para o Benfica, que aliás foi o meu primeiro trabalho nesta área do agenciamento de jogadores. O Yuran e o Kulkov só os represento mais tarde e os levo para o FC Porto.

Yuran e Kulkov eram jogadores indisciplinados, como se dizia na altura?

Em geral todos os jovens têm o mesmo tipo de interesses. Há jogadores que conseguem gerir isso de uma forma equilibrada, têm mais dificuldades. E às vezes são os próprios clubes que não sabem gerir essa situação.

Mas era visita de casa? Tinha uma boa relação com eles?

Com eles e com todos os jogadores. Cheguei a representar vários atletas da equipa do Benfica, o Vítor Paneira, o Caniggia, o William, o Isaías, o Paulo Madeira, quase todos eram representados por mim. Era uma altura em que a figura do representante ainda estava nascer. Não existia com o conceito que existe hoje. Essa geração não tinha representantes nem gestores de carreira.

Estudou em Moscovo. Como é que isso acontece?

Porque em 1976/1977 em Portugal havia o chamado ano cívico, as pessoas não podiam entrar diretamente para a faculdade. E eu tive acesso a uma bolsa de estudo. Na altura a União Soviética era um mundo desconhecido para todos nós, eu já tinha um grande interesse e fascínio por literatura, essa foi a razão de ter tomado a decisão de ir para lá. Ver um outro mundo, conhecer outras pessoas. Foi uma experiência extraordinária.

Quantos anos ficou na Rússia?

No total quase oito anos. Foi muito interessante. Naquela altura tive a possibilidade de conhecer estudantes de todo o mundo, vietnamitas, guatemaltecos, brasileiros, árabes, palestinianos, israelitas. Foi uma possibilidade de conhecer outras culturas, outras formas de estar, outras gastronomias, outras línguas. É um mundo fascinante. E espero daqui a uns anos voltar à área académica. O bichinho, a curiosidade e o interesse estão cá. A história e a literatura fascinam-me.

E de onde surgiu esse gosto pela literatura?

Penso que apanhei pelo lado do meu pai, pelos contos e histórias que me contava sobre Trás-os-Montes e dos transmontanos. E ia lendo...

Voltando ao Benfica. O que fazia concretamente no clube?

Numa primeira fase ensinava português, depois mais tarde já tinha outras funções, ajudava a escrever os relatórios e as contas do clube, a preparar discursos...

Com que presidente?

Comecei na era do João Santos e depois com Jorge de Brito. Havia um gabinete de estudos, preparámos muita coisa, até a nível da área económica do clube. Era uma estrutura de apoio logístico à direção. E só depois comecei a trabalhar como agente de jogadores.

A primeira transferência que faz então é a do Mostovoi...

Sim. O Mostovoi era considerado na altura uma grande joia do futebol soviético. Jogava no Spartak de Moscovo, era o melhor jogador do clube. Curiosamente nessa altura não existiam contratos profissionais na União Soviética e é esta operação que acaba por desencadear o primeiro caso em que a própria estrutura federativa foi obrigada a fazer contratos profissionais, porque ele na prática era um jogador livre. Acabámos por encontrar-nos todos em Colónia, na Alemanha, na altura com o Gaspar Ramos em representação do Benfica. Conseguimos arranjar uma solução de compromisso que permitiu ao Spartak ser ressarcido da transferência.

E o primeiro jogador português que representou?

O primeiro... julgo que terão sido o Paulo Madeira, o Neno, o Vítor Paneira e o Isaías. O Isaías tornou-se depois o primeiro jogador brasileiro a jogar em Inglaterra, quando se transferiu para o Coventry.

Em tantas negociações, algumas não devem ter sido fáceis de realizar. Qual foi a mais complicada?

Ui, foram várias, algumas muito complexas. Talvez a mais complicada, por intransigência do clube, tenha sido a do Jorge Cadete do Celtic para o Celta de Vigo. Ele era o melhor marcador da Grã-Bretanha, o presidente que era dono do Celtic era uma pessoa muito carismática e não aceitava que o jogador se transferisse. Foi um processo muito complicado. Mas houve outras. A do Marco Caneira do Bordéus para o Valência também foi muito complexa. Sabe, o jogador tem o direito de querer sair, mas o clube tem o direito de não o querer negociar.

E a transferência que teve pena de não ter conseguido concretizar?

Também há muitas. Mas recordo-me de uma possibilidade de transferência de um grande jogador, que atuava no Dínamo de Kiev no início dos anos 1990, o Tsveiba, defesa central e capitão da equipa. Esteve quase para vir para o Benfica, mas não foi possível concluir a operação. E houve outra que me marcou, a do Miguel (ex-lateral direito) para a Juventus, que também por razões complexas não avançou.

Como é a sua relação com os jogadores que representa, só de trabalho ou há amizade?

Sempre foi uma relação muito próxima. Eu em geral tenho sempre contacto com os jogadores. Nunca fui uma pessoa de aparecer só com os contratos e desaparecer. Por isso sempre me demarquei muito daquela ideia do conceito de empresário de jogadores. Sempre fui mais favorável à ideia de ser um gestor de carreira, que tem outro tipo de relação.

Mantém amizade com os jogadores que representou?

Sempre mantive amizade com os jogadores que representei, mesmo depois de terminarem a carreira. Devo dizer-lhe que durante muito tempo não assinava contratos de representação com os jogadores. Eram acordos de cavalheiros. Mas não trabalhava com qualquer jogador. Nunca me interessou ter uma carteira enorme de jogadores. Não me interessava ter jogadores como galinhas de aviário.

Houve casos em que teve de os ajudar economicamente, sobretudo no final da carreira?

Sim, muitos jogadores passaram por muitas dificuldades. Ao contrário do que as pessoas pensam, são muito poucos os que jogam futebol e conseguem criar condições financeiras e sociais para pensar o futuro de uma forma em que as questões profissionais não surjam em primeiro plano. São poucos os que conseguem isso. A maioria deles, depois do futebol, não estão preparados, não conseguiram encontrar condições para estudar, para ter cursos, e ficam limitados no pós-futebol. Algumas situações são até um pouco dramáticas.

Que principais diferenças nota no futebol de há 20/30 anos para cá?

Olhe, há 20, 30 anos havia uma coisa que eu prezava bastante, que era a liberdade dos jogadores poderem falar. Havia uma relação muito mais acessível com os media. Falar com um jogador era uma coisa perfeitamente normal. As entrevistas eram geridas pelos próprios. Agora é um mundo completamente diferente. São os clubes que gerem a imagem e as entrevistas dos jogadores.

E há também uma nova realidade, que são os gabinetes de comunicação, as redes sociais...

O que está a acontecer nos últimos anos é de certa forma uma luta pelo poder. Sempre existiu, é verdade. Só que hoje as formas de luta pelo poder são diferentes. Hoje essa luta tem uma componente comunicacional muito forte para os media, que acabam por ser parte participante. Mas, repare, isto existe na política. Aliás, muito do que se passa hoje no futebol em termos comunicacionais pode ser comparado à política. E depois temos as redes sociais, que começam a ter um papel muito importante na opinião pública.

Há uns meses, a propósito de um trabalho, encontrei no arquivo uma fotografia onde aparece ao lado de Luís Filipe Vieira e de Pinto da Costa, hoje os maiores inimigos, num camarote do estádio do Alverca.

Sempre fui amigo dos dois. Sou testemunha de que eles tinham uma excelente relação. Mas a ideia do Alverca na altura era não só ter boas relações com Pinto da Costa, mas também com o Sporting. Jogavam lá atletas do Benfica, do FC Porto e do Sporting. Era uma altura em que para se dar bem com o presidente do FC Porto não era preciso dizer mal do presidente do Benfica e do do Sporting. Essa era a lógica.

Mas depois Luís Filipe Vieira foi para o Benfica e Pinto da Costa passou a ser o pior inimigo...

Muitas vezes existem conflitos de interesse. E os conflitos de interesse, as lógicas das massas e comunicacionais não permitem um bom relacionamento entre dois grandes clubes, porque há interesses diferentes. Mas é assim noutras áreas. É possível um bom relacionamento entre o secretário-geral do PS e do PSD quando estão em confronto um com o outro? Há uma lógica de luta pelo poder que acaba por condicionar o comportamento e a relação entre as pessoas. Salvo muito raras exceções, são casos pontuais os presidentes que conseguiram manter de uma forma estável um bom relacionamento durante muitos anos.

Acompanhou a ascensão de Luís Filipe Vieira do Alverca até à presidência do Benfica. Ficou surpreendido com a afirmação que teve em tão pouco tempo?

Não me surpreendeu. Luís Filipe Vieira sempre foi uma pessoa com ideias e objetivos claros sobre aquilo que queria. O Alverca foi a primeira grande aprendizagem, mas a ambição dele era outra. Ele nunca escondeu junto de um círculo reduzido de pessoas a ambição de ser presidente do Benfica. Eu sempre lhe disse que de uma forma ou de outra ele haveria de lá chegar. Mais tarde acabámos por divergir pela relação que ele teve com José Veiga, e pelo papel que o Veiga tinha no Benfica. O tempo encarregou-se de mostrar que se calhar essa opção não tinha sido a melhor, até porque marcou também a relação de Vieira com o FC Porto e com o Sporting.

Mas voltando à afirmação de Vieira como presidente do Benfica...

Teve um contributo fundamental e decisivo para a estabilização do Benfica e para criar as condições para um clube muito mais profissional e de muito maior dimensão. Um clube que foi crescendo de forma sustentada. O Benfica atual tem uma situação estável e uma imagem e uma capacidade de expressão ímpares.

E Pinto da Costa?

Um presidente com qualidades excecionais, talvez um dos maiores da história do mundo do futebol, independentemente de as pessoas gostarem ou não do estilo. As estatísticas e os números provam-no. É um líder com uma visão diferente, é dos poucos que vivem 24 horas o clube, conhece toda a gente, um homem de paixões, que está sempre presente, sejam três ou quatro da manhã. Deu estabilidade ao FC Porto, e foi essa estabilidade que permitiu que o clube ganhasse dimensão nacional e internacional.

Pinto da Costa tem fama de ser um presidente com quem é difícil negociar...

Não, muito pelo contrário, é dos presidentes com quem é mais fácil negociar. Às vezes bastava um aperto de mão e estava feito. Lembro-me de numa ocasião estarmos a fechar um jogador e às tantas faltava um documento. A pessoa responsável não sabia do documento oficial. Criou-se ali uma situação... mas ficou logo resolvida. Ele perguntou-me: "Olhe lá, como é que eram mesmo as condições?" Eu disse-lhe e ficou tudo selado. Às vezes o negócio era feito à boa maneira antiga: um aperto de mão e já estava [Yuran, Kulkov, Maniche, Alenitchev, Jankauskas, Ovchinnikov, Carlos Alberto, Jorginho e Varela são alguns exemplos de jogadores que levou para o FC Porto].

E o afastamento com Luís Filipe Vieira? Fizeram entretanto as pazes?

Mais tarde sim, acabámos por fazer. Foi um período difícil do nosso relacionamento. Mas voltámos a falar e a entender-nos. Curiosamente nunca falámos sobre o passado, penso que ele tem noção dos caminhos que foram percorridos. Hoje temos uma boa relação.

Como vê o mercado de transferências da atualidade. Pagar-se 222 milhões por um jogador, 80 milhões por um guarda-redes...

É o futebol numa outra dimensão, numa dimensão industrial em que há transações que atingem esses valores porque o mercado comporta em si a capacidade de atingir essas verbas. O futebol é um espetáculo extremamente rentável, por exemplo, a nível dos direitos televisivos. Os clubes ao terem essa capacidade financeira podem fazer esse tipo de negócios. Veja-se o exemplo inglês, o que os clubes recebem de direitos televisivos. O último classificado tem um orçamento maior do que os nossos três grandes. Os clubes portugueses têm, mais do que nunca, de ter uma visão de pensamento estratégico, serem clubes formadores e vendedores. Precisam de ter um excelente scouting para trabalhar noutros mercados onde os valores não são especulativos. Essa é a única forma de terem uma situação financeira estável. Não podemos cair no erro de há uns anos, com muitos jogadores estrangeiros. A qualidade está cá. Não vale a pena ter equipas B e de sub-23 se depois não há espaço para os jogadores portugueses conseguirem jogar.

Mas hoje os clubes a vendem jogadores muitos jovens e que em alguns casos nem se afirmaram na primeira equipa. Estão obrigados a vender para ter fontes de receitas?

Os clubes, sobretudo Benfica, FC Porto e Sporting, já começam a ter condições para ter jogadores na primeira equipa que vêm da formação com grande qualidade e também condições para os valorizar e negociar mais tarde, no momento exato, sem grandes pressões. Na minha opinião, a saída prematura de jogadores de grande qualidade que nem sequer jogaram pelos seus clubes são erros estratégicos. O Bernardo Silva é um exemplo, mas há outros. Há jovens que são uma espécie de golden share dos clubes. E se pensarmos, mesmo do ponto de vista económico, se um desses jovens se afirmar, vai permitir um encaixe maior. É crime um jogador sair de um clube de forma prematura.

No final da última época assistimos a uma situação inédita em Portugal, com nove jogadores do Sporting a rescindir os contratos com justa causa depois do ataque à Academia. Se fosse agente de algum qual seria o seu conselho?

Curiosamente existiram jogadores do Sporting, não vou revelar os nomes, que me puseram essa questão. Disse-lhes que não os aconselhava a rescindir os contratos, achei um erro grave. Há processos que acontecem nos clubes que são lamentáveis, mas que são pontuais, que surgem num determinado contexto. Por mais dura que a situação tenha sido, não se pode confundir a árvore com a floresta. Aquilo que se passou na Academia Sporting foi dramático, uma coisa horrível, mas um jogador tem de entender que o clube em si pode não controlar, independentemente de existirem responsabilidades em termos pontuais ou discursos mal preparados, que possam ter levado a um incitamento para que determinado tipo de coisas acontecesse. Eu nunca aconselharia a partirem para a rescisão.

Mas não aconselharia a rescisão unilateral por razões morais ou por achar que os jogadores iriam perder o caso?

Por várias razões. Do ponto de vista moral julgo que eles próprios tinham consciência de que aquilo que aconteceu foi uma coisa pontual, que não correspondia à realidade do clube. Sabiam que o clube estava em mutação e isso dava condições para uma relação muito menos turbulenta, com algumas garantias. E essa luz era suficientemente forte para que não houvesse razão para o corte laboral. Por outro lado, eles tinham conhecimento de casos que não sendo idênticos podiam servir de ponto de comparação. Na Ucrânia, num cenário de guerra, com morteiros, tiros e situações dramáticas próprias de uma guerra civil, houve jogadores que tentaram a rescisão e a FIFA não lhes deu razão. Por aquilo que é o histórico da FIFA, tenho sérias dúvidas de que possa vir a dar razão aos jogadores. Em Portugal se for só a CAP [Comissão Arbitral Paritária] a decidir já não tenho essa opinião.

Acredita que pode ter existido aqui algum tipo de aproveitamento por parte dos jogadores?

Houve representantes de jogadores que viram naquela situação uma forma de poder negociar com o Sporting num outro enquadramento, e perceberam que com uma rescisão, pensando que estando o clube fragilizado, seria mais fácil negociar.

Assume-se como benfiquista?

Não. Fui de facto sócio do Benfica, mas por uma razão: toda a minha família do norte era benfiquista. E estou ligado a um período que me marcou, o do Benfica do Eusébio, do Coluna, do Simões, mais tarde do Chalana e do Diamantino, que marcaram uma geração. Havia uma grande afetividade na altura com o Benfica porque mesmo durante a ditadura era um clube democrático. Como dizem no Brasil, era o clube do povão. Cheguei a jogar basquetebol no Benfica. Aliás, quando saí, com 15, 16 anos, o Carlos Lisboa ficou com o meu número, o 7.

E o seu ídolo?

O Eusébio, que conheci pessoalmente, um grande jogador e um homem de grande dimensão. Mais tarde o Chalana, depois o Diamantino. Gostava também de jogadores do FC Porto, o Pavão por exemplo, e o grande Cubillas. E do Sporting igualmente. Ia ver jogos do Sporting só para ver a elegância do Vítor Damas na baliza, foi um dos melhores guarda-redes que vi em toda a minha vida. Gostava muito do Hilário também, que mais tarde acabei por conhecer. E também o Jesus Correia, da equipa dos Cinco Violinos, que acabei também por conhecer pessoalmente.

Já vamos em mais de uma hora de conversa e ainda não falámos de Cherbakov e da tragédia que lhe aconteceu naquele acidente que o deixou paraplégico. Era representado por si?

Ajudei na transferência, mas não tínhamos uma relação de trabalho. Depois dá-se aquela noite fatídica, do acidente na Avenida Liberdade, que o deixa paraplégico depois do jantar de despedida do Bobby Robson. Não levava cinto... foi uma tragédia, era um jogador espantoso, que tinha um enorme potencial, grande qualidade. Depois acompanhei aquele processo, ajudei inclusivamente na organização daquele jogo de solidariedade com um misto de jogadores da seleção da União Soviética com o Sporting. Foi uma tragédia. Ele está a trabalhar no scouting do Lokomotiv de Moscovo, que curiosamente não era o clube dele. É o especialista para a Península Ibérica. Esporadicamente mantemos contacto.

A sua vida atual como é? Há algum tempo que não se ouve falar de si e em transferências que realiza...

Trabalho fundamentalmente no estrangeiro. Grande parte das operações que faço são lá fora, mais na Rússia, na Turquia, na Ucrânia, algumas coisas na China, na Itália e na Inglaterra. Em Portugal não faço grande coisa porque o nosso mercado também não tem grande liquidez. Vou trabalhando e vendo o que se passa em mercados emergentes. Há coisas interessantes. Mas não vou estar muito mais tempo nesta área. Estou numa fase em que gostaria de fazer outras coisas. Estarei aqui no máximo mais uns quatro, cinco anos. Depois quero ter tempo para continuar a ler e a escrever, que é uma das minhas prioridades a curto prazo.

Ainda se desloca a um estádio para ver ao vivo um jogador para o qual lhe disseram para ter atenção?

Vou revelar-lhe um segredo. Eu nunca fui ver um jogador por indicação de alguém. Tenho pessoas com quem trabalho com conhecimentos - não quero dizer que eu não os tenha - e que me passam as informações mais de nível técnico. O que para mim é interessante é ter abordagens de diferentes pessoas sobre um determinado jogador, que me possam dar uma opinião mais abrangente. A mim interessa-me mais o homem si, se quer estudar, o que pensa da vida. Mas a partir do momento em que faço a transferência, aí sim, gosto de os ir ver jogar.

Admite escrever um livro com histórias que viveu e assistiu no futebol?

Não. Passei por um período importante no futebol em Portugal, dos anos 1990 até hoje. Mas não só em Portugal. Há muitas coisas que terão de ir comigo para o cemitério, faz parte do ofício. Mas atenção, não quero dizer com isto que o futebol tem só coisas más. Muito pelo contrário. Já reparou que os portugueses só cantam o hino no futebol? Mas é pena. Devíamos cantar o hino para os nossos escritores, os nossos compositores e os nossos artistas.

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