Primeira fase da vacinação vai ser prolongada até abril

O anúncio foi feito pelo novo coordenador para o plano de vacinação contra a covid-19. Na reunião com o Infarmed, o epidemiologista Manuel do Carmo Gomes disse que os casos podem cair para 3.000 em duas semanas.
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A primeira fase de vacinação, que devia terminar antes de 31 de março, vai ser prolongada para abril devido ao "problema da disponibilidade de vacinas", anunciou esta quarta-feira o novo coordenador para o plano de vacinação contra a covid-19.

"Não vamos conseguir com as vacinas que temos terminar a primeira fase antes de 31 de março, vamos prolongar para abril este período", disse Henrique Gouveia e Melo na reunião do Infarmed, que junta peritos, Governo e o Presidente da República e onde está a ser analisada a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal.

Esta situação, explicou Gouveia e Melo, que sucedeu a Francisco Ramos no cargo, "não é um problema de administração, nem da velocidade da administração, é um problema logístico e um problema da disponibilidade de vacinas à chegada a Portugal e, portanto, de acesso a vacinas".

O vice-almirante Gouveia e Melo lembrou que o plano consagra "três grandes" prioridades: salvar vidas, conferir resiliência ao Estado, conferindo primeiro a resiliência ao serviço de saúde e depois às outras funções do Estado, e numa fase posterior libertar a economia.

Nos dois grupos incluídos na primeira fase, relacionados com "salvar vidas" e com o "ganhar resiliência no Estado relativamente ao sistema de saúde e depois aos outros serviços que são essenciais e críticos para Estado", estão, respetivamente, 1,14 milhões de pessoas e 235 mil pessoas.

Com as vacinas que estão disponíveis e que estão a chegar a Portugal, não se vai conseguir vacinar estes dois grupos dentro do prazo que era previsto de 31 de março, explicou o coordenador da `task force´.

"Nós estamos num momento de estrangulamento de disponibilidade de vacinas", afirmou Gouveia Melo, sublinhando que "o problema que Portugal enfrenta neste momento" é a dificuldade de aquisição de vacinas.

"Há uma diminuição significativa de vacinas que têm a ver com a disponibilidade mundial de vacinas e tem a ver com o quadro europeu onde Portugal se insere e onde são negociados os processos de aquisição de vacinas", explicou.

De acordo com o responsável, é expectável que no primeiro trimestre se consigam obter 1,98 milhões de doses.

Em Portugal já foram recebidas 503 mil vacinas, 43 mil das quais foram para a Madeira e para os Açores e 460 mil ficaram no continente.

Destas 460 mil que estão no continente, já foram administradas 400 mil vacinas, estando em reserva 60 mil, disse Gouveia e Melo, justificando que há sempre a necessidade de constituir uma reserva de vacinas, para não comprometer a segunda dose.

Para o vice-almirante, a percentagem das vacinas aplicadas "é muito elevada e só não é mais elevada por uma questão de segurança relativamente às segundas doses, o que corresponde a 294 mil primeiras doses aplicadas e 1.06l segundas doses inoculadas, ou seja, na segunda-feira, 106 mil pessoas já estavam "totalmente vacinadas".

Segundo Gouveia e Melo, está a fazer-se uma média de 22 mil vacinas por dia, que é a média de vacinação exigida para se conseguir vacinar ao ritmo que se está a vacinar com as vacinas disponíveis.

"É uma média que ainda não exige soluções para além das soluções que estão estabelecidas e perfeitamente adequadas dentro do Serviço Nacional de Saúde", disse, adiantando que no segundo trimestre essa média vai alterar-se.

"Vai subir para quatro vezes mais, porque haverá praticamente quatro vezes mais vacinas disponíveis e aí eventualmente terão que se montar soluções de vacinação mais rápida, apesar do sistema de saúde ainda conseguir responder a grande parte deste aumento de ritmo", avançou.

No terceiro trimestre, acrescentou, "esse aumento ainda vai ser um bocado superior e, de certeza, que as soluções de alargar não só o processo de vacinação a outros agentes que permitam fazer a vacinação, mas também a postos de vacinação rápida será uma das soluções".

Portugal poderá atingir os 3.000 novos casos diários de covid-19 dentro de aproximadamente duas semanas, estimou esta terça-feira o epidemiologista Manuel do Carmo Gomes.

"Neste momento, estamos a estimar que teremos uma redução a metade do número de casos em aproximadamente 14 dias, o que significa que dentro de aproximadamente duas semanas poderemos chegar à zona dos três mil casos", disse o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade Nova de Lisboa na reunião que decorreu no Infarmed, em Lisboa, onde foi analisada a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal.

Segundo Manuel do Carmo Gomes, a "grande desaceleração" do número de novos casos foi "verdadeiramente" observada entre 28 e 29 de janeiro, o que corresponde, contando com sete dias de atraso, às medidas que foram implementadas a partir do dia 21 de janeiro.

"Só a partir de 31 de janeiro, mas a começar logo a 28 de janeiro a velocidade de aquisição de novos casos começa finalmente a chegar a zero e a descer", disse o especialista na reunião que reúne investigadores, o primeiro-ministro, o Presidente da República, a ministra da saúde, partidos, confederações patronais, estruturas sindicais e conselheiros de Estado.

Manuel do Carmo Gomes sublinhou que foi "a redução drástica dos contágios a partir do dia 21, e não antes, que causa esta descida abrupta em todas as idades".

"A evolução da curva epidémica já está em descida", afirmou, sublinhando que o 'R' (índice de transmissibilidade) tem apresentado uma tendência descendente, neste momento estimado em 0,82.

O investigador explicou que para um determinado nível de confinamento, o 'R' começa por descer e depois tem tendência estabilizar. "Neste momento, ele está negativo, há sinais muito leves de estabilização, temos que esperar os próximos dias para ver".

Mas, acrescentou, "o facto de o 'R' estar com um nível baixo (0,82) significa que o número de casos vai continuar a descer, mas a velocidade a que desce pode parar de aumentar".

O pico da terceira vaga da epidemia de covid-19 foi atingido em Portugal a 29 de janeiro com 1669 casos cumulativos a 14 dias por 100 mil habitantes, com uma "tendência decrescente", disse esta terça-feira André Peralta, da DGS.

Na abertura da reunião do Infarmed, que reúne especialistas, o Presidente da República, o primeiro-ministro, a ministra da Saúde e partidos, André Peralta fez o retrato da situação epidemiológica no país, afirmando que "à data de hoje a situação é mais favorável".

Segundo o especialista, a terceira vaga teve o pico a 29 de janeiro e tem tido uma variação semanal de menos 24%, adiantou diretor de Serviços de Informação e Análise da Direção-Geral da Saúde (DGS), durante a reunião no Infarmed, em Lisboa.

"A região de Lisboa e Vale do Tejo tem, na maioria dos municípios, uma incidência de mais de 960 casos por 100 mil habitantes e em alguns concelhos superior a 1920. À data de hoje a situação é mais favorável", afirmou o especialista da DGS.

Salientou ainda que "há uma progressão da proporção de casos confirmados com a nova variante" associada ao Reino Unido, que tem "maior foco" na região de Lisboa e Vale do Tejo.

Contudo, afirmou, "este nível de confinamento parece suficiente para inverter a tendência mesmo nas áreas onde há maior prevalência da variante inglesa".

"No início de janeiro a epidemia estava em franco crescimento e à medida que nos aproximamos do final de janeiro" começa a haver um decréscimo da incidência por todo o país, à exceção da Região Autónoma da Madeira, adiantou André Peralta.

Relativamente às faixas etárias, o investigador afirmou que há uma "tendência decrescente" em todas as idades e é generalizado pelo território.

As faixas etárias acima dos 60 anos são as que geram "maior preocupação" em termos de hospitalização e de mortalidade.

"O panorama é de um grande aumento da faixa etária mais vulnerável dos 80 e mais anos, que atingiu incidências realmente muito elevadas, e uma manutenção do comportamento das duas faixas etárias 60, 70 e 70, 80 que são tradicionalmente em termos de faixas etárias as mais protegidas em comparação com todas as faixas etárias", explicou.

André Peralta adiantou que o comportamento da faixa etária dos 80 e mais anos ajuda a explicar a pressão sobre os sistemas de saúde.

Segundo o especialista, as hospitalizações em Unidades de Cuidados Intensivos e as hospitalizações totais já apresentam uma indicação da formação de um pico, "mas ainda sem tendência claramente definida".

Relativamente à mortalidade, afirmou que se observou "um aumento bastante expressivo durante o mês de janeiro", quase três vezes em relação ao pico de dezembro, mas já com a formação clara de um pico na primeira semana de fevereiro.

Nas hospitalizações, houve um crescimento no mês de janeiro ao se atingir máximos históricos, assim como em termos de mortalidade, mas já com a inversão a tendência.

O estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) sobre as perceções sociais da pandemia de covid-19 indica que a confiança da população portuguesa face à vacina está a crescer, revelou hoje a diretora da ENSP, Carla Nunes.

"Desde 14 de novembro tem havido um ganho na confiança relativamente à vacina. Temos aqui, no 'tomar assim que esteja disponível' 20% a 13 de novembro e neste momento, a 05 de fevereiro, 75% dos portugueses a dizerem que tomam a vacina assim que esteja disponível. Em termos da confiança, na categoria de 'pouco ou nada' tínhamos 55% a 13 de novembro e temos 12% a 05 de fevereiro. São valores muito positivos", afirmou.

Na apresentação realizada na reunião que decorreu no Infarmed (Lisboa) esta manhã entre especialistas e políticos para a análise da evolução da pandemia, Carla Nunes sublinhou a "recuperação positiva" em todos os indicadores após o período da quadra natalícia, no qual se registou "uma alteração para pior dos comportamentos" preventivos face à propagação do vírus SARS-CoV-2.

Nesse âmbito, a diretora da ENSP apontou a evolução de 76% para 92% a percentagem das pessoas que indicaram utilizar "sempre" a máscara quando saem de casa. Igualmente relevante, segundo Carla Nunes, foi a diminuição de pessoas que disseram sair todos os dias de casa.

"Na frequência de saída de casa sem ser em trabalho, na quinzena que terminou a 11 de dezembro, tínhamos 35% das pessoas a dizer 'todos os dias ou quase todos os dias'. Temos agora, na mais recente quinzena em análise, 15%. Na distância de dois metros na saída de casa tínhamos valores [nas categorias de 'algumas vezes' e 'nunca'] na ordem dos 20% a 08 de janeiro e temos agora 13% a 05 de fevereiro".

Em sentido contrário, sobressai pela negativa a evolução da confiança dos portugueses na resposta dos serviços de saúde ao longo das últimas quinzenas em análise no estudo.

"Há uma diminuição de confiança recentemente. O nível de confiança na capacidade de resposta dos serviços de saúde à covid estava em 25% na categoria 'pouco ou nada' na quinzena que terminou em 25 de dezembro e temos 50% na quinzena que agora acabou", observou Carla Nunes, sublinhando que a perceção 'elevada ou moderada' do risco de ficar infetado com covid numa instituição de saúde passou de 55% no Natal para os atuais 65%.

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