Petrópolis. Mais de 100 mortos e 134 desaparecidos. Situação "quase de guerra"
O governo regional do estado brasileiro do Rio de Janeiro confirmou que a chuva que devastou a cidade de Petrópolis na noite de terça-feira já causou pelo menos 108 mortes.
Num comunicado, o governo local informou que a equipa montada para minimizar os impactos da chuva em Petrópolis confirmou 105 mortos (número registado até as 13:00 desta quinta-feira, horário de Brasília. Mais cinco horas em Lisboa). Entre os óbitos que estão no Instituto Médico Legal (IML), 65 são de mulheres e 36 de homens, sendo que 13 corpos resgatados são de menores. No total, 33 corpos foram identificados.
De resto, há ainda o registo de 134 pessoas que ainda estão desaparecidas, razão pela qual o número de mortos ainda deve aumentar.
Ao todo, 500 bombeiros, 210 polícias militares, 200 polícias civis e nove helicópteros do estado estão mobilizados no local.
O Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro montou um hospital de campanha e há ainda 190 equipamentos, entre maquinaria e veículos, para desobstrução de vias e retomada da rotina em Petrópolis.
Segundo a agência meteorológica MetSul, Petrópolis recebeu mais chuva em poucas horas na noite de terça-feira do que a média de um mês inteiro de fevereiro.
A chuva que assolou a cidade montanhosa foi a pior registada desde 1932, quando começou a medição na cidade pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
De acordo com a Secretaria de Estado de Defesa Civil, há 372 desalojados. Até o momento, foram resgatadas 24 vítimas com vida, enquanto 705 pessoas foram encaminhadas para os 33 pontos de apoio montados na cidade.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, que acompanhou os trabalhos das equipas de resgate nos locais onde ocorreram desabamentos e cheias causados pela enxurrada em Petrópolis, disse aos 'media' que a situação na área é "quase que de guerra".
Castro esteve no Morro da Oficina, onde os desabamentos causaram várias vítimas. "Foi a pior chuva desde 1932. Realmente, foram 240 milímetros em coisa de duas horas. Foi uma chuva altamente extraordinária", deu conta o governador.
A prefeitura de câmara de Petrópolis decretou "estado de calamidade" e luto de três dias.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram carros a ser arrastados pela correnteza e grandes deslizamentos devido à chuva que devastou o local em poucas horas.
Esta não é a primeira vez que a região montanhosa do Rio de Janeiro foi atingida por fortes tempestades. Em 2011 ocorreu a maior tragédia meteorológica alguma vez registada no Brasil, quando as tempestades provocaram mais de 900 mortos e uma centena de desaparecidos em Petrópolis e cidades vizinhas.
Um morador de Petrópolis viu a mulher, o filho e a filha morrerem, sendo que esteve quase a salvar o filho de 21 anos, que lhe escapuliu das mãos.
"Eu cheguei lá e disse-lhe: 'Lucas, vamos descer que está a descer muita água suja com barro, isso vai descer'. Quando eu estava a descer, olhei para cima e parecia neve a vir. Aí corri no sentido contrário, com o meu filho agarrado na minha mão. Ele caiu, agarrado à minha mão, escorregou com os dois pés e escapuliu da minha mão", narrou ao G1, emocionado.
"Eu tinha largado a minha mulher e a minha filha de sete anos aqui. E fui a correr por dentro do mato, gritando 'Eliane, Eliane'... Ela caiu", acrescentou.
Já uma educadora de infância contou que onze crianças de uma creche no bairro de Chácara Flora tiveram de ser retiradas através das grades. "A gente conseguiu, com a ajuda de alguns vizinhos, tirar as crianças pela grade para um campo que há ao lado da creche. Havia uma criança de 3 meses e 20 dias", descreveu, também ao G1.
"Até ao que eu soube ontem [quarta-feira], ainda havia uma criança na casa da vizinha porque os pais não estavam a conseguir chegar. A gente não sabe se os pais estão vivos ou mortos. Não tive muitas notícias porque estão todos sem internet", aditou.
Já uma comerciante testemunhou um autocarro com passageiros ser arrastado para um rio em Petrópolis. "Foi horrível a cena, foi terrível ouvir os gritos das pessoas a pedir ajuda. O motorista tentou ajudar, lutou bastante, mas estava impossível fazer qualquer coisa", contou ao portal brasileiro.