Petróleo e combustíveis a crescer desde novembro
As cotações do petróleo nos mercados internacionais já valorizaram quase 10% no arranque do ano, acréscimo esse que ultrapassa os 40% desde novembro. E tudo indica que assim continue durante mais algum tempo. Más notícias para a carteira dos consumidores, que, só nas duas primeiras semanas do ano, já viram os preços da gasolina aumentados em mais de dois cêntimos e os do gasóleo em um cêntimo. E já no início da próxima semana é esperado que os combustíveis possam sofrer novo agravamento de, pelo menos, dois cêntimos.
A confirmar-se este aumento, significa que os preços da gasolina 95 deverão situar-se, em média, nos 1,45 euros por litro, na próxima semana, e os do gasóleo muito próximos de 1,3 euros. O que significa que abastecer um depósito de 50 litros vai custar qualquer coisa como 72,5 euros num carro a gasolina e 65 euros num a gasóleo, mais 1,5 euros a mais do que na semana de 28 de dezembro a 1 de janeiro. Mas se olharmos para o período pré-pandemia e fizermos a comparação com os preços em vigor há um ano, o ganho está, ainda, do lado do consumidor, já que a gasolina está 10 cêntimos abaixo e o gasóleo quase 13 do valor médio então praticado.
Sobre o crescimento das cotações do petróleo, apesar da pandemia não dar sinais de abrandamento, o secretário-geral da Associação Portuguesa das Empresas Petrolíferas (APETRO) considera que se trata de "fenómenos naturais" nos mercados. "Depois de uma descida muito significativa das cotações em 2020 era sempre expectável que houvesse, mais tarde ou mais cedo, uma correção do mercado", lembra António Comprido, sublinhando que, apesar de tudo, as perspetivas para 2021 continuam a ser de recuperação económica. "Toda a gente ainda tem esperança que 2021 seja melhor do que 2020", diz.
Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, concorda: "O sucesso da vacina traduzir-se-á numa retoma das viagens, especialmente de lazer, que impulsionará a procura de petróleo". No entanto, admite que "dificilmente o consumo voltará para níveis pré-covid".
E se é verdade que petróleo mais alto significa combustíveis mais caros para as empresas e famílias, resultando em preços mais elevados para os restantes bens e serviços da economia, não é menos certo que "significa também mais crescimento económico mundial, mais produção, mais emprego e mais atividade, que acaba por beneficiar positivamente a economia portuguesa que tem um elevado grau de abertura", como destaca Paulo Rosa.
Mas nem todos partilham do entusiasmo do mercado com as perspetivas de recuperação económica. A prová-lo estão as cotações do mercado de futuros para março de 2022, que ontem cotavam, a meio da tarde, nos 52,76 dólares, quando o brent para entrega em março de 2021 estava nos 55,45 dólares o barril. "Significa que quem produz não parece partilhar das expectativas dos investidores e não se importa de vender três dólares abaixo do valor deste ano", diz Ricardo Marques, analista da IMF. Para este responsável, o ajuste da oferta, designadamente pelos cortes decididos pela OPEP e seus parceiros, designadamente a Rússia, é o que está a manter as cotações em alta. E se assim se mantiverem, defende, é possível que rapidamente algum dos produtores decida inverter a estratégia e passar a colocar mais crude nos mercados.
E porque subiu o petróleo mais de 40% desde novembro e os preços ao consumidor apenas 5 a 6%? Pela razão que, quando desce, a variação nos preços não é da mesma ordem de grandeza também. "O crude pesa, apenas, 20 a 25% do preço final dos combustíveis - os impostos valem 65% na gasolina e 59% no gasóleo -, o que significa que, basicamente, só um quinto ou um quarto das cotações se vai refletir no preço final", frisa António Comprido.
Quanto aos desafios do mercado petrolífero para 2021, Paulo Rosa acredita que a procura de energia aumente em 2021, "à medida que a retoma da economia aumenta, nomeadamente na China", mas isso não significa que o ano será fácil para os produtores de petróleo não será fácil. "Enquanto os refinadores de petróleo lidam com a transição energética, a dívida que acrescentaram aos seus balanços para enfrentar a pandemia, nomeadamente algumas empresas nos EUA de "óleo de xisto" podem enfrentar dificuldades se a recuperação do mercado de petróleo ficar abaixo das expectativas", sublinha.
A China, diz, "desafia as tendências", com a procura por produtos refinados em níveis recordes no outono passado, bem como a Índia, "país onde as refinarias já operam junto ao total da capacidade instalada de acordo com relatórios comerciais. E essa mesma procura deve continuar em 2021", frisa o economista sénior do Banco Carregosa.
De qualquer forma, Paulo Rosa duvida que a tendência em alta das cotações se mantenha: "A transição energética e o consumo no novo "normal" são entraves a um desempenho tão positivo do petróleo como aquele que teve nos últimos dois meses", defende.